Bloqueio na Marginal do Pinheiros tem 1º teste e deve afetar até 500 mil pessoas

Após fim do feriado, região onde viaduto cedeu deve retomar tráfego intenso; Prefeitura indica caminhos alternativos

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Por Juliana Diógenes , Ana Paula Niederauer e Felipe Resk
Atualização:

SÃO PAULO - O esquema montado para desafogar o trânsito na região onde o viaduto cedeu, na Marginal do Pinheiros, na altura do Parque Villa-Lobos, enfrentará seu primeiro teste nesta quarta-feira, 21, na volta do feriado. A expectativa é que haja lentidão acima da média nas zonas sul e oeste e até 500 mil pessoas poderão ser afetadas, segundo especialistas em trânsito.

Viaduto cedeu na quinta-feira passada, levando à interdição de um trecho da Marginal do Pinheiros Foto: Rafael Arbex / ESTADÃO

A Prefeitura suspendeu o rodízio no trecho entre a Avenida dos Bandeirantes e a Ponte dos Remédios para que os motoristas possam buscar caminhos alternativos no horário de pico. 

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Não há ainda uma estimativa oficial sobre quanto tempo durará o bloqueio, mas um especialista ouvido pelo Estado acredita que ao menos três meses serão necessários. "Com escoramento todo pronto, deve ser feito uma tentativa de macaqueamento desse trecho que cedeu. Em seguida uma inspeção por baixo para ver o que sobrou da estrutura, para verificar a armação, a resistência do concreto e se realmente for viável refazer a estrutura da parte rompida. E não é só nesse trecho, deve ser feito também nas outras estruturas de apoio, em toda a extensão do viaduto", explica o diretor da Regional São Paulo da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece), Eduardo Barros Millen.

A estimativa do número de pessoas que serão afetadas é do consultor em mobilidade de pessoas e mestre pela Universidade de São Paulo (USP), Horácio Augusto Ferreira. Segundo ele, nos dois sentidos da linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de  Transportes Metropolitanos (CPTM), circulam de trem aproximadamente  30 mil pessoas por hora. Já cada uma das 5 faixas da pista expressa  comporta cerca de 2 mil veículos/hora, com ocupação média de 1,3  pessoa por automóvel. A conta considera um período de 12 horas - segundo Ferreira, um cálculo histórico utilizado entre técnicos de transporte.

"As cinco faixas da via expressa da Marginal equivalem a 15 faixas na comparação com ruas normais com semáforos e travessias de pedestres. É como se fosse preciso ter mais 15 faixas de tráfego no viário no lado de dentro da cidade, nas Avenidas Faria Lima e Heitor Penteado, por exemplo. Por isso, os impactos serão sentidos do outro lado do rio, recaindo nas avenidas Francisco Morato e Eliseu de Almeida, chegando até a Rodovia Raposo Tavares. Vai longe isso aí", diz.

Ferreira defende que para tentar evitar o caos no trânsito da região  a partir desta quarta, a Prefeitura precisa alterar a programação  semafórica nas rotas alternativas, estimular o uso do transporte  público. Uma das propostas é a destinação de uma faixa da pista local  da Marginal do Pinheiros, na região afetada, somente para ônibus e caminhões com destino ao Ceagesp.

Segundo ele, a Prefeitura deveria tomar uma "decisão de gestão" e incentivar a substituição do carro pelo transporte público por parte  de quem inevitavelmente precisa circular na região afetada.

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"Seria um grande teste de cidadania que a cidade poderia viver nesta quarta. Mas agora é sentar e chorar. A visão dessa gestão é a visão do automóvel. As faixas que a CET colocou para desvio são boas para a  madrugada. Mas o Waze é que vai comandar o trânsito desta quarta,  distribuindo os carros por toda essa região da cidade. É triste  porque não tem o que fazer", afirma Ferreira.

A Prefeitura deverá se reunir nesta quarta-feira, 21, com motoristas de aplicativos e taxistas para propor ações que diminuam o trânsito na capital, como redução de tarifas. Segundo o secretário de Mobilidade, João Octaviano Neto, o objetivo é criar alternativas para retirar veículos da rua.

Nesta segunda-feira, a Prefeitura liberou dois trechos, que somam dez quilômetros, da pista expressa da Marginal do Pinheiros. Nesta terça, o Parque Villa-Lobos virou um mirante para as obras na marginal. De lá, famílias, corredores e ciclistas aproveitaram para fazer selfies. 

Rotas alternativas

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Para quem vai à zona oeste, a opção é seguir pelas avenidas Brigadeiro Faria Lima, Pedroso de Morais, Professor Fonseca Rodrigues e Doutor Gastão Vidigal até retomar o acesso à Marginal na altura da Ponte dos Remédios.

Já para quem está chegando à cidade pelas rodovias Anchieta, Imigrantes, Régis Bittencourt e Raposo Tavares, a CET recomenda que o Rodoanel seja utilizado para acessar a Marginal do Tietê. Outras vias são opções para quem está vindo da zona sul, como as avenidas Interlagos e Washington Luís. 

Horácio Ferreira prevê que motoristas que precisam usar o Corredor Norte-Sul, como as avenidas Washington Luiz e Rubem Berta, sentirão os efeitos. Moradores das regiões do Morumbi e Campo Limpo, na zona sul, também deverão ser afetados pela interdição da Marginal.

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Assim como Ferreira, o urbanista e consultor de transporte e trânsito Flamínio Fichmann também defende a mudança na programação semafórica das ruas indicadas  para desvios, mas minimiza os efeitos para os usuários do transporte de massa. E vai além: sugere que a Prefeitura libere os dez quilômetros que ainda permanecem interditados no trecho entre as  pontes Jaguaré e Eusébio Matoso.

Desde que o viaduto cedeu nesta  quinta-feira, 15, até esta segunda-feira, 19, a Companhia de Engenharia do Tráfego (CET) mantinha um bloqueio da Ponte João Dias até a Ponte do Jaguaré.

"A Prefeitura deveria retirar imediatamente o restante desses 10 quilômetros de interdição. O espaço dessas faixas da pista expressa  da Marginal do Pinheiros é muito valioso com o uso intensivo do  carro. Tirar isso da população é ampliar o congestionamento na cidade  de uma maneira drástica", afirma. "A Prefeitura deveria só deixar  fechado no local muito próximo onde houve a ruptura do viaduto. Não  tem necessidade de mais bloqueio do que isso."

Como alternativa aos que estão chegando à capital paulista de viagem, ele aposta no Rodoanel. Já para quem vem no Morumbi, na zona sul da  capital, a saída é buscar a Avenida dos Autonomistas e fazer um  desvio por Osasco.

Na opinião de Fichmann, o maior problema da região nesta quarta será  o trânsito - que vai afetar motoristas de carros e caminhões de carga  - e não tanto o transporte de massa. A médio prazo, caso a interdição  da pista expressa da Marginal ultrapasse a previsão de um trimestre  de obras de reparo da estrutura e se estenda por um semestre, o  especialista prevê que o custo pode ser bilionário.

"Nesses seis meses, o custo social disso, considerando o salário  mínimo, o valor do combustível, as horas perdidas no trânsito e o  tempo de congestionamento, seria em torno de R$ 2,2 bilhões. Ou seja,  o custo da obra do viaduto deve ser menor perto do transtorno desse  custo social", diz Fichmann. "Por isso, a Prefeitura tem que mudar o  enfoque. Em vez de pensar só na questão emergencial em relação à obra  para devolver à população, tem que pensar nas ações para amenizar o  impacto no trânsito, onde o prejuízo é muito maior."