As veteranas da zona azul

Pioneiras ainda em atividade na função, criada pela CET em 1981, contam como é seu dia a dia

PUBLICIDADE

Por Cristiane Bomfim
Atualização:

Quando vestiu o uniforme da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) pela primeira vez, há 23 anos, Maria Neusa de Lima, de 50, não tinha ideia de como seria o trabalho. "Só sabia que o serviço seria externo." Ela é uma das mais antigas fiscais de Zona Azul em atividade na capital, função que existe desde 1981. Começou cinco anos depois de Marilda de Jesus Almeida Paiva, de 48 anos, e de Rosa Ferreira da Silva, de 52.Quando elas chegaram à CET, apenas mulheres trabalhavam na função de vendedoras de Zona Azul. Depois, quando as "moças" deixaram de vender os talões, passaram para a função de operadoras, cuidando da fiscalização. Ainda hoje são maioria: 150, do total de 274 operadores.Maria Neusa foi contratada para cobrir férias de uma amiga, em 1987. Na época, não eram realizados concursos. Recebeu um talão de autuações, caneta e foi para as ruas fiscalizar as vagas de Zona Azul. Uniforme marronzinho. De lá para cá, muito mudou. O terninho azul-céu e depois um conjunto de saia e blusa beges foram substituídos pelos uniformes marronzinhos. Até 1987, as mocinhas da Zona Azul eram vistas pelos motoristas como mulheres que colocavam papeizinhos nos carros e nada acontecia ? foi só naquele ano que elas passaram a ter o poder de multar. Anteriormente, era só a Polícia Militar que autuava. "Colocávamos aviso no carro. O motorista chegava, jogava o papel fora e continuava na vaga. Às vezes, a gente ficava o dia inteiro escrevendo bilhetinhos e o policial não passava", diz Marilda.Houve dias difíceis para elas ao longo desses anos. Hoje já se acostumaram com as reclamações e os xingamentos dos motoristas. Uma pessoa chegou a arremessar um cachorro vivo do alto de um prédio, no centro, na tentativa de atingir Neusa. Os motoristas que sabem que estão errados, dizem elas, são os que mais reclamam quando são autuados. Primeiramente, eles inventam justificativas, depois tentam cancelar a multa e ? por fim ? apelam para ofensas. "Nos chamam de mal-amadas, gordas e por aí vai", diz Marilda. As mulheres, afirmam as agentes, ficam mais descontroladas quando tentam impedir a multa. "Aí parecemos bruxas", afirma Neusa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.