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Caso Bruno: no 1º dia de júri, goleiro chora e testemunhas são dispensadas

Ex-atleta do Flamengo é acusado de mandar sequestrar e matar ex-amante Eliza Samudio; defesa tenta - sem sucesso - adiar julgamento

Por MARCELO PORTELA E ALINE RESKALLA
Atualização:

CONTAGEM - No primeiro dia do julgamento dos acusados pela morte de Eliza Samudio, o ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes chegou cabisbaixo ao Fórum de Contagem. E assim ficou enquanto via a juíza Marixa Rodrigues negar as tentativas dos advogados de adiar o júri ou retirar dos autos o atestado de óbito da ex-amante - e quando todas as testemunhas de defesa foram dispensadas. No fim da manhã, chorou, depois de ter um trecho da Bíblia que tinha nas mãos apontado por um de seus advogados.Para o assistente de acusação, José Arteiro, "só um milagre" faria Bruno, o "chefe de um esquema criminoso", ser inocentado. Já o advogado Tiago Lenoir, defensor do goleiro, procurou ressaltar que não há nem provas de que o crime tenha ocorrido e destacou o depoimento da única testemunha do dia, a delegada Ana Maria dos Santos. "Em cinco horas, ela não citou Bruno nenhuma vez. Isso mostra que não há provas (de sua participação), que há dúvidas, o que foi muito bom para o réu."Já o ex-atleta adotou postura bem diferente da altivez vista em novembro, quando, após uma série de manobras bem-sucedidas da defesa, o júri foi desmembrado. Dessa maneira, ontem só o goleiro e a ex-mulher, Dayanne Rodrigues do Carmo, processada pelo sequestro e cárcere privado do bebê que o jogador teve com a vítima, foram ao banco dos réus. Em novembro, foram julgados - e condenados - o ex-braço direito do atleta, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e outra ex-amante, Fernanda Gomes de Castro. O ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, será julgado em 22 de abril pela acusação de execução e ocultação do cadáver de Eliza.Ontem, apesar de o julgamento estar marcado para começar às 9 horas, uma série de discussões e questões preliminares atrasou o início da sessão. Apenas no fim da manhã, foi definido o júri que vai julgar Bruno e Dayanne, com cinco mulheres e dois homens, aparentando média de idade em torno de 30 anos. Antes mesmo do sorteio dos jurados, a defesa de Bruno tentou adiar o julgamento. Em uma das questões preliminares, o assistente de acusação Lúcio Adolfo pediu novo adiamento dos trabalhos com o argumento de que há um recurso ainda a ser analisado, pedindo que seja retirado dos autos o atestado de óbito de Eliza. O documento foi emitido em janeiro, por determinação de Marixa, afirmando que a vítima foi morta por asfixia. "Com esse atestado, três quesitos (sobre a morte, a serem analisados pelos jurados) já estão respondidos", observou o advogado Tiago Lenoir. Além do adiamento, os advogados também pediram à magistrada que determinasse a retirada do atestado do processo, mas as solicitações foram negadas.Enquanto ocorria essa discussão, Bruno permanecia todo o tempo ao lado da ex-mulher. Ficaram separados apenas por uma cadeira, mas não trocaram nenhuma palavra. A postura de Bruno era bem diferente da de Dayanne (de cabeça erguida). Ela acompanhou o depoimento da delegada Ana Maria, por exemplo, olhando-a fixamente. Uma das responsáveis pelas investigações, a policial foi a única testemunha ouvida. A maior parte das perguntas feitas pelo promotor foi para confirmar as declarações e as circunstâncias de declarações prestadas no inquérito oficial por um primo de Bruno, Jorge Luiz Rosa. Primeiro a assumir que Eliza foi assassinada em 2010, o rapaz estava com 17 anos. Hoje com 19, foi arrolado como testemunha por acusação e defesa, mas não apareceu.Já a defesa de Bruno tentou principalmente mostrar contradições nas declarações da delegada e falhas na apuração do caso, como o fato de o ex-policial civil José de Assis Filho, o Zezé, ter sido investigado e deixado de lado na conclusão do inquérito. Por determinação do MPE e da Corregedoria-Geral da Polícia Civil, uma "investigação suplementar" está em curso para apurar a possibilidade de participação de Zezé e de outro ex-policial, Gilson Costa, no crime. Costa já é réu ao lado de Bola em outro processo, no qual são acusados de matar e sumir com os corpos de dois homens.Recurso. A defesa de Bruno havia arrolado cinco testemunhas, mas como duas não compareceram optou por dispensar as demais e se fixar "nas contradições" dos depoimentos de acusação. No caso do primo de Bruno, não é possível nem mesmo pedir que a polícia busque o rapaz, pois ele mora em outra cidade e, mesmo intimado, não é obrigado a comparecer ao julgamento. A defesa ainda deve ouvir uma testemunha de Dayanne e vai insistir na tese de que Eliza não morreu. "Por isso, pedimos a retirada do atestado de óbito. E possivelmente vamos recorrer depois", observou Lenoir.

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