Queda de avião na zona norte mata 2 e deixa feridos

Aeronave havia decolado do Campo de Marte às 15h55, com destino a Jundiaí, no interior paulista

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Por Redação
Atualização:
Avião caiu logo depois de decolar do Campo de Marte Foto: ALEX SILVA / ESTADAO

SÃO PAULO - Um avião de pequeno porte caiu na tarde desta sexta-feira, 30, na Avenida Antônio Nascimento Moura, perto do aeroporto do Campo de Marte, na zona norte de São Paulo. Duas pessoas morreram e onze ficaram feridas. A aeronave atingiu uma casa e danificou pelo menos outras duas na região. Sete carros foram atingidos. 

O avião, de modelo Cessna C210, havia acabado de decolar do Campo de Marte, às 15h55, com destino a Jundiaí, no interior paulista, quando caiu. Segundo o Corpo de Bombeiros, os corpos do piloto e do copiloto foram retirados de dentro da aeronave. As vítimas são Guilherme Murback, de 26 anos, e Leonardo Imamura, de 43. A mãe de um deles passou mal ao chegar ao local do acidente e foi socorrida por uma ambulância.

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Entre os feridos, havia pedestres que passavam pelo local do acidente e pessoas que estavam dentro das casas atingidas pela aeronave. Dois idosos, moradores da casa mais atingida, não se feriram.

Seis pessoas foram socorridas e levadas a hospitais da cidade: três ao Hospital Geral de Vila Penteado, na zona sul, um ao Hospital Samaritano, na região central, e dois ao Hospital Municipal do Tatuapé, na zona leste, referência no tratamento de queimaduras.

Entre os feridos levados ao Hospital Municipal do Tatuapé, uma mulher foi atendida e teve alta nesta sexta-feira e um homem permanece internado. Uma menina de 8 anos, levada ao Hospital Samaritano, também teve lesões por queimadura. Ela permanecia internada na noite desta sexta, sem previsão de alta. 

Selmo Eugênio da Silva teve carro atingido pela aeronave Foto: Priscila Mengue/Estadão

O motorista de aplicativo Selmo Eugênio da Silva, de 44 anos, levava um passageiro da Barra Funda, na zona oeste, até Santana, na zona norte, no momento da queda da aeronave. “Não sei como consegui escapar daquele incêndio, veio muito rápido em cima de nós”, disse. Segundo Silva, o carro estava parado no farol quando foi atingido.

"Pensei que um carro tinha batido atrás. O passageiro saiu, passando por cima de mim. Tentei sair e não conseguia. Apertei o botão do cinto, daí saí de dentro (do carro).” Silva queimou parte do braço e foi atendido no local. Agora, está preocupado com o passageiro que, segundo ele, “se queimou bastante” no acidente. “Quero o telefone dele, ligar para ele”. O carro onde estavam explodiu logo depois da queda do avião.

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A aeronave caiu perto de um posto de gasolina, assustando funcionários. "Vi ele (avião) passando bem baixinho e, depois, teve a explosão. Deu um barulho alto, saiu fumaça preta na hora, ficou um cheiro de fumaça", disse o frentista Francimar Tomé da Silva, de 47 anos. "Teve correria para ver, tirar fotos. Tinha pessoa gritando, dizendo corre, corre, para sair fora, gritando para sair."

O arquiteto Vainer Ragusa, de 50 anos, passava pela Avenida Brás Leme, após sair de uma consulta médica, quando testemunhou a queda da aeronave. "Estava no farol da Brás Leme, no sentido Santana. Vi que o avião levantou voo e perdeu potência, começou a baixar e caiu entre a rua e uma casa", conta. Segundo Ragusa, a aeronave atingiu carros. "Estava a uns 200 metros e senti o calorão. Foi muito feio." 

A estudante de moda Victória Piccinn, de 19 anos, saía do edifício de 10 andares em que mora quando o avião caiu. “Passou raspando na torre A do Campo de Marte. Estava no celular com um amigo e falei ‘nossa, quase arrancou um pedaço do prédio'.  Passou fazendo tanto barulho que achei que fosse um daqueles caças que fazem show." Segundo ela, houve um clarão após a queda e o avião era branco e azul. “Quando passamos aqui, já tinha muito fogo", disse Victória.

