Bombeiros acham primeiro corpo de vítima do desabamento no Paiçandu

Corpo, levado ao Instituto de Criminalística, foi localizado junto com cinto de segurança usado no resgate e pode ser de Ricardo Oliveira Galvão Pinheiros

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Por Juliana Diógenes e Isabela Palhares
Atualização:
Corpo foi retirado dos escombros nesta sexta-feira Foto: Amanda Perobelli/Estadão

SÃO PAULO - O Corpo de Bombeiros encontrou o corpo de uma possível vítima do desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, atingido por um incêndio na madrugada de terça-feira, 1º, no Largo do Paiçandu, no centro da cidade de São Paulo. Segundo o comandante Max Mena, os bombeiros localizaram, inicialmente, uma perna. 

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É provável, segundo Mena, que o corpo encontrado seja de Ricardo Oliveira Galvão Pinheiros, de 39 anos, o rapaz que caiu após tentativa de salvamento pelo Corpo de Bombeiros na madrugada de terça. Um cinto de segurança usado no resgate foi localizado junto com os despojos. A identidade da vítima, porém, não foi confirmada. O anúncio sobre a localização do corpo foi feito na tarde desta sexta-feira, 4. 

"Não podemos afirmar ainda porque encontramos somente a perna. O resto do corpo ainda está totalmente soterrado", disse Mena, no início da tarde. "Ele estava com certeza embaixo de pelo menos dez lajes", explica. Segundo os bombeiros, a perna não estava carbonizada. 

Maquinário pesado passou a ser utilizado no trabalho dos bombeiros 48 horas após o desabamento do edifício Foto: Juliana Diógenes/Estadão

++++ Curto-circuito no 5º andar deu início ao incêndio no prédio do Largo do Paiçandu

Uma hora após o anúncio oficial do corpo localizado, o secretário da Segurança Pública Mágino Alves esteve no local e disse que será feito um exame papiloscópico para identificar o corpo pelas digitais. O corpo era tatuado e teve as digitais preservadas. Segundo Mágino, o corpo foi encontrado próximo ao Quadrante 1, próximo à Igreja Evangélica Luterana, onde os bombeiros intensificaram as buscas por desaparecidos. Na região, ficava a escada do prédio.

No local onde a perna foi encontrada, conforme o secretário, havia uma blusa de capuz azul escuro com inscrição nas costas. Apesar de ser um corpo com várias tatuagens, assim como o de Ricardo, o secretário explica que ainda não é possível afirmar que seja a vítima. "O corpo não está totalmente preservado. A cabeça da vítima ainda não foi localizada, nem todos os membros foram encontrados. O corpo demonstrou dilacerações decorrentes da queda, mas não vi nenhum sinal de queimaduras", explicou o secretário.

"Em pouquíssimo tempo, vamos colher as impressões digitais dessa vítima e vamos fazer o confronto com o padrão na nossa base de dados", disse Alves. O corpo foi levado ao Instituto de Criminalística. A cadela Vasty, uma pastora belga de 5 anos, indicou o local em que o corpo foi encontrado por volta das 14 horas de quinta-feira, 3. "Em razão dessa mudança de comportamento, é que a gente conseguiu fechar um pedaço menor na nossa busca", diz.

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Resgate. O comandante Mena afirma que os trabalhos de resgate de desaparecidos e retirada dos escombros ainda devem durar uma semana. "Vamos continuar acreditando até chegar ao segundo subsolo. Apesar do uso de máquinas, o trabalho é realizado com extremo cuidado", diz. 

Nesta manhã, uma lona azul foi instalada nos fundos do edifício, próximo ao prédio Caracu, para a proteção dos bombeiros."Colocamos para evitar escorregamentos e que escombros caiam sobre os bombeiros", afirma Mena.

Os bombeiros ainda buscam por Selma Almeida da Silva, de 48 anos, e seus dois filhos gêmeos (Welder e Wender, de 9 anos), que estariam no 8° andar do prédio. Também entraram na lista oficial de desaparecidos mais duas pessoas: Eva Barbosa Silveira, de 42 anos, e Valmir Souza Santos, de 47. No total, 49 pessoas não foram encontradas.

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O prédio, de 24 andares, desabou durante um incêndio de grandes proporções no Largo do Paiçandu, no centro de São Paulo, na madrugada de terça-feira, 1º. Segundo a Polícia Civil, um curto-circuito em um barraco no 5º andar deu início ao incêndio

A informação foi anunciada após a polícia localizar e ouvir a moradora Walkiria Camargo do Nascimento, que morava no apartamento onde o fogo começou. Segundo as investigações, havia um micro-ondas, uma geladeira e uma televisão conectados a uma única tomada, o que deu origem ao curto-circuito e, em seguida, a uma explosão.

Na hora, Walkiria estava no barraco com o marido, Pedro Lucas de Sampaio Viana Ribeiro, de 32 anos, e dois filhos, de 3 anos e 10 meses. Todos dormiam.

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Os moradores só teriam percebido o incêndio com o fogo já avançado. Segundo depoimento, Walkiria conseguiu resgatar a caçula e descer pelas escadas.

A outra criança, Maria Cecília, sofreu queimaduras e está na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital das Clínicas, em estado gravíssimo. O pai queimou dois terços do corpo e também está internado, entubado, na Santa Casa de São Paulo.

INVESTIGAÇÃO SOBRE A TRAGÉDIA

Causas Um curto-circuito em um barraco no 5º andar deu início ao incêndio no Edifício Wilton Paes de Almeida, segundo a polícia. Um casal e duas crianças moravam na área onde começou o fogo. 

Estrutura Laudo feito da Prefeitura de janeiro do ano passado atesta que o imóvel “não reunia condições mínimas de segurança contra incêndio”, por causa das instalações elétricas precárias.

Vistoria Após o desabamento, a Prefeitura quer vistoriar 69 locais ocupados por movimentos de moradia - a maioria no centro. A ideia é verificar riscos de incêndio. 

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Investigação O Ministério Público Federal abriu dois inquéritos sobre o caso. Um vai investigar atos de improbidade administrativa. O outro vai acompanhar o atendimento às famílias que viviam no prédio, como realocação e indenizações. A Polícia Civil vai investigar a cobrança de “aluguel” de moradores de ocupações na cidade. 

Desaparecidos Um corpo foi achado até agora e, na lista oficial, há cinco desaparecidos. No total, 49 pessoas ainda não foram localizadas. 

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