Bolsões de crack tomam locais nobres e pontos históricos

Barracas improvisadas com saco de lixo servem de abrigo para usuários na Sé; consumo é ao ar livre na Avenida Paulista

PUBLICIDADE

Por Marcel Naves
Atualização:

Bolsões de usuários de drogas estão surgindo até mesmo em centros históricos e bairros nobres. Em locais como a Avenida Paulista, a Rua da Consolação e a Praça Roosevelt, o consumo de droga é feito ao ar livre. Na Praça da Sé, onde estão localizados o Tribunal de Justiça de São Paulo e o quartel do Corpo de Bombeiros, a situação é crítica, como constatou a reportagem da Rádio Estadão.Barracas improvisadas com saco de lixo servem de moradia e de abrigo para o consumo de crack na Sé. Os comerciantes da região, que preferem não se identificar por questão de segurança, se queixam de abandono. Dependentes químicos que frequentam o local falam sobre as regras de convívio. Selma, de 43 anos, que é mãe de um bebê de 5 meses, vive de doações. "Vou esperar a comunidade chegar para trazer umas cobertas, aí a gente dorme" conta.Para enfrentar o frio, Claudio, de 34 anos, utiliza o material que estiver mais próximo e não abre mão de bebida. "A gente se vira com o que tiver, plástico ou papelão. O importante é ficar acordado, por isso a gente bebe cachaça", diz ele. Também no Glicério, na Santa Efigênia e na Nova Luz, na região central, as "cracolândias" crescem diariamente. Em Santana, na zona norte, onde o consumo de crack ocorre ao ar livre, não é raro o registro de assaltos. Procurada, a Polícia Militar de São Paulo não quis se pronunciar.Combate. À Rádio Estadão, o prefeito Fernando Haddad (PT) garante que o combate às "minicracolândias" é feito. "Fizemos várias ações de desmanche de instalações em praça pública, com muita efetividade, agora estamos incorporando a área da saúde, pois no caso do crack não se trata de um morador de rua usual, é uma pessoa que tem um problema adicional", afirma Haddad.Na avaliação do psiquiatra Ronaldo Laranjeiras, coordenador do Projeto Recomeço (focado no atendimento a dependentes químicos), a situação deixa evidente que as políticas de combate às drogas do poder público ainda estão longe de alcançar o seu objetivo. Laranjeiras classifica como "vergonhosa" a existência de cracolândias. Segundo ele, em "nossas fronteiras com a Bolívia, que é um dos maiores produtores de cocaína e exporta para o Brasil, não existe praticamente nenhum tipo de restrição". "Qualquer um ficará ofendido em saber que numa cidade como São Paulo ainda exista algo chamado cracolândia", diz.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.