Blocos de carnaval dividem atenções com rotina de trabalho em SP

Dia útil fez com que o público fosse menor em relação à quinta-feira; algumas agremiações atrasaram início dos desfiles

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Foto do author João Ker
Por João Ker e Ítalo Lo Re
Atualização:

O dia útil fez com que o público desta sexta-feira, 22, nos blocos de carnaval que saíram pelas ruas de São Paulo fosse menor do que o das agremiações que desfilaram na quinta-feira, 21, pela cidade. Alguns cortejos, inclusive, tiveram o início atrasado à espera de foliões que só conseguiram sair do trabalho no fim da tarde.

Sem autorização e apoio da Prefeitura, os blocos não contaram com a presença da Guarda Civil Metropolitana (GCM) ou de agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

Fruto da união de dois coletivos culturais e políticos, Bloco Feminista saiu pelo bairro de Santa Cecília Foto: FELIPE RAU / ESTADÃO

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O Bloco Feminista saiu da rua Conselheiro Brotero, em Santa Cecília, por volta das 17h30, e seguiu em direção à Barra Funda com o cair da noite. Debutando no carnaval paulistano, o bloco é fruto da união de dois coletivos culturais e políticos.

“É um momento de resistência pelo carnaval de rua”, diz Natalie Amêndola, coreógrafa de 32 anos e uma das fundadoras do bloco. “A nossa proposta é ser um movimento pluralista. Somos um bloco comunitário.” A seleção de músicas tocadas no bloco variou de "Joana Dark", de Ava Rocha, a "Mama África", de Chico César.

Criado em 2018, o bloco Perdidos no Paraíso organizou um festejo na Água Branca, zona oeste da cidade. Integrantes do grupo se uniram a outros coletivos de música e convocaram os foliões que estavam em busca de uma festa de rua neste carnaval fora de época durante o feriado prolongado de Tiradentes.

O Perdidos, que desfilou pela última vez no bairro do Paraíso – por isso o nome do bloco –, saiu na base do improviso este ano, sem muita estrutura. A escolha pela Água Branca se deu porque uma das produtoras do grupo mora nas proximidades e conhece a dona de um bar que organiza forrós às sextas-feiras. Agora, no entanto, o ritmo foi substituído por marchinhas de carnaval e uma roda de samba.

“É o primeiro movimento de carnaval que a gente está fazendo desde o início da pandemia”, diz Laerte Fernandes, de 35 anos, produtor do bloco. Durante a festa, que reuniu centenas de foliões, DJs tocaram desde clássicos do samba até músicas de artistas como Caetano Veloso e Glória Groove. Com o aumento do público a partir das 20h, vendedores ambulantes também improvisaram caixas de som para atrair os foliões. Mais para o fim da noite, houve samba ao vivo. 

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Com uma peruca loira, o executivo de vendas Michel Bechara, de 32 anos, foi um dos destaques do bloco. Ele explica que a fantasia, que também tem adereços coloridos nos braços, não era retirada do armário desde antes da pandemia. O carnaval fora de época, em meio a isso, está servindo para tirar atrasos – ele também prevê usar outras fantasias nos próximos dias. "Só podia ser melhor organizado, eu nem estou sabendo dos blocos direito", lamenta.

O folião Michel Bechara durante bloco de carnaval na Água Branca, zona oeste de São Paulo Foto: Michel Bechara

"Todo carnaval que tiver, a gente vai participar", diz a organizadora de eventos Egle Oliveira, de 29 anos. Ela conta que foi ao Bloco Feminista com um grupo de amigos na tarde desta sexta e depois eles decidiram ir para a festa na Água Branca. "A gente ainda fica meio preocupado, porque a pandemia não acabou, mas é uma sensação de que estamos finalmente reencontrando as pessoas. A gente já estava desesperado de só ficar dentro de casa."

Para a atendente de seguradora Isabele Marcelino, de 20 anos, a ida ao bloco acabou não agradando tanto. "A gente chegou achando que estaria mais lotado, que iria ter mais gente que a gente conhecesse... Não que esteja ruim, mas está um pouco abaixo da expectativa", explica ela, que foi ao local convencida por uma amiga. Isabele conta ter saído do bairro do Imirim, na zona norte, com poucas informações sobre a festa.

Até mesmo vendedores ambulantes tiveram dificuldades para comercializar bebida nesta sexta-feira diante do clima de improvisação de muitos blocos em meio ao feriado. “A gente fica sabendo muito de última hora”, conta Daylane da Silva, de 34 anos, que na quinta-feira foi vender bebida no bloco Saia da Chita, na Pompeia, também na zona oeste.

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