Apuração de casos de tortura enfrenta obstáculos

Omissão de autoridades, dificuldade de comprovação por perícia e falta de interesse de criminosos em fazer denúncias estão entre as principais causas para a falta de punição, segundo especialistas

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

Especialistas ouvidos pelo Estado apontam várias causas para as denúncias de tortura ficarem sem punição. Entre elas estão a suposta omissão de autoridades que deveriam coibir o crime, a dificuldade de se comprovar por meio de perícia a tortura de suspeitos, a falta de interesse de criminosos em denunciar o delito e até a banalização desse tipo de alegação por bandidos detidos. Haveria ainda dificuldade em diferenciar os crimes de lesão corporal, de constrangimento ilegal e maus-tratos do delito de tortura.

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Foi assim no caso do investigador filmado dando uma surra em um comerciante de tapetes persas, em 2016, nos Jardins, na zona sul de São Paulo. A Corregedoria decidiu indiciá-lo por injúria, constrangimento ilegal, falsidade ideológica e corrupção. Mas o Ministério Público decidiu acusá-lo de tortura, o que levou à condenação do réu a 11 anos de prisão.

Para o advogado Martin Sampaio, os números mostram a omissão de agentes do Estado que não apuram os crimes. A desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, disse que muitos dos casos são arquivados por insuficiência de provas, após soltura na audiência de custódia. “As vítima somem e toda alegação se perde. O número de denúncias é alto, mas o de condenações é perto de zero. O sistema de prova está errado.” Para o pesquisador Guaracy Mingardi, a tortura diminuiu muito na Polícia Civil. “Um dos motivos é não ter mais preso nas delegacias.”

No caso da PM, o total de queixas feitas por presos nas audiências de custódia chegou a 2.770. Para Mingardi, se a corporação tivesse interesse em controlar isso, bastaria verificar quando o sujeito foi preso e quando foi apresentado na delegacia. “A tortura é contraproducente para a segurança, pois mostra que o Estado não respeita a lei. E, se ele não respeita, quem sofre isso também acha que não tem de respeitar.”

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