
12 de abril de 2013 | 02h07
Na Estação Júlio Prestes, há 60 bicicletas penduradas por cabos de aço. No terreno vazio, que anos atrás abrigava a rodoviária da capital, oito cataventos gigantes se movimentam com a ação do vento. São sonhos do artista plástico Eduardo Srur, concretizados na próxima exposição, chamada Sonhos e Pesadelo. O pesadelo será representado por um farol negro, coberto por ratos de borracha no Vale do Anhangabaú, na região central.
Essa é a primeira vez que Srur intervém na região central, lugar onde sempre quis trabalhar. Segundo ele, só lhe faltava o entendimento de toda a "intensidade" daquele local. A intenção do artista agora é propor a mudança de olhar em cada um desses lugares e trazer um contraponto à realidade, mas tudo isso de forma lúdica e surrealista. As bicicletas já foram instaladas na Estação Júlio Prestes, mas as outras duas obras estarão completamente prontas somente na segunda-feira.
Reconhecido por intervenções que propõem a discussão de temas polêmicos da cidade - como, por exemplo, as 20 garrafas pet gigantes que foram jogadas no Rio Tietê em 2008 e a carruagem instalada na ponte estaiada no ano passado -, Srur afirma que desta vez o caráter crítico não será o fator central. "Estou em um momento mais surrealista e quero interpretar esses lugares de forma onírica. A cracolândia é uma paisagem tão grotesca e surreal, que a intenção é mesmo criar um espaço criativo", diz.
Tanto é que, no espaço da antiga rodoviária, impressionante por sua imensidão vazia, o artista buscou como inspiração a visão idílica do personagem espanhol Dom Quixote e seus moinhos de vento. A pesquisa para a obra vem sendo desenvolvida há um ano, pois Srur estava em busca de materiais e estruturas plasticamente viáveis, o que era difícil pelo tamanho da obra.
Moradores de rua e viciados que transitam pela região não foram consultados, mas o artista afirma que as instalações foram pensadas também para esse público. "Este quadrante no meio da cracolândia é muito Kafka, é o apocalipse, e essa obra vem trazer algum alento", explica.
Rios. Apesar de estar focado no centro da cidade, Eduardo Srur diz que não abandonou sua pesquisa sobre os rios da capital. A escolha do Vale do Anhangabaú para representar o pesadelo não foi em vão. Como seu nome sugere, o Anhangabaú está em um vale, por onde passavam rios, hoje aterrados. A instalação representa, portanto, o submundo, e torna visível aquilo que é invisível, além de sinalizar para um futuro pouco esperançoso. "A cidade é um campo de força que pode transformar seu pior pesadelo em realidade", alerta.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.