Câmara de SP libera adiamento da revisão do Plano Diretor até 31 de julho

Redução de prazo originalmente pedido pela gestão Nunes foi acordada em emenda; mudança é criticada por entidades e integrantes de conselho municipal

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Por Priscila Mengue
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A Câmara Municipal de São Paulo aprovou na quarta-feira, 9, o adiamento da revisão do Plano Diretor para 31 de julho do próximo ano. A aprovação em segundo turno trouxe uma emenda que reduziu em cinco meses o prazo originalmente permitido pelo PL, enviado pela Prefeitura

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O prolongamento até 2022 teve 44 votos favoráveis, seis contrários e uma abstenção. Já a emenda que fixa o prazo até o fim de julho – assinada por cerca de 23 vereadores – teve 45 favoráveis e seis contrários. 

Oprolongamento do prazo alterará um artigo do atual Plano Diretor, que exige o envio da revisão aos vereadores até o fim de 2021. De número 742/21, o PL terá a redação final elaborada em uma reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa (CCJ) marcada para segunda-feira, 13. Após, será enviado para sanção do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

O prazo de sete meses foi criticado em carta assinada por parte dos integrantes do Conselho Municipal de Política Urbana (CMPU), que havia acordado o adiamento por um ano em reunião com a Prefeitura, na qual pedem que Nunes vete o PL. A proposta prevista na comissão permitia um segundo prolongamento por mais um ano em caso de excepcionalidade, como um novo agravamento da pandemia, por exemplo. 

A Frente São Paulo pela Vida — que reúne cerca de 500 entidades e movimentos sociais — também criticou a mudança no prazo, cujo prolongamento tem defendido desde maio. Destacou que a aprovação ocorre sem “sequer apresentar um cronograma da revisão ou até mesmo considerar o debate sobre metodologia”.

Ao Estadão, o secretário municipal de Urbanismo e Licenciamento, César Azevedo, afirmou que a Prefeitura irá elaborar um cronograma para se adaptar ao novo prazo, o qual será apresentado ao CMPU. “Até julho do ano que vem, a gente vai concluir esse processo (de revisão).”

Ele destacou que as contribuições recebidas até agora não serão “desperdiçadas”. Além disso, justificou a necessidade do pedido de adiamento especialmente pela judicialização do contrato para diagnóstico de resultados do Plano Diretor. Além disso, ressaltou a possibilidade de realização de audiências públicas e outras atividades presenciais no ano que vem, com a possível melhora nas taxas de transmissão da covid-19.

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Verticalização da Avenida Rebouças e outras vias próximas de estações de Metrô foi incentiva pelo atual Plano Diretor; revisão da lei foi adiada até 31 de julho Foto: Felipe Rau/Estadão - 14/09/2021

Os votos contrários foram dos representantes do PSOL. Na votação, Silvia da Bancada Feminista (PSOL) argumentou que o projeto não contempla o que foi acordado com o CMPU. “Somos favoráveis sim ao adiamento do Plano Diretor, mas não da forma que veio escrito. Da forma que veio, como vem escrito, não está garantido que tenha a legítima participação popular", destacou a vereadora.

O vereador Paulo Frange (PTB) argumentou que há condições de garantir a participação popular, com audiências presenciais e híbridas, no primeiro semestre. Já Eduardo Suplicy (PT) disse que a bancada de seu partido avaliou que os sete meses de prorrogação atendem "em boa parte as recomendações do Conselho Municipal de Política Urbana". O presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), também já havia defendido publicamente um prazo menor, para que o processo de revisão ocorra integralmente no próximo ano. 

Suspensão de contrato motivou pedido de adiamento pela Prefeitura

Ao longo de quase todo ano, a Prefeitura defendeu enviar a revisão à Câmara ainda em 2021. No fim de outubro, contudo, a gestão Nunes voltou atrás e apresentou uma proposta de adiamento em reunião do CMPU, o que foi acatado pelos conselheiros.

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Um dos motivos do adiamento foi a suspensão judicial de um contrato de assessoramento e consultoria firmado com a Fundação para o Desenvolvimento da Engenharia (FDTE). A Justiça entendeu que a organização havia sido contratada sem licitação, por R$ 3,5 milhões, o que impactou nos trabalhos de avaliação dos resultados do atual Plano Diretor.

"A suspensão da contratação em sede de tutela recursal, ocorreu em momento crucial para o cronograma da revisão e, consequentemente, para o cumprimento do prazo legal. (...) Assim, não obstante todos os esforços já envidados, o cumprimento do prazo legal restou materialmente inviável, razão pela qual a iniciativa pretende a sua prorrogação para o exercício de 2022", justificou a Prefeitura ao apresentar o PL. O Plano Diretor é a lei que determina as regras e os incentivos de desenvolvimento urbano da capital paulista. Ele foi um dos incentivadores, por exemplo, da redução de garagens em edifícios residenciais nos últimos anos e da verticalização de bairros nas proximidades de estações de Metrô. O atual está previsto em lei de 2014 e se estende até 2029.

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