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Beco do Batman amanhece de luto após artista ser morto; policial foi detido

NegoVila Madalena, de 40 anos, foi atingido por dois disparos após apartar briga na zona oeste de São Paulo; autor do disparos é PM que apresentava sinais de embriaguez

Foto do author Priscila Mengue
Por Priscila Mengue
Atualização:

Os muros do Beco do Batman amanheceram pintados de preto em luto pela morte do artista NegoVila Madalena, de 40 anos, na manhã desta segunda-feira, 30, na zona oeste da cidade de São Paulo. Ele foi baleado na madrugada de sábado, 28, após apartar uma briga. O autor dos disparos é um policial militar, que foi detido.

Na intervenção, sobre a tinta preta, foram escritas frases como "Mais um pai de família é eliminado pelo sistema, até quando?" e “Vidas pretas importam” Foto: Taba Benedicto/Estadão

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A intervenção ocorreu na noite de domingo, 29, após o velório de NegoVila. “Avisamos os artistas que tinham obras expostas no Beco, e a maioria aceitou a causa”, explica o grafiteiro Canhoto 011. O local é um dos principais pontos turísticos da cidade, por reunir murais coloridos com temáticas diversas.

“Foi um jeito de mostrar a realidade, é um apelo, um grito de ‘até quando’?”, lamenta, referindo-se ao racismo estrutural e aos casos de assassinatos de pessoas negras, que representam 75% das vítimas de homicídio no País. “Era um cara do bem, que fazia a diferença.”

Batizado Wellington Copido Benfati, o artista era muralista, artista plástico e cenógrafo. Era ligado a projetos culturais, esportivos e sociais, voltados ao skate, às artes e à gastronomia, especialmente na região da Vila Madalena. Ele deixou uma filha de 9 anos.

Segundo o boletim de ocorrência, NegoVila foi atingido por dois disparos ao tentar separar uma briga entre um amigo e um PM em frente a uma distribuidora de bebidas em Pinheiros, também na zona oeste. O suspeito apresentava sinais de embriaguez.

Beco do Batman amanhece de luto após artista ser morto; policial foi detido Foto: Taba Benedicto/Estadão

Na intervenção, sobre a tinta preta, foram escritos pedidos de Justiça e frases como o “Nego vive”, “Todo nego é nego vila”, "Vida Madalena em luto", "Mais um pai de família é eliminado pelo sistema, até quando?" e “Vidas pretas importam”.

A intervenção deve seguir pelos próximos dias, ainda sem prazo definido. Os cerca de 23 grafiteiros participantes planejam a realização de mais um protesto no sábado, com novas inscrições pintadas sobre os muros pretos. Segundo Canhoto 011, decidiu-se não cobrir um dos painéis do Beco por ter sido feito por um artista falecido. 

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Wellington Copido Benfati, o NegoVila, era muralista e artista plástico Foto: Taba Benedicto/Estadão

Na noite de domingo, também foram realizadas projeções de fotografias de NegoVila na empena cega de um edifício. A intervenção também trazia a frase "Todo nego é nego, é nego vila".

Procurada sobre o caso, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) enviou a seguinte nota: "Um policial militar, de 34 anos, foi preso em flagrante no sábado (28), após cometer um homicídio contra um artista plástico, de 40 anos, em um bar na região de Pinheiros. O caso foi registrado pelo 14º DP (Pinheiros), que apura os fatos, assim como a Polícia Militar, que instaurou um IPM. O detido foi encaminhado ao presídio militar Romão Gomes". O nome do PM não foi divulgado.

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