Baile da Dz7 em Paraisópolis é opção de lazer para milhares de jovens

Festa reúne, há quase dez anos, pessoas de toda a cidade e é apontada como principal opção de divertimento da região

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Por Felipe Resk
3 min de leitura

SÃO PAULO - Alvo da ação da Polícia Militar que terminou com nove mortos e 12 feridos, o Baile da Dz7 é o pancadão mais famoso de Paraisópolis. Há quase uma década, o baile funk reúne, em média, entre 3 mil e 5 mil pessoas em fins de semana e é considerado por muitos moradores como a principal alternativa de lazer da favela. Hoje, a maior parte do público vem de outros bairros da capital ou da Grande São Paulo e a festa até recebe caravanas de fora do Estado.

O Baile da Dz7 é o pancadão mais famoso de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Não raro, o pancadão começa na quinta-feira e só termina no domingo. Sábado é considerado o pico do evento. No Baile da Dz7, uma série de bares abre as portas durante a madrugada e carros ou paredões de som tocam funk nas alturas. Também há alto consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, segundo relatam os moradores.

Embora não tenha autorização legal ou estrutura adequada, a região chega a realizar festas com 30 mil pessoas. A multidão toma principalmente a Rua Ernest Renan, para onde também vai a maioria dos vendedores ambulantes, mas o fluxo se espalha ainda por outras ruas e vielas do entorno.

Maioria vem de fora do bairro, diz líder comunitário

“Das pessoas que participam do baile funk, 80% não são moradores de Paraisópolis”, afirma o líder comunitário Gilson Rodrigues. “Muitos jovens vêm do Morumbi, que é vizinho daqui, ou de outras áreas da cidade. Vários frequentadores vêm de municípios próximos e há excursões de outros Estados.”

Esse era o caso de vítimas da tragédia no baile funk. O jovem Denys Henrique Quirino da Silva, de 16 anos, por exemplo, morava no Limão, bairro do outro lado da cidade. “Ele saiu para trabalhar e não voltou”, diz a mãe, Maria Cristina Portugal.

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Moradores negam a versão oficial da PM de que tiros tenham partido de uma moto e afirmam que os frequentadores, na verdade, foram encurralados pelos policiais. Para Rodrigues, as vítimas que não eram de Paraisópolis sofreram ainda mais na correria. “Eles não sabiam que essa viela tem uma escada”, afirma, apontando para o beco onde a maioria dos corpos foi encontrada. “Acabaram caindo e sendo pisoteados, como se fossem uma ‘rampa’.”

“Os bailes funk acontecem por ausência de outras oportunidades ou alternativas de lazer”, diz Rodrigues. “Eu gostaria que tivesse estrutura e segurança. O baile já é uma realidade há muitos anos e não vai acabar, então tem de estruturar.”

Eles não sabiam que essa viela tem uma escada. Acabaram caindo e sendo pisoteados, como se fossem uma 'rampa'

Gilson Rodrigues, líder comunitário de Paraisópolis

O morador Rogério Ferreira, de 29 anos, defende o pancadão.

“É o único lazer que nós temos. Não consigo pagar o ingresso de uma balada fora daqui”, diz. “É claro que tem problema de barulho ou xixi na rua. Mas querem acabar com o problema sem dar solução.” 

É claro que tem problema de barulho ou xixi na rua. Mas querem acabar com o problema sem dar solução

Rogério Ferreira, morador de Paraisópolis

Festa não tem estrutura adequada, afirma PM

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Em entrevista à Rádio Eldorado, o porta-voz da PM, tenente-coronel Emerson Massera, disse nessa segunda, 2, que ainda “não é possível apontar que houve uma falha dos policiais”.

“O baile funk acontece há anos na comunidade de Paraisópolis, sem estrutura adequada. É preciso focar em providências para oferecer local mais adequado para a realização”, afirmou. 

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