Audiência entre Metrô e funcionários termina sem acordo

Metroviários farão assembleia nesta quarta-feira, às 18h30, e devem decidir pela paralisação por tempo indeterminado

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Por Caio do Valle
Atualização:

Atualizado às 17h04.

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SÃO PAULO - Terminou sem acordo na tarde desta quarta-feira, 4, a audiência de conciliação entre o Metrô e seus funcionários no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Com isso, os metroviários devem paralisar suas atividades a partir da madrugada desta quinta-feira, 5. A decisão será tomada em uma assembleia na sede do Sindicato dos Metroviários às 18h30. A uma semana do início da Copa do Mundo de futebol, os passageiros das Linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 5-Lilás podem ficar sem transporte por tempo indeterminado. Esses quatro ramais transportam cerca de 4,5 milhões de usuários por dia útil.

O Metrô aumentou sua proposta de reajuste salarial de 7,8% para 8,7%, mas o Sindicato dos Metroviários reforçou que só aceitará propostas na casa dos dois dígitos.

O presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, descartou a possibilidade de catraca livre, hipótese aventada pelos trabalhadores para evitar transtornos à população. "Não vemos nenhum sentido nisso, porque é um prejuízo para toda a população, até mesmo para os metroviários. O Metrô tem uma única fonte de receita: a venda dos bilhetes. A perda de receita é um contrassenso se estamos negociando melhores condições de salário."

Entretanto, o próprio Pacheco admitiu que para a população a melhor saída seria a adoção da catraca livre. "Provavelmente, do ponto de vista da operação do dia a dia da cidade, a questão de você poder utilizar o metrô sempre é a melhor alternativa. Agora, o custo de se fazer isso é muito alto." De acordo com ele, o Metrô arrecada cerca de R$ 5 milhões por dia com a venda de passagens. Outra fonte de renda do Metrô é a publicidade nas estações e trens, não mencionada pelo presidente na entrevista.

Ainda segundo Pacheco, o Metrô tem feito "um esforço muito grande" nos últimos dois anos para tocar a operação do sistema, com processo de racionalização de custos e economia interna, já que houve congelamento do preço da tarifa em R$ 3. "Eu disse ontem (nesta terça-feira, 3) ao governador que com esse pacote de propostas (aos metroviários), o Metrô consegue cumprir e chegar até o fim do ano com a expectativa de uma questão tarifária para o ano que vem."

Mas o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior contesta. "O balanço social do Metrô é altamente positivo. O problema é que se for verdade o que o presidente do Metrô está falando, ele está assinando embaixo que o metrô tem que ser superlotado e ficar no sufoco permanente para as próximas décadas (para arrecadar dinheiro). O metrô de Nova York, o de Paris e o de Londres são subsidiados, não ficam só na tarifa. Para haver mais metrô e menos lotação é preciso priorizar o transporte público. O problema é que o governo do Estado não põe a prioridade no transporte público."

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Desde a última audiência, ocorrida há dois dias e que terminou sem acordo, os metroviários pedem aumento de 16,5% -- no início da campanha salarial, os trabalhadores solicitavam 35,47%. Esse é o mesmo patamar que o solicitado pelo sindicato dos engenheiros do Metrô, que também ameaçava parar.

Carvalho Pacheco afirmou que a empresa aumentou a proposta para o vale-alimentação e o vale-refeição acima da inflação. No caso do vale-refeição, o Metrô sugeriu a retirada da contribuição dos funcionários. "Só isso representaria, com os 8,7% que estamos dando (de reajuste salarial) mais de 10% de ganho para todos os funcionários."

Copa. O presidente da companhia também disse que vê "com muita preocupação" uma greve da categoria às vésperas da Copa. Ele ainda criticou o fato de alguns operadores de trens terem usado a comunicação sonora das composições para alertar a população sobre o risco de greve. "Não é uma uma atitude correta e, na nossa opinião, fere as condições de paz. Tivemos também que chamar a polícia porque a manifestação dos metroviários na Sé foi tumultuada." O dirigente afirmou que um plano de contingenciamento pode ser adotado em caso de greve, com alguns supervisores tentando operar parte das linhas, medida criticada pelo sindicato, que a acusa de ser arriscada.

Prazeres Júnior tem repetido em entrevistas que os trabalhadores não aceitarão propostas de reajuste de salário menores do que dois dígitos -- os motoristas e cobradores de ônibus da capital paulista, por exemplo, obtiveram aumento de 10% pelo segundo ano consecutivo.

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Outro ponto central da reivindicação dos metroviários diz respeito ao plano de carreiras da categoria dentro do Metrô, que é controlado pelo governo do Estado.

O presidente do Metrô participou da mesa de negociações nesta quarta-feira, no TRT da Segunda Região, no centro. Com uma calculadora científica, Carvalho Pacheco fez contas ao lado dos advogados da empresa, diante de Prazeres Júnior e diversos outros membros do sindicato.

A desembargadora Ivani Contini Bramante mediava os esforços de conciliação entre as duas partes. Na última audiência, ela cobrou "empenho especial" ao secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, para evitar a greve. O dirigente compareceu ao TRT a convite da Justiça, mas pouco se manifestou durante a reunião na mesa de conciliação, diferentemente do comportamento de Carvalho Pacheco no derradeiro encontro entre ambos os lados antes da possível paralisação. O presidente do Metrô foi visto várias vezes ao celular, no tablet e fazendo uso de uma calculadora. Ele saiu algumas vezes da sala de audiência para falar ao telefone.

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