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Após 21 dias de ataque, mães ainda fazem vigília em escola de Suzano

Elas dizem que faltam professores, policiais e psicólogos; secretaria nega

Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - Sem sentir segurança em deixar sua filha de 17 anos sozinha na Escola Raul Brasil, Débora de Andrade, de 35 anos, ficou na frente do portão durante todo o período de aula da menina na segunda-feira. Há 21 dias, o massacre de Suzano deixou 10 mortos e os pais ainda fazem vigília e vão buscar as crianças mais cedo. Além disso, criticam a falta de psicólogos, policiais e professores. “Todo mundo ainda está em choque. Os alunos estão devastados e os professores, também. Muitos faltaram e os estudantes ficaram com aula vaga, sem supervisão”, conta ela. 

Alunos relatam dificuldades na retomada da rotina após ataque no local Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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A estudante Thais de Oliveira Laurindo, de 17 anos, afirma que das seis aulas de segunda-feira, véspera de um feriado municipal, teve apenas duas, por falta de docentes. Os alunos foram liberados para ficar no pátio ou na quadra. “Mas eu ainda estou muito assustada com tudo o que houve. Olho para o pátio e lembro da tragédia, não queria nem sair da sala.”

A contadora Juliana Ribeiro, de 35 anos, mãe de duas alunas do 1.º e do 3.º ano, diz que a ausência dos professores deveria ser um alerta para a necessidade de mais cuidado com a saúde psicológica de todos os que viveram a tragédia. “Os funcionários estão sofrendo com o que aconteceu e não conseguem sozinhos dar suporte aos alunos. Por isso, seria importante a presença de profissionais de fora, que não vivenciaram o massacre, para ajudar nessa recuperação”, diz.

Coordenadora da equipe de apoio psicológico à escola Raul Brasil, Marilene Proença, diretora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), afirma que a presença dos profissionais da área foi pensada para um auxílio de emergência, mas as equipes continuam atendendo no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). “Continuamos trabalhando como equipe de apoio. Quem organiza todas as ações é a Secretaria Estadual de Educação.”

Um grupo de pais se organiza pelas redes sociais para solicitar uma reunião com a diretoria. Em uma carta, eles reclamam de não ter acesso à informação sobre o que está sendo feito para melhorar a segurança e para dar suporte psicológico imediato aos alunos e funcionários. “Há crianças que estão comendo no banheiro na hora do recreio, com medo de ficar no pátio. Outras ficam planejando fuga”, diz o texto. 

Reforço

 Procurada, a Secretaria Estadual de Educação informou que “funcionários das Diretorias de Ensino foram mobilizados para reforçar a equipe da escola, considerando a falta de professores que ainda não haviam retornado às atividades”. “Essa é uma estratégia que seguirá acontecendo para evitar que estudantes fiquem com aulas vagas”, ressaltou. 

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Na mesma nota oficial, afirmou que “técnicos do Centro de Referência e Apoio à Vítima, da Secretaria Estadual de Justiça, continuam na escola para atendimentos individuais e coletivos”. Também há reuniões com grupos voluntários que devem atuar “em ações de apoio psicológico e formativo” até o mês de agosto.

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