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Carnavalescos chegam a faturar R$ 400 mil por carnaval

Profissionais são responsáveis por materializar uma história em desfile

Por Edison Veiga , Marina Azaredo e Monica Reolom
Atualização:

Assim como o futebol, faz tempo que o carnaval perdeu sua inocência. Ao menos nas escolas de primeira linha, com gordos orçamentos garantidos pelas prefeituras, patrocinadores e direitos de transmissão da TV, o samba é um negócio profissional, cheio de gente bem remunerada. O carnavalesco, por exemplo, grande responsável por materializar uma história em desfile chega a faturar de R$ 400 mil por carnaval - o que dá mais de R$ 30 mil por mês. "É como passe de jogador de futebol", afirma André Machado, da Pérola Negra.

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Diversos diretores de escolas confirmaram ao Estado essas cifras, em conversas ocorridas nas últimas semanas. "No Rio, o valor pode ser ainda maior", disse Eduardo dos Santos, presidente da Acadêmicos do Tatuapé. Ou seja: o mercado do ziriguidum está aquecido. Por causa das novas tecnologias e da injeção de patrocínios, o carnaval tem se tornado a cada ano mais criterioso, caminho que também acaba sendo seguido pela mão de obra. "É uma tendência natural que os carnavalescos se tornem cada vez mais profissionais", analisa Alberto Ikeda, professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista e pesquisador do carnaval.

André Machado, de 40 anos, que começou a carreira de carnavalesco aos 19 anos no Rio, afirma que o valor pago a esse profissional é em média 10% de toda a verba que a escola arrecada. "Se vai fazer um carnaval de R$ 1 milhão, o carnavalesco recebe R$ 100 mil", exemplifica. O valor varia muito dependendo dos patrocínios e repasses da Prefeitura.

Considerado um prodígio dentre os carnavalescos, o jovem Sidnei França, de 33 anos, há 6 anos é responsável pelo enredo da Mocidade Alegre, campeã de 2013. Segundo ele, há bastante discrepância na remuneração desses profissionais. "Tem carnavalescos que ganham R$ 300 mil, R$ 400 mil por carnaval, tem outros que ganham R$ 60 mil. Olha a diferença. Mas aí vai depender do resultado que ele traz, do porte da escola, da situação financeira da escola, se é uma escola que costuma ter patrocínio, porque engorda a receita dessa escola", compara.

Formação. França é morador do bairro da Casa Verde e ligado à Mocidade desde a infância. Chegou a cursar Economia, mas não terminou a graduação. Antes, foi convidado a assumir o carnaval da escola pela qual já era apaixonado - quando o então ocupante do cargo, Zilkson Reis, atualmente na Gaviões da Fiel, saiu. "Na época, eu trabalhava em uma empresa de segurança. Foi um acidente em minha vida. Mas eu me envolvi demais", comenta. "Hoje sou carnavalesco 24 horas por dia. Como o menino apaixonado por futebol que joga bola o dia todo e, quando dorme, sonha com o Maracanã."

André Machado, ao contrário, nunca teve outra profissão que não fosse de carnavalesco. Ao assistir ao desfile de uma escola de samba no Rio, aos 7 anos, ele disse ter afirmado à mãe que queria "de qualquer forma" trabalhar na área. Aos 13, escreveu o primeiro enredo e apresentou na escola, com desenhos. "Não iam contratar um carnavalesco com essa idade, mas me seguraram para ser figurinista da escola Em Cima da Hora (em que o pai era passista) e desde então nunca mais parei". Tornou-se carnavalesco de fato aos 19. E para quem pensa que trabalhar com carnaval é sinônimo de folga na maior parte do ano, Machado ensina: "Eu faço a pesquisa, desenho todas as fantasias de ala e dos carros e ainda faço uma peça piloto de cada fantasia. E por isso geralmente começo a apresentar o enredo no mês de maio, sem parar até a festa de carnaval", afirma.

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