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Boituva: grupo é socorrido após queda de balão no interior de SP

Os nove ocupantes foram socorridos e levados para hospitais da região; acidente de avião deixou dois mortos na mesma região na semana passada

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Por Redação
Atualização:

Um balão tripulado que partiu do Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), em Boituva, interior de São Paulo, na manhã desta terça-feira, 17, foi surpreendido por uma rajada de vento e fez um pouso forçado às margens da rodovia Castelo Branco, na altura do km 104, em Porto Feliz, município vizinho. As nove pessoas que estavam no balão - o piloto, um fotógrafo e sete passageiros - foram socorridas com ferimentos, duas delas em estado mais grave. 

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De acordo com a prefeitura, por causa da previsão de rajadas de ventos de até 70 km/h, as empresas detentoras dos 50 balões que operam na cidade foram orientadas a não levantar voo. Ainda segundo o município, o balão acidentado foi o único que não seguiu a recomendação.

Referência internacional em paraquedismo e balonismo, o CNP de Boituva passou a ser destaque no noticiário também pelos acidentes. No último dia 11, um avião com 16 pessoas - um piloto e 15 paraquedistas - fez um pouso forçado na zona rural da cidade e dois atletas morreram. No dia 24 de abril, uma sargento do Exército morreu durante um salto de paraquedas.

Balão cai na região de Boituva, no interior paulista Foto: Corpo de Bombeiros de São Paulo

A 120 km de São Paulo, Boituva sedia cerca de 20 escolas de paraquedismo e 10 empresas que oferecem passeios de balão. Em março deste ano, uma audiência pública oficializou a cidade de 40 mil habitantes como a "Capital Nacional do Paraquedismo". Na mesma ocasião, Boituva recebeu também o título de "Capital Nacional do Balonismo Turístico". 

As empresas de balonismo, que atendem até mil pessoas por fim de semana, utilizam as instalações do centro de paraquedismo, um espaço com 99 mil metros quadrados que tem campo de pouso e outras instalações. Segundo a prefeitura, são realizados cerca de 17 mil saltos turísticos e profissionais por mês, o que coloca o CNP entre os maiores centros de paraquedismo do mundo.

De acordo com a Associação de Paraquedistas de Boituva, considerando a quantidade de saltos e de voos de balões que são realizados diariamente no local, os acidentes podem ser considerados raros. Embora em alguns fins de semana sejam registradas mais de 200 saídas de balões, este ano esse foi o primeiro acidente com vítimas, segundo o diretor técnico da Confederação Brasileira de Balonismo, Ricardo Almeida. 

"Nesse caso foi um incidente, pois na hora do pouso veio um vento muito rápido e, depois que o balão bateu no chão, fazendo com que algumas pessoas caíssem do cesto, ele ainda se deslocou uma distância grande e veio a bater no canavial", contou.

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Conforme o capitão Márcio de Lima Rennó, do Corpo de Bombeiros, após uma mudança brusca do vento, com rajadas atingindo o balão, o piloto tentou fazer um pouso forçado. Nessa manobra, três pessoas foram arremessadas para fora e acabaram atingidas pelo balão, que voltou a subir com os outros ocupantes. No segundo pouso, as pessoas também acabaram se machucando. Segundo os Bombeiros, sete pessoas foram levadas para o Hospital São Luiz, em Boituva, e duas para a Santa Casa de Porto Feliz. Até o fim da tarde, apenas um paciente do São Luiz tinha recebido alta.

No início de março, um balão com cinco ocupantes já havia feito um pouso forçado em uma fazenda de Boituva, mas ninguém se feriu. Já em maio do ano passado, três balões que eram preparados para voar foram atingidos por uma rajada de vento e lançados contra a rede elétrica. Quatro pessoas ficaram feridas. O registro mais trágico aconteceu em outubro de 2010, quando dois balões foram arrastados por uma ventania, chocando-se contra árvores, casas e rochas. Três pessoas morreram e 16 ficaram feridas. De acordo com a Confederação Brasileira de Balonismo, esse foi o primeiro acidente com mortes envolvendo balões no país.

Os acidentes com paraquedistas são mais frequentes. No caso do avião que capotou após um pouso forçado, a causa já identificada foi uma pane elétrica, mas o acidente continua sendo investigado. Além do piloto, o avião levava 15 paraquedistas preparados para realizar saltos profissionais. Os dois atletas que morreram eram experientes. Depois da morte da sargento Bruna Ploner, do Exército Brasileiro, em abril, a Polícia Civil de Boituva chegou a pedir à Justiça a suspensão das atividades de paraquedismo até que fosse providenciada uma UTI móvel no centro nacional.

O delegado Emerson Jesus Martins, autor do pedido, requereu ainda abertura de procedimento pelo Ministério Público para que as escolas de paraquedismo sediadas no CNP seguissem uma regra única para evitar irregularidades no exercício do esporte. Segundo ele, as regras internas do centro não dão aos fiscais o poder de coibir abusos de conduta, como manobras radicais, ou mesmo de impedir o salto de pessoas que não estejam aptas a saltar.

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Depois de ouvir o Ministério Público, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) indeferiu o pedido, alegando que eventuais providências deveriam ser apuradas em outras instâncias, de iniciativa dos órgãos responsáveis pela fiscalização administrativa, técnica e de segurança do CNP. O presidente da Confederação Brasileira de Paraquedismo (CBPq), Uellinton Mendes de Jesus, disse que, em grandes eventos, uma unidade de UTI móvel fica à disposição do centro. Segundo ele, em períodos de funcionamento normal, os casos que exigem socorro médico hospitalar são raros e acabam sendo atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ele disse ainda que as escolas e os paraquedistas seguem as regras de segurança internacionais, inclusive quanto à suspensão de atletas por conduta irregular.

A Associação de Paraquedistas de Boituva disse que as ocorrências se tornaram mais frequentes porque a quantidade de saltos dobrou nos últimos quatro anos. Os instrutores de saltos passam por reciclagens e os paraquedas são revisados antes e depois do uso. A unidade conta com equipamentos em redundância para medir a velocidade do vento e as condições climáticas. Durante as atividades, o centro conta com bombeiro, controlador de voo e responsável técnico que avalia todas as manobras realizadas pelos paraquedistas.

Em nota, a prefeitura de Boituva informou que, apesar de haver legislações e protocolos específicos para os usuários do CNP (paraquedistas e balonistas), o município, a Confederação de Paraquedismo e a Associação de Paraquedistas de Boituva trabalham no sentido de editar um termo de cooperação para monitorar o cumprimento dessas legislações. 

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Em relação ao balonismo, foi editado em 14 de dezembro do ano passado decreto que estabelece normas gerais e procedimentos para a atividade e criada uma comissão de monitoramento - foi a comissão que alertou para o risco de rajadas de vento nesta terça-feira. Já o acidente com o avião, segundo a prefeitura, foi o primeiro com registro de óbitos em mais de 50 anos de atividade do paraquedismo em Boituva.

Sobre os acidentes com balões e pára-quedistas do Centro Nacional de Paraquedismo (CNP) de Boituva, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) informou que acompanha todas as investigações em andamento na delegacia da Polícia Civil da cidade. "No caso específico do avião, além do inquérito policial, também haverá investigação pelo Seripa, órgão regional do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), e é preciso que se aguarde a conclusão das investigações para que se conheçam as causas do acidente. Não é diferente em relação ao acidente com o balão, ocorrido hoje", disse, em nota.

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