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Ativista relata agressão policial e nega posse de explosivo

Harano diz que, após ser ouvido no Deic, ficou claro para os policiais que 'o japonês do capacete' nada sabia de black blocs

Por Rafael Italiani
Atualização:
Revolta. "Armaram uma prisão descarada", diz Harano Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Acusado de ser um líder black bloc pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e pelo Ministério Público, Fábio Hideki Harano, de 26 anos, nega todas as acusações. Ele relata que apanhou de policiais civis e afirma que o material explosivo que a polícia diz ser dele não estava em sua bolsa no dia em que foi preso. Por cerca de 20 minutos, na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, no centro, ele contou em entrevista coletiva ontem sua versão da prisão em flagrante no dia 23 de junho, durante uma manifestação contra a Copa do Mundo.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública disse que o ativista "é réu em processo que está na Justiça, no qual é acusado de associação criminosa, entre outros crimes". A pasta diz que "até hoje" Harano não apresentou acusação formal sobre as "supostas agressões verbais ou físicas que afirma ter sofrido".

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A Justiça revogou a prisão do ativista na semana passada, após laudos do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da PM e da Polícia Científica comprovarem que o líquido que ele supostamente carregava não era explosivo. "Não sou black bloc, não sou o cara que sai quebrando as coisas, atacando policiais armados até os dentes, que ataca quem tem pistolas .40 e o Choque. Meu único vínculo é com o Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo). Procuro participar (de manifestações). Armaram uma prisão descarada para cima de mim", disse o ativista.

Ele estava acompanhado do senador Eduardo Suplicy (PT), do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, do deputado estadual Adriano Diogo (PT), do padre Júlio Lancellotti e da mãe, a dona de casa Helena Harano. Harano foi detido na Estação Consolação do Metrô, após um ato contra os gastos da Copa, na Avenida Paulista.

O professor Rafael Marques Lusvarghi, de 29 anos, também foi preso. Eles respondem por formação de quadrilha, porte de material explosivo, desobediência e incitação à violência.

Prisão.

Segundo Harano, ele estava na catraca da estação quando ouviu um tiro vindo do lado de fora. Antes de sair para filmar, conta que vestiu luvas e colocou um capacete. "Um sujeito à paisana começou a me puxar. A gente sabe que ninguém gosta de ser atacado. Eu me debati e comecei a chamar gente para filmar", disse.

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De acordo com ele, após a revista os policiais ficaram "desesperados" e com semblante de "aflição" porque, segundo a versão do ativista, nada de comprometedor foi encontrado. Depois, ele foi colocado dentro de uma viatura da Polícia Militar e levado para o Deic.

O ativista classificou a sala onde foi colocado no Deic como "cova dos leões". E disse ter sofrido socos, pontapés e joelhadas de dois policiais civis que estavam no local. Ele afirmou que durante o depoimento o diretor do Deic, Wagner Giudice, perguntou sobre os detalhes da tática black bloc. "Quando ele percebeu que tinha mais informações do que eu, viu que o tal 'japonês do capacete' não era coisa nenhuma", explicou.

Após falar com Giudice, Harano conta que foi prestar depoimento para um escrivão. "E me apresentaram um tubo que eu nunca vi na vida (material explosivo)." Do Deic, Harano foi levado ao Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, até ser transferido para a unidade prisional de Tremembé, no interior, onde ficou detido até a prisão ser revogada. "Ainda bem que nem bomba de verdade era. Fizeram uma coisa bem malfeita."

Defesa.

Harano aproveitou a coletiva também para "mandar um salve (saudação)" para os colegas com quem dividiu cela. Para o advogado de Harano, Luiz Eduardo Greenhalgh, a prisão foi "política" e "eleitoreira". Ele afirmou que seu cliente "está de molho" e o orientou a não usar telefone nem as redes sociais.

Até o dia 21, o advogado vai apresentar a defesa do ativista. Ele garantiu que seu cliente pode reconhecer os policiais que o agrediram. Já o senador Eduardo Suplicy prometeu entregar uma carta escrita por Harano para o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

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