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Após morte por febre maculosa, condomínio abate capivaras em Itatiba

O animal é hospedeiro do carrapato-estrela, transmissor da doença. Ministério Público pediu informações à Secretaria do Meio Ambiente, que autorizou a medida

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – Depois da morte de um morador pela febre maculosa, em 2018, um condomínio residencial foi autorizado pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado a abater capivaras, em Itatiba, interior de São Paulo. O animal é hospedeiro do carrapato-estrela, transmissor da doença, através da bactéria Rickettsia. Até a tarde desta terça-feira, 18, ao menos 20 capivaras jovens e adultas já tinham sido mortas. O abate causa polêmica entre os moradores e é criticado por ambientalistas, que defendem outras formas de controle do carrapato. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pediu informações à pasta.

Animais são capturados após serem atraídos para armadilhas Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

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A eutanásia das capivaras é realizada em um momento em que o roedor ganhou destaque, ao ser escolhido pela Conmebol como mascote da Copa América, que tem jogos até o dia 7 de julho no Brasil. Os animais estão sendo abatidos por uma consultoria ambiental contratada pelo condomínio. Os espécimes, inclusive filhotes, são capturados após serem atraídos para armadilhas instaladas no condomínio, com iscas como bananas e gomos de cana-de-açúcar. As capivaras mortas são incineradas ou descartadas em aterro autorizado.

O síndico do condomínio Ville de Chamonix, José Augusto da Silva, disse que outras formas de controle não foram autorizadas pelos órgãos ambientais. “Pensamos em migrar os animais para outros locais e até em castrar, mas não conseguimos autorização. Em razão do óbito que aconteceu, o condomínio foi considerado área de risco para febre maculosa, por isso foi autorizado o abate”, disse. A morte do morador aconteceu em janeiro de 2018. O condomínio tem 480 famílias. 

O ambientalista e vereador em Valinhos, César Rocha (Rede), disse que matar as capivaras por causa do carrapato é uma medida covarde. “As capivaras são inocentes, não são elas que transmitem a doença. O transmissor é o carrapato que vai continuar vivendo”, disse. A ONG União Protetora dos Animais, presidida por Rocha, iniciou um movimento na tentativa de salvar as capivaras. Numa rede de petições da comunidade, circula um abaixo-assinado contra o “assassinato” dos animais. 

O abate causa polêmica até entre moradores do próprio condomínio. Moradora há 22 anos, a aposentada Sueli Fassio disse que a saúde pública é importante, mas há outras formas de controlar a doença sem sair matando os animais. “É uma hipocrisia o Brasil eleger a capivara como símbolo da Copa América e um órgão do governo (paulista) autorizar essa matança.” Outro morador que pediu para não ser identificado disse que o abate é desnecessário, pois as capivaras foram contidos em um local cercado, sem acesso aos moradores.

A diretora do Departamento de Fauna da Secretaria, Vilma Geraldi, disse que outras alternativas à eutanásia das capivaras foram examinadas, seguindo normas estabelecidas pela pasta, em conjunto com a Secretaria da Saúde. “Nesse caso, em que houve sorologia positiva para a bactéria e já aconteceu um óbito, a recomendação é fazer a eutanásia do grupo. A febre maculosa é uma doença muito grave. Não podemos ignorar que se trata de um local onde as pessoas circulam, há risco para as crianças e pessoas que trabalham lá. ”, disse. 

Segundo ela, os pesquisadores da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) colheram carrapatos e examinaram amostras de sangue das capivaras, encontrando a bactéria. A área foi declarada de risco para transmissão da doença. “Se não fizermos a eutanásia, vamos perpetuar a presença da bactéria no local, com risco para as pessoas. Mesmo após a saída dos animais, a bactéria resiste por dois anos no local. Transferir a capivara também não seria solução, pois estaríamos apenas levando o problema para outro lugar”, justificou.

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O MP-SP informou que a representação contra o abate de capivaras foi protocolada no dia 27 de maio e está em andamento.

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