Bilhete Único faz 10 anos e ainda falha

Apesar de revolucionar a forma como o paulistano se movimenta pela capital, sistema tem problemas estruturais e no suporte ao usuário

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Por CAIO DO VALLE
Atualização:

O Bilhete Único de São Paulo completa hoje exatos dez anos e, de mecanismo inovador na estreia na gestão Marta Suplicy (2001-2004), passou a dar sinais de esgotamento. Longas filas nos postos de atendimento, falhas no sistema de recarga da São Paulo Transporte (SPTrans) e interface obsoleta e burocrática com usuários na internet são alguns dos problemas apontados por usuários do cartão."Toda a parte do suporte da SPTrans poderia ser melhor", disse a agente de viagens Raquel Careta, de 18 anos, na tarde de quinta-feira, enquanto aguardava sua vez para ser atendida no guichê do Terminal Lapa, na zona oeste. A fila se estendia por 50 metros e levava vários minutos para ser vencida.Raquel, que vive no Jaraguá, na zona norte, e trabalha em Pinheiros, na zona oeste, tentava bloquear o cartão que havia perdido. "Primeiro, fui ao Terminal Pirituba, mas ninguém conseguiu resolver. Quando você liga no 156 (serviço telefônico da Prefeitura), pedem o número do cartão, que é enorme e nunca memorizei", reclamou.O técnico em enfermagem Thiago Paulino, de 28 anos, enfrentou problema semelhante. "Meu bilhete de estudante bloqueou do nada e pelo site não consegui arrumar. Agora, preciso encarar essa fila demorada, porque só tem um funcionário atendendo." Morador de Jandira, na Região Metropolitana, ele conta que, com o Bilhete Único, usado em ônibus e trens, economiza cerca de R$ 100 por mês.Apesar das queixas, Raquel e Paulino se juntam a milhões de usuários que atualmente podem usar até três coletivos, desembolsando uma só tarifa, além de pagar um valor menor na integração com Metrô ou Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Desde seu lançamento, foram realizadas 23,1 bilhões de viagens, uma quantidade que, traduzida em termos de passageiros, equivale a mais de três vezes a população da Terra - 7,1 bilhões.Diante dos números, da demanda crescente e das críticas, o atual secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, que participou da criação do Bilhete Único há uma década, disse que a gestão Fernando Haddad (PT) vai melhorar o sistema. "Nesta semana, terminamos a licitação da atualização do parque tecnológico, que está igual desde a época da implementação. Isso vai permitir, entre outras coisas, carregar o bilhete na catraca. Não vai precisar mais ir aos postos", afirmou.A atualização, prevista para ser concluída no próximo ano, incluirá a troca dos validadores e dos computadores de bordo dos ônibus. A empresa vencedora é a Tivit. Tatto garantiu também que a Prefeitura vai ampliar o uso do Bilhete Único no empréstimo de bicicletas.Conexão. Rogério Belda, diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), destaca justamente a integração promovida pelo cartão. "Fica até engraçado, porque o conceito de Bilhete Único tem esse nome, mas ele, na prática, é múltiplo." Segundo Belda, a principal característica do sistema é juntar os modais sob um guarda-chuva tarifário.Esse traço do Bilhete Único surgiu na gestão José Serra (2005-2006), quando Metrô e CPTM passaram a usá-lo em suas catracas. Para se ter uma ideia, dados de março do Metrô revelam que 80% das entradas foram feitas com o cartão. Belda aposta agora na conexão, por exemplo, com ônibus da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e cidades vizinhas. Segundo o especialista, os próprios usuários vão cobrar essa integração. Novidade. Amanhã, o Bilhete Único ganha mais uma modalidade de pagamento: a diária - no ano passado, foi lançado o mensal. Com taxas de R$ 10 a R$ 24 por dia, o passageiro realizará quantas viagens quiser. O mecanismo temporal é a mais atual aposta da Prefeitura para ampliar o uso do dispositivo na capital.

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