Encontrado no metrô de São Paulo há um ano e meio, um menino haitiano de 13 anos se transformou em vítima da burocracia internacional. Retirado do Haiti com a promessa de que reencontraria a mãe na Guiana Francesa, a criança caiu nas mãos de traficantes de pessoas. Agora, a criança não consegue passaporte haitiano nem visto francês, apesar dos esforços brasileiros. Responsável pelo caso há um ano, o juiz titular da Vara da Infância e Juventude da Penha, Paulo Fadigas, já determinou a reintegração do menino à mãe, mas a decisão não teve efeito. O passaporte para estrangeiros feito no Brasil não é aceito pela França, que por isso diz que não pode dar visto para o garoto. A mãe do menino está impedida de deixar a Guiana Francesa, por estar em situação irregular. O Haiti não concedeu um passaporte, porque alega que o menino não tem documentos. "Fizemos um exame de DNA e comprovamos que ele é filho de Dieula Goin, haitiana, mas até agora não havia sido suficiente", disse Fadigas. "Na semana passada, a embaixada em Brasília nos informou que vai conceder o passaporte, mas ainda deve demorar."Segundo o embaixador do Haiti, Idalbert Pierre-Jean, a resposta deve levar pelo menos duas semanas; só depois será possível pedir passaporte. "Mandamos tudo para o Haiti e pedimos que, por ser um caso humanitário, se faça o possível para que o menino saia dessa situação." Mesmo que o passaporte seja concedido, o visto francês não será dado a menos que a mãe consiga a regularização. Ela obteve só um recibo afirmando que ela havia entrado com um pedido para a carta de permanência. Há algumas semanas, otimista, Dieula mostrou ao juiz o que considerava já ser sua carta de permanência, mas era apenas o recibo. "Quando ela se deu conta de que ainda demoraria, chorou muito", conta Fadigas. "Ela também não pode pedir a reunião familiar porque não está legalizada." O fato de Dieula não ter pedido reunião com o filho é usado pela embaixada da França como um dos motivos para não acelerar a permissão de entrada da criança. A embaixada francesa admite que, mesmo depois da regularização, pode levar até um ano e meio para que chegue a permissão de entrada na Guiana. "O bem estar da criança é muito importante para o governo da França. É preciso analisar se a família tem condições de receber essa criança", disse ao Estado o conselheiro de imprensa da embaixada em Brasília, Stephane Schorderet. Espera. As confusões burocráticas prendem o menino em um abrigo para crianças abandonadas. Fadigas diz que é clara a falta que o garoto sente da mãe, apesar de frequentar a escola, ter acesso a assistência médica e psicológica.A cada 15 dias a criança conversa com Dieula por meio de videoconferência. Mas já precisa de um tradutor, porque não fala mais creole, só português. Tímido, ele tem dificuldade de se integrar.