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Cartaz do Metrô de São Paulo limpa Sacomã digitalmente

Campanha publicitária do Plano de Expansão apagou até imóvel vizinho que ficou com rachadura após obra

Por Bruno Ribeiro
Atualização:

SÃO PAULO - Para embelezar a nova estação Sacomã, na zona sul, inaugurada no final de janeiro, a campanha publicitária do Metrô apagou imóveis vizinhos à estação, faixa de pedestres e até postes e fios elétricos da foto que estampa os cartazes de divulgação da obra, espalhados pelas outras estações da rede. Um dos imóveis apagados, um prédio de 12 apartamentos, está com rachaduras e ficou torto após a construção da estação. E até agora os moradores não sabem se o Metrô pagará a reforma.

 

 

 

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As fotos da propaganda têm um laço de presente verde (a cor da linha que percorre o Sacomã), não trazem nenhuma mensagem informando que a imagem é ilustrativa ou que passou por tratamento digital. Quem vê é induzido a acreditar que aquela imagem é mesmo a da estação. As fotos também não mostram uma garagem do Metrô que faz parte da estação. Em alguns dos cartazes, ela foi substituída por um pequeno prédio, que estaria ao fundo da estação, e simplesmente não existe.

 

Além do prédio torto, a foto também apagou os ventiladores de uma fábrica instalada no fundo da estação, trocou o formato de uma árvore e também sumiu com um semáforo para pedestres instalado em frente à entrada.

 

Para o professor de propaganda Paulo Andre Bione, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o fato de a foto apagar imóveis é "abuso". Ele afirma que o Photoshop (programa que altera imagens) é uma ferramenta publicitária importante e que a publicidade tem o papel de "embelezar a realidade", mas não alterá-la. "Eu não tiraria um poste", diz. "O que se pode fazer é mudar o Sol, se não estiver em um dia bonito, realçar o verde (da vegetação). Fazer correções, não enganar as pessoas."

 

Um levantamento feito pela bancada do PT na Assembleia Legislativa, à pedido do JT, mostra que, só no ano passado, o Metrô assinou contratos de publicidade que, somados, dão R$ 56 milhões. É quase dez vezes o que era gasto, por ano, em média, até 2008: R$ 5,4 milhões, segundo o relatório.

 

RACHADURAS

 

Um morador do prédio apagado da foto disse que, durante a obra, o Metrô pagou alguns vidros que se quebraram quando as fundações eram feitas e por outros pequenos reparos. Entretanto, o terraço ficou com rachaduras e, quando chove, a água chega aos apartamentos. Eles tiveram de passar impermeabilizante no terraço para evitar mais transtornos.

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Fora isso, o edifício se descolou do vizinho e tombou alguns centímetros para a direita (em direção à estação) e, agora, a água vai em direção oposta ao ralo.

 

METRÔ: HOUVE UM 'RETOQUE'

 

O Metrô negou que a foto acima seja uma montagem. Segundo a companhia, o que houve foi um "retoque" para destacar a obra. "A foto foi retocada para destacar a imagem que é objeto do anúncio, ou seja, a estação Sacomã. O retoque destaca a arquitetura da estação", diz a empresa. O Metrô foi questionado, mas não disse qual foi a vantagem para a população em ver anúncios de uma obra pronta que não são iguais à realidade.

 

Já sobre os danos que ficaram em um dos imóveis apagados da fotografia, apontados por moradores, o Metrô disse que "monitorou, a exemplo do que faz em outros casos, as rachaduras para descartar possíveis riscos à segurança do edifício.

 

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O setor de relacionamento com a comunidade e os engenheiros responsáveis pela obra fazem reuniões periódicas com o conselho de moradores. Com a conclusão da obra, o Metrô realiza as últimas vistorias e análises necessárias para tomar as providências cabíveis."

 

Com relação aos gastos com publicidade, o Metrô disse que eles "acompanharam o aumento dos investimentos no setor" e que, desde 2007, a companhia tem investido R$ 21 bilhões na expansão do sistema de transportes. A propaganda, diz o Metrô, é "uma maneira eficiente para comunicar à população sobre os benefícios que o Plano de Expansão tem proporcionado."

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