
22 de fevereiro de 2013 | 02h06
Tem artista que começa a carreira pintando os muros da cidade e, em um segundo momento - após ganhar fama e respeito no meio -, passa a pintar telas e a participar de exposições em galerias. O argentino Tec, de 37 anos, fez justamente o contrário.
Formado em Desenho Gráfico pela Universidade de Buenos Aires, ele veio para o Brasil a convite da Galeria Choque Cultural, mas ganhou notoriedade quando resolveu desenhar figuras gigantes em ladeiras de São Paulo. As pinturas provocaram reações inesperadas.
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Tudo começou há um ano, quando o artista se mudou para a capital. A primeira obra da série surgiu na Rua João Moura, em Pinheiros, na zona oeste. Tec desenhou ali o contorno de uma figura humana que segura um rolo em uma das mãos e cruza as pernas em volta da faixa central da via, como se ela fosse um cano por onde o personagem desliza.
Curiosidade. "Foi impressionante, saí uma noite de casa e, quando voltei, estava ali aquele desenho", diz a publicitária Nina Hungria, de 43 anos, cuja sacada de seu apartamento dá para a ladeira. "Fiquei tão intrigada com a pintura que resolvi investigar quem tinha feito." Nina descobriu Tec no Facebook e lhe enviou um e-mail. "A rua ficou muito mais divertida, você não poderia ter escolhido um lugar melhor para ele. Não sei se você tem passado por ali, mas de um tempo para cá o desenho está apagando", escreveu Nina, pedindo um retoque.
"Não retoquei. Acho melhor pintar outra coisa em cima", diz Tec, que ficou feliz com os inúmeros e-mails recebidos que expressavam satisfação com o novo visual da via.
Nessa época, o artista ainda não conhecia bem a cidade e, com medo de se perder, não esquecia do GPS de bolso.
"Não tinha amigos aqui. Tudo era desconhecido. O meu celular nem tocava." Foi assim, sem querer, que descobriu Perdizes. "Na Argentina não tem isso, ladeiras", diz, até hoje, admirado.
Em uma noite, ele foi com rolo, spray e tinta para a Rua Bartira e começou a desenhar uma lagartixa. "Moradores saíram de casa e foram me ajudar. Alguns trouxeram água, outros ajudaram a desviar os carros para que o desenho não estragasse."
Confusão. Entusiasmado, o argentino fez um rato na rua paralela, a Caiubi. "As pessoas odiaram. Acharam ofensivo. Disseram até que era uma provocação argentina. Não tive a intenção", diz Tec. "Quando se escolhe um suporte não convencional, como a rua, a arte ganha outra dimensão. O artista precisa estar preparado ao alterar o espaço onde as pessoas vivem", afirma.
Tec fará uma exposição individual em maio na Choque Cultural. "Vou pedir para ele pintar um peixe no asfalto, na frente da galeria", antecipa o curador Baixo Ribeiro. "Aquele trecho alaga sempre que chove."
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