O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afastou ontem o coordenador da Secretaria de Segurança Pública e sociólogo Túlio Kahn. Ele é acusado de negociar por meio de uma empresa da qual é sócio dados de violência tratados pelo governo como sigilosos. Kahn era chefe da Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP) da pasta, órgão responsável pelas estatísticas criminais do Estado. Alckmin disse que a atividade empresarial do ex-coordenador era "incompatível" com o cargo que ocupava. "Ele fez um bom trabalho nessa área de estatística, interpretação de todos os índices de segurança de São Paulo. É um profissional competente. Mas essa atividade empresarial dele é incompatível com o cargo que ocupa, então será substituído hoje em suas funções", disse Alckmin.Reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostrou que Túlio Kahn é sócio da empresa Angra, que prestava consultoria com dados de violência a grupos da iniciativa privada e a empresas públicas, como a Empresa Paulista de Planejamento Urbano (Emplasa). O sociólogo informou ao jornal que criou a empresa por "sugestão" do governo estadual, informação rebatida por Alckmin. "Imagina se o governo vai recomendar alguém para ter uma atividade paralela."Os dados seriam vendidos por até R$ 250 mil. Até 2002, os números de crimes em bairros e ruas eram divulgados pela secretaria. A partir de então, o governo passou a se negar a divulgar os dados. Na época, Alckmin estava em seu primeiro período como governador do Estado.Era 2003 quando Kahn teria recebido de Elaine Manzano, assessora e ex-braço direito do então secretário da Segurança e atual secretário de Logística e Transportes, Saulo de Castro Abreu Filho, a sugestão para abrir a empresa. Ao deixar a secretaria, em 2007, Elaine foi trabalhar na Emplasa, que contratou em 2008 a empresa de Kahn para fornecer um relatório sobre crimes em Campinas. Elaine não foi encontrada pela reportagem.Ao Estado, o sociólogo afirmou que vai se defender por meio de seus advogados e negou ter cometido ilegalidade. O secretário da Segurança, Antônio Ferreira Pinto, disse que conversou com o governador e disse a Alckmin que não havia mais condições de Kahn ficar no cargo. Ferreira Pinto afirmou que encaminhou o caso ao Ministério Público Estadual, que deve apurar eventual improbidade administrativa. A atuação de Kahn será ainda alvo da Corregedoria Geral da Administração.