Canções e guerra mostram a poesia além da barbárie

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Por Redação
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Carlos Drummond de Andrade"(....) Muitos de mim saíram pelo mar. Em mim o que é melhor está lutando. Possa também chegar, recompensado, com o russo em Berlim. Mas que não pare aí. Não chega o termo. Um vento varre o mundo, varre a vida. Este vento que passa, irretratável, com o russo em Berlim. Olha a esperança à frente dos exércitos, olha a certeza. Nunca assim tão forte. Nós que tanto esperamos, nós a temos com o russo em Berlim."Guilherme de Almeida"(...) Por mais terras que eu percorra, Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá; Sem que leve por divisa Esse "V" que simboliza A vitória que virá: Nossa vitória final, Que é a mira do meu fuzil, A ração do meu bornal, A água do meu cantil, As asas do meu ideal, A glória do meu Brasil."A guerra mobilizou poetas em todo mundo e virou música. O poeta Guilherme de Almeida é o autor da letra da famosa Canção do Expedicionário, transformada em hino da FEB. A tropa brasileira teve vários compositores entre seus homens, como o sambista Natalino Cândido da Silva, autor do samba Pro brasileiro, alemão é sopa.Fora do Brasil, o poeta W.H.Auden, que viveu o conflito civil na Espanha, reencontrou o sofrimento com a invasão da Polônia e o descreveu em September 1, 1939 - "The unmentionable odour of death/ Offends the September light". O chileno Pablo Neruda reagiu a Hitler com o Novo Canto de Amor a Stalingrado. Aqui, a guerra entrou em A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade. Exemplo é o poema Com Russo em Berlim.Apesar de não abrigar um movimento, como os war poets ingleses da 1.ª Guerra Mundial, o Brasil teve soldados poetas, como Geraldo Camargo de Vidigal. Em Trincheira, ele descreve os "cem homens nas trincheiras/ (...), cada qual com sua noite,/ sem luar". O conflito ainda influenciou Cecília Meireles. É dela a homenagem aos pracinhas Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro ("Suas armas foram partidas/ ao mesmo tempo que seu corpo").Nas mãos deles, a poesia não foi inócua, nem se fez ato de barbárie, como o filósofo Theodor Adorno pensou que seria após Auschwitz. / M.G.

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