''As cidades são os lugares dos experimentos para que o mundo seja melhor''

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Por Diego Zanchetta
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ENTREVISTA - Parag Khanna, Cientista Político da New American Foundation O uso das redes sociais no caso do Metrô em Higienópolis e na campanha contra o fim do Cine Belas Artes ajuda a descentralizar o poder dos governos, na avaliação do cientista político Parag Khanna, da New American Foundation. Aos 34 anos, o analista internacional mais pop dos Estados Unidos está convencido de que o Facebook e o Twitter ampliam a possibilidade de cidadãos promoverem mudanças sistêmicas na sociedade, seja na Noruega ou em uma cidade pobre da África. "Ninguém mais precisa esperar um líder para se mobilizar e buscar seus interesses. Nem a democracia é mais pré-requisito na era das redes sociais", disse Khanna ao Estado. Ele cita comunidades no interior da China que estão usando a internet para buscar seus direitos. Indiano, há duas décadas em Nova York, Khanna se destacou como assessor de política externa do presidente Barack Obama durante campanha em 2009. Hoje ele presta consultoria para o G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) e ensina como associações, trabalhadores e organizações não governamentais (ONGs) podem criar processos inovadores em suas cidades. É o que aconselha seu mais recente livro, Como governar o mundo, que o ajudou a ficar entre as 75 personalidades mais influentes do mundo, segundo a revista Esquire.Após conceder palestra para 4 mil pessoas na terça-feira, em Curitiba, durante a Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, Khanna conversou com os jornalistas. Leia a seguir os principais trechos.Como você analisa campanhas e mobilizações em redes sociais, como Twitter e Facebook, que acabam tomando grandes proporções e influem diretamente em decisões de governos? A conectividade entre pessoas de diferentes cidades descentraliza o poder dos governos e forma um espaço colaborativo. O mundo não está mais dividido em países, mas em espaços conectados e não conectados. O problema é que as instituições, com suas estruturas hierárquicas, ainda têm dificuldades de compreender a dinâmica dessas ferramentas. O melhor modelo de cidade é aquela governada em conjunto por moradores, prefeitura, associações e empresas, todos conectados em redes e trocando informações.Como é a liderança e quem a exerce nos movimentos na web?Ninguém precisa de um líder nesse caso. A liderança é um problema em diversas situações. Aliás, ninguém mais deve esperar um líder para promover as mudanças. Nem a democracia é um pré-requisito na era das redes sociais. Temos diversos municípios no interior da China se organizando pela internet por mais direitos em um ambiente não democrático.É possível "mudar o mundo" hoje sem fazer passeata na rua?Sim. Eu acredito mais na construção de comunidades do que em nações. Creio que a descentralização de poder por meio da internet pode gerar processos inovadores valiosos, com a possibilidade de promover mudanças sistêmicas na sociedade.Como as cidades, com suas peculiaridades e regionalismos, podem adaptar-se a um sistema cada vez mais globalizado? Bons governos locais se adaptam a bons governos globais. As cidades são protagonistas da inovação, elas sempre estiveram na ponta do processo de inovação, como agora nas campanhas dentro das redes sociais. É onde as pessoas vivem que se inicia o desenvolvimento, que deve ser perseguido por meio de parcerias entre governo, empresas e sociedade civil. As cidades são os lugares dos experimentos para que o mundo seja melhor. Mas devemos ter consciência de que a harmonia e o equilíbrio das cidades é um tema multifatorial: passa por delicados temas, como controle da natalidade, diminuição no consumo da carne como alimento humano, novos horários de trabalho, pedágios em áreas centrais, embalagens biodegradáveis, alimentação e medicina preventivas, uso racional da água, construções ecológicas. A conectividade entre as pessoas é a solução para ampliar a participação de todos os setores da sociedade nas mudanças? Isso já funciona muito bem na Alemanha e na Suécia. É uma solução sim.

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