Entidades ligadas à proteção da população de rua relataram nesta quarta-feira, 30, a morte de um homem na Praça da Sé, no centro da cidade, possivelmente ligada ao frio. São Paulo registrou no amanhecer desta quarta a menor temperatura em cinco anos: 6,3º C. Diante das baixas temperaturas, a Defensoria Pública recomendou providências a fim de evitar mortes.
Segundo levantamento do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), morreram sete pessoas em situação de rua no inverno de 2020 e outras sete no inverno deste ano. "Sempre nas baixas temperaturas há um aumento no número de mortes", diz o coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Darcy Costa.
Na madrugada desta quarta, o movimento mapeou um óbito por homicídio e outro por causas desconhecidas. Este último foi de um idoso, na Praça da Sé. A informação da morte coincide com a coletada pelo padre Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua.
Segundo o padre Julio, nem sempre é simples verificar se a causa da morte de moradores de rua é o frio. "Nas madrugadas frias, os corpos vão para a necropsia e não conseguem detectar se foi por hipotermia."
Doenças que a população de rua tem, diz o padre, são agravadas nas baixas temperaturas. Os trabalhos para a entrega de agasalhos continuam diante do risco. "É por isso que nós entregamos muitos agasalhos, cobertores, moletons, jaquetas, luvas e o que puder ajudar", conta.
A Prefeitura de São Paulo não confirmou a causa da morte verificada na Praça da Sé. Procurada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) não respondeu.
Por causa da queda nas temperaturas, a Defensoria Pública de São Paulo encaminhou nesta quarta-feira, 30, um ofício à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e à Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo cobrando a adoção de providências voltadas à população em situação de rua.
A Defensoria recomenda a ampliação imediata do número de vagas disponíveis para acolhimento, a oferta de abrigos emergenciais, a intensificação das abordagens sociais nos locais onde se verifica a presença de população em situação de rua e a suspensão imediata de quaisquer ações de retirada de pertences da população que se encontre na rua.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo informa que, por causa da forte onda de frio, destacou o Clube Esportivo Pelezão apenas para receber pessoas que aceitarem acolhimento. "Apenas nessa unidade são 140 vagas. As pessoas com suspeita de covid-19 são encaminhadas para o Centro de Acolhida Emergencial da Vila Clementino", informou.
Na madrugada de quarta-feira, foram acolhidas 227 pessoas, houve 30 recusas e 200 cobertores foram distribuídos. Ainda na quarta, foi publicada uma portaria que institui o comitê para o Plano de Contingência para Situações de Baixas Temperaturas, que se estenderá até 30 de setembro. A ação é reforçada sempre que a temperatura atinge um patamar igual ou inferior a 13ºC ou sensação térmica equivalente.
A Prefeitura reforça que a população pode ajudar solicitando uma abordagem social pela Central 156. O acionamento da abordagem pode ser anônimo, mas é importante informar o endereço da via em que a pessoa em situação de rua está (o número pode ser aproximado), citar características físicas e detalhes das vestimentas da pessoa a ser abordada.
Segundo o padre Júlio, muitos não aceitam ir para o acolhimento da Prefeitura porque a escolha também depende da localização, já que a população em situação de rua se organiza por zonas. "Um meio que a gente tem sugerido são os leitos na rede hoteleira. A estrutura está pronta. As outras propostas demandam um pouco mais de tempo", complementa.
O padre diz ainda que a população pode colaborar de diferentes formas. "Oferecer uma bebida quente, uma meia, um agasalho, são coisas que todos podemos fazer", destaca.