07 de fevereiro de 2020 | 15h40
SÃO PAULO - Uma mulher de maiô brilhante e adereços na cabeça samba ao lado de um rapaz de chapéu, sapato branco e colete igualmente glitterizado. Tudo acompanhado do soar de dois surdos, um ganzá, uma caixa, um repique e um tamborim. A cena mais lembra um ensaio de pré-carnaval, mas vem se repetindo quase diariamente em unidades paulistas de uma rede de academias, que firmou parceria com uma escola de samba para realizar “aulões”.
Se a relação da atividade física com o carnaval é consolidada entre integrantes de agremiações e celebridades, essa aproximação também está ganhando espaço entre aqueles que têm uma relação menos devota com a folia. Isso ocorre especialmente por meio de aulões de ritmos típicos dessa época do ano em escolas e academias de dança, mas também está representado na programação oficial do carnaval da cidade.
É o caso da Academia Atitude Fitness, que costumava fazer aulas temáticas em fevereiro, mas decidiu ir um pouco além e fundou um bloco de carnaval há três anos. O Bloco Atitude desfila ao som de marchinhas e sambas-enredo populares no distrito do Ipiranga, na zona sul, acompanhado de ritmistas do Acadêmicos do Parque Bristol.
“Antes o bloco se chamava Marombeiros de Atitude, mas trocou. Marombeiro, marombeiro, não ia quase ninguém, um ou outro era mais forte. A maioria é mais magrinho mesmo, até porque a maioria do público da academia tem mais de 40 anos”, conta Edison Moreno, de 38 anos, idealizador do bloco e proprietário da Atitude. “Mas a ideia é atingir as pessoas do bairro, não só público de academia.”
A expectativa é que o bloco reúna de 200 a 250 pessoas, com a realização de uma aula de fit dance durante o desfile. Um dos pontos altos deve ser o momento em que os músicos tocam a marchinha da agremiação, cuja letra começa assim: “Vai começar a diversão/ Espero que esteja aquecido/ Vamos fazer musculação/ E não quero ver ninguém dolorido/ Se joga no nosso bloco.”
A rede de academias Bio Ritmo também mantém uma parceria carnavalesca, no caso para 27 aulões temáticos com passistas e ritmistas da Rosas de Ouro. As coreografias e a música são elaboradas especialmente para a atividade, que ocorre em unidades diferente em datas de janeiro e fevereiro.
A primeira metade da aula é exclusiva de samba instrumental, enquanto a outra é de axé e sambas-enredo cantados por um puxador da escola, com direito a trenzinho, ciranda e quadrilha. Na aula que o Estado visitou, o local era decorado com máscaras, sombrinhas de frevo e outros ornamentos, além de ter luzes coloridas.
Três professores ensinam os passos, acompanhados de passistas, a alunos que vestiam abadás da academia sobre leggings, tops e outros trajes esportivos. Mais de 30 mulheres e outros três homens dançavam, enquanto eram fotografados e espiados por colegas curiosos. “Nossa, essa sala vai ficar pequena. Vou entrar só para filmar”, disse uma mulher, que acabou permanecendo em parte da aula. No começo, alguns sambavam com o celular na mão.
O professor de Educação Física Erich Soares, de 32 anos, explica que o aulão é uma forma “divertida” de fazer exercício físico. A atividade dura 45 minutos e pode queimar até 700 calorias de uma vez.
A maioria dos participantes usava tênis de corrida, mas a professora de inglês Adriene Zigaid, de 48 anos, preferiu uma sandália glitterizada e com salto de uns 9 centímetros. “Nunca vim de salto na academia antes, vim porque é uma aula especial, uma brincadeira, um divertimento”, comenta.
A designer de sobrancelhas Celma Soares, de 34 anos, aproveitou a atividade para fazer selfies e, também, aprendeu alguns passos para aproveitar os blocos de rua. “Carnaval agora é o mês inteiro”, diz. Já o comprador Thales Mora, de 32 anos, era um dos três únicos homens da aula. “Acho que tem pouco por vergonha e preconceito. Muitos morrem de vontade.”
Escolas de dança também têm investido em atividades temáticas, mesmo aquelas que não têm relação com ritmos carnavalescos, como a Pé Descalço, que é especializada em forró. “A ideia é sempre incentivar a dança e o movimento no geral. Através da dança a gente pode gerar mais saúde, e também trazer um pouco dessa alegria”, explica Amanda Mota, de 34 anos, uma das sócias do espaço.
Ela explica que a escola já havia realizado uma aula de samba e um evento temático no carnaval passado e que, com a procura, a programação de 2020 inclui mais dois eventos. Até o baile mensal muda de cara, com direito a concurso de fantasias. Nas aulas especiais, por sua vez, o foco é ensinar coreografias de hits que costumam fazer sucesso nessa época, especialmente axé e funk.
“Às vezes, (durante o carnaval) as músicas tocam e as pessoas não sabem muito o que fazer. Algumas pessoas não têm tanta facilidade, (a aula) ajuda a ganhar um pouquinho de coordenação”, explica Amanda. “Também ajuda a socializar, a pessoa perde a vergonha de samba, até por ser um ambiente de escola, todo mundo quer aprender e entende que ninguém dança desde que nasceu.”
Aulão de ritmos ‘em clima de Carnaval’, na Escola Pé Descalço
Data: 8 de fevereiro (sábado)
Horário: das 14h30 às 15h30
Endereço: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 760 - distrito Pinheiros
Custo: R$ 10
Mais informações: pedescalco.com.br
Desfile do Bloco Atitude
Data: 15 de fevereiro (sábado)
Horário: das 13 às 18h horas
Endereço: saída da Rua Gaspar Fernandes, 274 - distrito Ipiranga
Mais informações: academiatitude.com
Bio Samba Show (exclusivo para alunos e acompanhantes)
Datas: até 18 de fevereiro
Endereço: unidades variadas na capital e na região metropolitana de São Paulo
Mais informações: bioritmo.com.br
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