Em alta, aquarismo requer dedicação e espaço

Aquaristas amadores e profissionais mudam rotina em casa em função dos peixes e plantas

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Por Gilberto Amendola
3 min de leitura

SÃO PAULO - A lembrança do pai chegando em casa com um aquário redondo e um peixinho dourado é mais recorrente. Embora o final dessa história seja uma criança aprendendo sua primeira lição sobre a finitude da vida, a experiência é a responsável pelo surgimento de uma geração inteira de aquaristas amadores e profissionais.

Sandro Tarabay e seu filho Dodi Tarabay, de 7 anos Foto: Helvio Romero/Estadão

No mundo, a população de peixes ornamentais (em aquários) é maior do que a de cães e gatos (são quase 650 milhões de peixes para menos de 500 milhões de cães). Já no País, segundo o Instituto Pet Brasil, os peixes de aquário somam um pouco mais de 19 milhões - atrás de cães (54, 2 milhões), aves (39,8 milhões) e gatos (23, 9 milhões). “Existe uma tendência natural de que a procura por peixes ornamentais aumente. Isso porque as pessoas estão morando em lares menores e aquário não demanda muito espaço físico”, diz Edson Rechi. 

O aquarismo é a arte de criar organismos aquáticos como peixes, plantas, invertebrados, entre outros seres, em aquários ou lagos. Trata-se de um hobby que demanda algum conhecimento técnico, noções de biologia e química básica. Até por isso, é considerada uma “brincadeira” de adultos. “As crianças se encantam, mas o trabalho que dá acaba transformando em algo mais adulto”, diz o também aquarista Sandro Tarabay. 

Ele começou na prática ainda na infância. “Meu tio tinha um aquário no escritório. Eu era fascinado com aquilo. Mas o meu início foi complicado, meus peixes morriam e eu estava quase desistindo. Aí, o meu filho ganhou um betta (uma das espécies mais comuns) da mãe. Quando o peixe morreu, ele encontrou o peixinho morto na privada. O menino ficou tão triste que eu prometi montar um aquário com ele. Resultado: estou nessa vida até hoje”, recordou. Atualmente, Tarabay tem aquários que chegam a uma tonelada e meia de água - com peixes amazônicos primitivos (que podem viver até 30 anos) e todo um paisagismo que reproduz o hábitat natural. 

Presidente da Associação Brasileira de Aquariofilia (Abraqua) e produtor de peixes, Cássio Ribeiro Ramos, também teve a iniciação na infância - encantado pelos peixinhos que nasciam em ambientes controlados. “Uma vez, fui expulso da sala de aula por estar fazendo bagunça. O diretor do colégio chegou para mim e perguntou o que eu queria fazer da minha vida. Disse que era cuidar de aquários”, contou. “Esse mesmo diretor me apresentou um amigo que tinha uma loja de peixes ornamentais. Comecei minha carreira trabalhando lá.” 

Ramos diz que o aquarismo só não é maior no País porque o governo tem imposto muitas barreiras para a aquisição de espécies. O Ibama, por exemplo, mantém listas “positivas” e “negativas” com os peixes que podem ou não ser criados. Os aquaristas reclamam, principalmente, do caso do peixe Aruanã da Amazônia. “O governo libera a pesca para alimentação, feita de forma agressiva com rede, e proíbe que o Aruanã seja capturado para fins ornamentais, algo muito menos predatório, feito com mergulhadores e pequenas redes”, diz. Segundo ele, o quilo do Aruanã morto (para alimentação) não passa de R$ 8. Já um “indivíduo” capturado para aquarismo pode custar R$ 500.  

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Na arquitetura. O mundo do aquarismo também flerta com a arquitetura, o paisagismo e a decoração de interiores. A Aquabase, por exemplo, é uma empresa procurada por pessoas que querem projetar espaços considerando apartamentos. “O que nossos clientes procuram é, na maioria das vezes, um jardim submerso que reproduza as condições naturais”, afirma o proprietário Luca Galarraga. Segundo ele, o valor dos projetos e instalações custa a partir de R$ 3 mil, mas “o céu é o limite”. Além disso, empresas fazem o serviço de manutenção do aquário (que pode ser semanal ou quinzenal). 

A designer de joias Melissa Pepe, de 44 anos, tem um aquário que foi projetado especialmente para o seu apartamento. “Quando me mudei, resolvi ter um aquário no meio da sala. Ele tem cerca de 3 metros de comprimento e chama muito a atenção das visitas”, conta. Melissa fez cursos para aprender como funciona a manutenção do aquário, mas, como isso estava tomando 4 ou 5 horas por semana, decidiu terceirizar o serviço.  

Outro que instalou uma peça no meio da sala foi o consultor de tecnologia Cristiano Dencker. “Controlo todos os fatores, como pH, temperatura e nível de água, por um aplicativo”, afirma. E o aquário tem ajudado a criar uma conexão com o filho - que ajuda na alimentação. “É tão importante para uma criança... Recentemente, ele estava preocupado com o destino dos peixes depois da morte, em como eles iriam virar uma estrelinha.”

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