Assaltos na proximidade de colégios assustam moradores do Morumbi

Bandidos aproveitam filas de carros. O 89.º DP registrou 1.699 roubos em 2021, patamar mais elevado desde 2014; no 34.º DP, foram 1.439, maior número desde 2019

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Por Gonçalo Junior
Atualização:

Pais e mães de alunos de colégios tradicionais do Morumbi, na zona sul paulistana, estão apreensivos com os assaltos que estão ocorrendo nos horários de entrada e saída dos estudantes. Bandidos aproveitam as filas de carros que se formam nas ruas próximas de escolas para assaltar. Outros congestionamentos na região, como na Avenida Giovanni Gronchi, também são foco de ação dos criminosos.

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Moradores relatam que longas filas de automóveis se formam nas proximidades dos colégios particulares Visconde de Porto Seguro e Miguel de Cervantes à espera da abertura dos portões, pela manhã, ou na saída dos alunos, no fim da tarde. Como o fluxo de veículos é intenso, a fila demora para andar. É neste momento que os bandidos assaltam.

“Os pais ficam muito apreensivos na entrada e saída dos alunos. Ficamos todos nas avenidas e ruas paralelas ou que circundam a escola, esperando a escola abrir os portões. Existe um volume grande de carros. Isso já é um perigo, um ponto de exposição”, diz uma empresária de 44 anos, que vive no Morumbi há 12 anos. “Nunca havia presenciado tamanha vulnerabilidade e medo. Enfim, estamos reféns”, lamenta.

Câmeras de segurança mostram a ação dos criminosos de moto no Morumbi Foto: Reprodução

A percepção de insegurança dos moradores é confirmada pelos registros das delegacias de polícia. O 89.º Distrito Policial, na região conhecida como Portal do Morumbi, registrou 1.699 roubos em 2021. É o patamar mais elevado desde 2014. Já no 34.º DP, na Vila Sônia, foram registrados 1.439 roubos, maior número desde 2019.

Várias dessas ações foram captadas pelas câmeras de segurança instaladas nos prédios e residências. Na quarta-feira, dia 9, por volta de 6h40, na Rua Luís Galhanone, dois homens armados, em cima de uma moto, tentaram assaltar os motoristas. Pelas imagens, é possível perceber veículos andando na contramão quando percebem a ação dos criminosos. Pais contam que a presença de seguranças não inibe a ação dos bandidos.

Funcionários dos colégios da região confirmam a onda de assaltos, mas garantem que se sentem menos expostos, pois usam uma entrada secundária, e não a principal.

A preocupação é tão grande que os pais estão mudando a grade curricular dos filhos. “Não coloquei minhas filhas em atividades extracurriculares para que elas não voltem mais tarde da escola e eu não pegue a avenida parada”, conta a mãe de duas crianças, uma de 5 e outra de 10 anos, preocupada com o congestionamento no retorno para casa nas vias vizinhas, principalmente na Giovanni Gronchi.

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Policiais envolvidos nas investigações confirmaram ao Estadão o elevado número de casos de assalto nas últimas semanas. “Todo dia temos uma ocorrência”, afirma um investigador. Para flagrar a ação dos bandidos, uma das estratégias da polícia é usar carros descaracterizados e percorrer as ruas de maior movimento nos horários em que são registradas ocorrências, de manhã e à tarde.

As investigações apontam que os bandidos quase sempre estão com motos. Em alguns casos, são quatro bandidos, dois em cada uma. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que “as forças de segurança estão intensificando as operações policiais em todas as regiões do Estado, inclusive na região do Morumbi”. Segundo a pasta, em 2021 foram presos 42 criminosos no Morumbi e recuperados 50 veículos roubados e furtados, além de apreendidas oito armas.

As ocorrências na região não ficam restritas às proximidades dos colégios. Câmeras de segurança também registram assaltos a pedestres. Em um deles, no mês de janeiro, um morador está correndo sozinho, com trajes esportivos, quando é abordado por dois homens em uma moto. Ele entrega o celular, o relógio e os fones de ouvido. A câmera marca 5h35. Em outro registro, um casal caminha com cães quando é abordado na frente de um condomínio. Dois bandidos levam os celulares.

Moradores relatam que os assaltos também têm sido frequentes nos congestionamentos da Avenida Giovanni Gronchi. A longa fila de carros parados, com pouco espaço para fuga, representa uma oportunidade para os criminosos. Sabendo disso, muitos moradores mudam sua rotina. Um empresário de 53 anos conta que tem saído do trabalho, na Rua Vergueiro, uma hora depois do horário habitual para evitar o trânsito. “Os assaltos estão mais recorrentes e o medo de circular pela região é grande. Meu carro não é blindado e confesso que saio receoso.”

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Procurado pelo Estadão, o Colégio Porto Seguro afirmou em nota que “está atento às ocorrências no bairro e em contato com os órgãos de segurança, visando a contribuir para a tranquilidade da comunidade escolar e em ações que visem a melhorar a segurança de todos”. O Colégio Miguel de Cervantes afirma que tem “constante preocupação com o bem-estar e a tranquilidade de seus alunos, professores, colaboradores e famílias que circulam por nossas dependências, acessos e entornos todos os dias, no bairro do Morumbi”.

A instituição revela que possui “um plano de segurança que constantemente é revisado e atualizado, no sentido de identificar as necessidades que devem ser atendidas e as orientações que precisam ser passadas a todos os envolvidos”. O Miguel de Cervantes também revelou detalhes do seu esquema de segurança. “Temos uma equipe de 30 profissionais de uma empresa especializada em segurança que trabalha para o colégio. Essa equipe de segurança recebe capacitação periódica e acompanha a movimentação nas ruas em que estão nossas duas portarias, principalmente nos horários de entrada e saída dos alunos”.

O colégio informa ainda que possui um carro da empresa de segurança que monitora os horários de entrada e saída na portaria. E mantém “controle rigoroso na identificação de todos que acessam nossas dependências” / COLABOROU MARCO ANTONIO CARVALHO

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