
04 de junho de 2014 | 14h10
Atualizado às 17h04.
SÃO PAULO - Terminou sem acordo na tarde desta quarta-feira, 4, a audiência de conciliação entre o Metrô e seus funcionários no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Com isso, os metroviários devem paralisar suas atividades a partir da madrugada desta quinta-feira, 5. A decisão será tomada em uma assembleia na sede do Sindicato dos Metroviários às 18h30. A uma semana do início da Copa do Mundo de futebol, os passageiros das Linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 5-Lilás podem ficar sem transporte por tempo indeterminado. Esses quatro ramais transportam cerca de 4,5 milhões de usuários por dia útil.
O Metrô aumentou sua proposta de reajuste salarial de 7,8% para 8,7%, mas o Sindicato dos Metroviários reforçou que só aceitará propostas na casa dos dois dígitos.
O presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, descartou a possibilidade de catraca livre, hipótese aventada pelos trabalhadores para evitar transtornos à população. "Não vemos nenhum sentido nisso, porque é um prejuízo para toda a população, até mesmo para os metroviários. O Metrô tem uma única fonte de receita: a venda dos bilhetes. A perda de receita é um contrassenso se estamos negociando melhores condições de salário."
Entretanto, o próprio Pacheco admitiu que para a população a melhor saída seria a adoção da catraca livre. "Provavelmente, do ponto de vista da operação do dia a dia da cidade, a questão de você poder utilizar o metrô sempre é a melhor alternativa. Agora, o custo de se fazer isso é muito alto." De acordo com ele, o Metrô arrecada cerca de R$ 5 milhões por dia com a venda de passagens. Outra fonte de renda do Metrô é a publicidade nas estações e trens, não mencionada pelo presidente na entrevista.
Ainda segundo Pacheco, o Metrô tem feito "um esforço muito grande" nos últimos dois anos para tocar a operação do sistema, com processo de racionalização de custos e economia interna, já que houve congelamento do preço da tarifa em R$ 3. "Eu disse ontem (nesta terça-feira, 3) ao governador que com esse pacote de propostas (aos metroviários), o Metrô consegue cumprir e chegar até o fim do ano com a expectativa de uma questão tarifária para o ano que vem."
Mas o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior contesta. "O balanço social do Metrô é altamente positivo. O problema é que se for verdade o que o presidente do Metrô está falando, ele está assinando embaixo que o metrô tem que ser superlotado e ficar no sufoco permanente para as próximas décadas (para arrecadar dinheiro). O metrô de Nova York, o de Paris e o de Londres são subsidiados, não ficam só na tarifa. Para haver mais metrô e menos lotação é preciso priorizar o transporte público. O problema é que o governo do Estado não põe a prioridade no transporte público."
Desde a última audiência, ocorrida há dois dias e que terminou sem acordo, os metroviários pedem aumento de 16,5% -- no início da campanha salarial, os trabalhadores solicitavam 35,47%. Esse é o mesmo patamar que o solicitado pelo sindicato dos engenheiros do Metrô, que também ameaçava parar.
Carvalho Pacheco afirmou que a empresa aumentou a proposta para o vale-alimentação e o vale-refeição acima da inflação. No caso do vale-refeição, o Metrô sugeriu a retirada da contribuição dos funcionários. "Só isso representaria, com os 8,7% que estamos dando (de reajuste salarial) mais de 10% de ganho para todos os funcionários."
Copa. O presidente da companhia também disse que vê "com muita preocupação" uma greve da categoria às vésperas da Copa. Ele ainda criticou o fato de alguns operadores de trens terem usado a comunicação sonora das composições para alertar a população sobre o risco de greve. "Não é uma uma atitude correta e, na nossa opinião, fere as condições de paz. Tivemos também que chamar a polícia porque a manifestação dos metroviários na Sé foi tumultuada." O dirigente afirmou que um plano de contingenciamento pode ser adotado em caso de greve, com alguns supervisores tentando operar parte das linhas, medida criticada pelo sindicato, que a acusa de ser arriscada.
Prazeres Júnior tem repetido em entrevistas que os trabalhadores não aceitarão propostas de reajuste de salário menores do que dois dígitos -- os motoristas e cobradores de ônibus da capital paulista, por exemplo, obtiveram aumento de 10% pelo segundo ano consecutivo.
Outro ponto central da reivindicação dos metroviários diz respeito ao plano de carreiras da categoria dentro do Metrô, que é controlado pelo governo do Estado.
O presidente do Metrô participou da mesa de negociações nesta quarta-feira, no TRT da Segunda Região, no centro. Com uma calculadora científica, Carvalho Pacheco fez contas ao lado dos advogados da empresa, diante de Prazeres Júnior e diversos outros membros do sindicato.
A desembargadora Ivani Contini Bramante mediava os esforços de conciliação entre as duas partes. Na última audiência, ela cobrou "empenho especial" ao secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, para evitar a greve. O dirigente compareceu ao TRT a convite da Justiça, mas pouco se manifestou durante a reunião na mesa de conciliação, diferentemente do comportamento de Carvalho Pacheco no derradeiro encontro entre ambos os lados antes da possível paralisação. O presidente do Metrô foi visto várias vezes ao celular, no tablet e fazendo uso de uma calculadora. Ele saiu algumas vezes da sala de audiência para falar ao telefone.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.