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Baixinhos ganham espaço como seguranças

Com agilidade e conhecimento, eles já desbancam grandões na disputa por vagas

Por Marcio Pinho
Atualização:

Brutamontes, guarda-roupa, leão de chácara e armário são apelidos que o segurança Valdeci Gomes, de 36 anos, só viu seus colegas receberem. Do "alto" de seu 1,69 metro, Gomes representa uma categoria para a qual "tamanho nem sempre é documento" e que tenta quebrar o estereótipo do segurança "grandão e fortão". Para eles, o mais importante é a capacidade de ação e o conhecimento dos procedimentos. Desde que foi retirado de uma fila de emprego nos anos 1990, desclassificado antes mesmo da entrevista por não se encaixar no "perfil esperado", Gomes vê a profissão mudar. Os magros e baixos, que antes tinham mais chance apenas como porteiros, ganham espaço conforme a concepção dos patrões muda e o mercado se expande. Hoje, qualquer condomínio ou empresa de médio porte tem vigilantes. "É um mito que está caindo", afirma Gomes. Empregado em uma empresa que faz a segurança de um condomínio de luxo na zona sul de São Paulo, o vigilante afirma que o tamanho nunca afetou seu trabalho. Nem mesmo quando fazia a segurança em uma casa noturna e teve de usar a força para tirar de uma briga um pitboy que era o dobro dele. "O rapaz era grande. Mas cheguei já imobilizando o braço por trás e ele sossegou." Foi uma das poucas vezes em que o cearense praticante de caratê teve de usar a força. "O vigilante tem de saber dialogar."Para Eduardo de Pinho Freire, diretor da Yamam Segurança Patrimonial, "não adianta" colocar vigia de 2 metros se o local não tiver normas e procedimentos de segurança. "É melhor colocar um boneco." Segundo Freire, o veto aos baixinhos ainda acontece, especialmente por empresas que não têm departamentos de segurança. Síndicos também costumam fazer questionamentos, como "vou deixar o prédio na mão desse magrelo?".Ele admite, porém, que para determinadas funções o porte físico é importante. É o caso da segurança pessoal de alguém que fica em contato com multidões. Esses profissionais, que aliam o tamanho à capacidade de ação, são os mais valorizados. Recebem propostas e abrem vagas para outros nesse crescente mercado, cujo piso em São Paulo - de R$ 964 - não permite que a empresa imponha muitas exigências para contratar.Baixo. O vigilante Wagner dos Santos Lopes, de 30 anos e 1,72 metro, diz que não precisa usar de "guarda-costa" o colega de trabalho Hernanes Ramos, de 1,95 metro de altura e quase isso de largura, para executar sua função. Vigilante de um edifício na zona oeste, Hernanes apoia a ideia, mas garante: "Imponho respeito. O pessoal fica esperto quando me vê."Requisitos. Segundo Daniel de Barros Ardito, gerente de Operações do Grupo GP - Guarda Patrimonial, o importante é a proatividade do funcionário. Distinguir um cenário de risco e antecipar uma ação são requisitos considerados fundamentais pelo gerente. Em um condomínio, o profissional tem de, por exemplo, ser capaz de observar se alguém passa seguidas vezes em um carro olhando em direção ao local.A GP trabalha primordialmente com funcionários altos, mas diz não ter preconceito com os baixos e procura observar a capacidade do profissional. O preconceito, porém, já apareceu por parte de contratantes. Um vigilante de 1,77 metro foi vetado.Números e medidas1,75 metro é a média de altura masculina no Estado de SP, segundo o IBGE1,80 metro costuma ser a altura mínima exigida nos anúncios de emprego 40 mil seguranças trabalham regularizados na capital paulista

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