Uma testemunha que trabalha em uma empresa localizada na Avenida Brás Leme, a duas quadras do acidente, também viu o momento da queda. "Vi que o avião subiu do aeroporto, fez um rasante nas árvores e caiu em uma rua bem em frente (da empresa onde trabalha), atrás de um posto de gasolina." Segundo Carneiro Filho, logo após a queda, houve uma explosão. "Explodiu, deu bastante estrondo e uma labareda bem alta."

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De acordo com o Corpo de Bombeiros, dez viaturas foram deslocadas para o local onde a aeronave caiu. Por volta das 18h20, as buscas por vítimas foram encerradas e a região, isolada. Três casas foram interditadas e o fornecimento de energia elétrica foi suspenso até a retirada das partes da aeronave pela empresa responsável. 

O trânsito na região era intenso no fim da tarde desta sexta, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que recomendou aos motoristas evitar o local. A Avenida Antônio Nascimento Moura foi interditada entre a Brás Leme e a Rua Mangaratu. A companhia registrava lentidão na Brás Leme, no sentido Marginal do Tietê, por volta das 18h50. 

O Aeroporto do Campo de Marte ficou fechado para pousos e decolagens das 15h57 até as 16h55, segundo a Infraero. Ele chegou a ser fechado novamente depois, mas em decorrência da chuva que atingia a capital paulista no fim da tarde desta sexta.

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Em nota, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou que deu início à investigação sobre a ocorrência. Deverão ser reunidos para análise dados como fotografias, partes da aeronave, documentos, além de relatos de testemunhas. "A investigação realizada pelo Cenipa tem o objetivo de prevenir que novos acidentes com as mesmas características ocorram", informou. O prazo de conclusão dependerá da complexidade do acidente. 

Aeronave pertencia a diretor de empresa

A aeronave que caiu logo após decolar do Campo de Marte era do modelo Cessna C210, de prefixo PR-JEE, segundo informações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Ela pertencia a um empresário do setor imobiliário e de venda de automóveis - era um representante da Mitsubishi.  O dono não estava a bordo. 

O peso máximo de decolagem era de 1,7 tonelada e a aeronave comportava até cinco passageiros. A inspeção anual de manutenção da aeronave tinha validade até 13 de dezembro deste ano. A Anac aponta que o veículo estava registrado sob a categoria de serviços aéreos e que o certificado de aeronavegabilidade estava válido até o ano de 2022.  

Aeroporto é seguro, dizem especialistas

O Campo de Marte, que opera com aviação geral, com voos executivos e escola de pilotagem, já registrou diversos acidentes com aeronaves e helicópteros. Especialista em prevenção de acidentes, Luiz Alberto Bohrer diz que o aeroporto tem condições regulares e está dentro das normas e regras de segurança para pousos e decolagens. 

"O aeroporto não é perigoso, mas há um risco maior para as casas que ficam no seu entorno. Um risco que existe no entorno de qualquer aeroporto", diz. Para ele, o número alto de acidentes no local pode ser explicado pelo tipo de operação. 

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Segundo Bohrer, a aviação comercial têm, em geral, maior fiscalização do que a aviação geral. "As exigências e a fiscalização são menores e isso dá margem para que o nível de risco se eleve. O proprietário de um avião pequeno é o responsável pela manutenção da aeronave e pela contratação de pilotos experientes e que respeitem as regras de treinamento." 

Décio Correa, presidente do Fórum Brasileiro de Aviação Civil, diz que uma das causas mais prováveis para esse tipo de acidente é de uma pane na decolagem. "É o momento em que se exige o máximo possível de potência do motor para que a aeronave possa ganhar altura", explica.

Correa diz que as condições do aeroporto são seguras e que não há nenhuma irregularidade na proximidade com as residências. "A maioria dos aeroportos do mundo está no meio do cidade", diz. Aurélio dos Santos, major da reserva da Aeronáutica e especialista em investigação de acidentes aéreos, também diz que o local é seguro para pousos e decolagens. 

Ex-prefeitos da capital já prometeram a desativação do aeroporto, mas não avançaram em projetos e autorizações que viabilizassem a proposta. /ANA PAULA NIEDERAUER, BRUNO RIBEIRO, ISABELA PALHARES, JÚLIA MARQUES, MARCO ANTÔNIO CARVALHO, PRISCILA MENGUE e RENAN CACIOLI

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