
27 de fevereiro de 2012 | 03h02
Urnas funerárias indígenas com mais de mil anos, importantes fragmentos do período pré-colombiano da região de Sorocaba, no interior de São Paulo, estão entre as peças furtadas da reserva técnica de museus da cidade. O crime só foi descoberto anteontem, quando uma funcionária constatou que uma das portas do antigo Matadouro Municipal, no Jardim Brasilândia, que abriga o acervo, estava arrombada.
Os ladrões levaram espadas do período imperial com símbolos de d. Pedro II e capacetes e utensílios de combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932. Foram furtados equipamentos da antiga Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), teares usados nas primeiras fábricas de tecidos de Sorocaba e praticamente todo o acervo do Museu do Tropeirismo, como selas, chicotes, baús e vasilhames confeccionados entre os séculos 19 e 20.
Todo o acervo que estava guardado em caixas foi revirado. De uma das urnas indígenas de cerâmica, do tipo igaçaba, os ladrões só deixaram para trás um crânio e um pedaço de osso de um possível homem pré-colombiano.
O prédio invadido armazenava desde setembro do ano passado o acervo não exposto dos Museus Histórico e Ferroviário de Sorocaba e ainda todo o acervo do Museu do Tropeirismo, cujo prédio está sendo restaurado.
Os ladrões quebraram vidros das janelas e arrombaram a porta metálica usando, provavelmente, um pé de cabra. Também podem ter usado um caminhão para o transporte de todo o material furtado.
De acordo com a diretora do Patrimônio Histórico de Sorocaba, Sônia Paes, muitos dos objetos levados podem ser facilmente vendidos para antiquários e colecionadores, como rádios a válvulas, máquinas de escrever e antigos teares.
Lamento. O presidente da ONG Memória Viva, Sérgio Aranha, lamentou o furto e criticou a falta de vigilância no prédio. "A memória sorocabana está sendo maltratada", disse.
A Secretaria da Cultura informou que há um vigilante destacado para aquele prédio e vai apurar se houve falha. Ontem, o vigilante estava na portaria, mas, assim que o veículo com a reportagem se aproximou, abriu o portão sem pedir identificação.
Inusitado. O prefeito Vítor Lippi (PSDB) também lamentou o furto do acervo histórico e classificou a ação como inusitada.
Segundo ele, apesar da importância histórica, não se tratavam de artigos com valor comercial imediato, por isso não seriam visados por ladrões comuns. Ele disse acreditar que a ação pode ter sido planejada por quadrilha especializada nesse tipo de crime. A prefeitura informou que fará todo empenho para reaver os bens furtados.
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