Após 20 anos, Igreja de São Francisco acaba com ceia

Tradição que atendia 3 mil pessoas foi encerrada porque não tinha mais propósito, diz superior dos frades

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Por Marcela Spinosa
Atualização:

A faixa na porta da Igreja de São Francisco, no largo de mesmo nome, no centro de São Paulo, anuncia o fim de uma tradição de 20 anos: a ceia na véspera de Natal para moradores de rua. "A refeição virou uma coisa sem propósito e sem compromisso, que não beneficiava ninguém. Não conseguimos ajudar essas pessoas. Queremos um serviço social organizado e eficaz", diz o superior dos frades, Salésio Lourenço Heilleshim, que dirige o convento franciscano ao qual pertence a igreja. O franciscano afirma que a ceia, uma marmita com arroz, feijão e uma carne, foi criada para alimentar moradores de rua atendidos pelos projetos sociais do convento. Com o tempo, ampliou-se a entrega. Cerca de 3 mil pessoas faziam fila toda véspera de Natal na frente da igreja. "Não sabíamos quem eram essas pessoas. Algumas jogavam a comida fora, outras comiam só a carne e a Prefeitura começou a reclamar da sujeira", diz o frade. Diante disso, em agosto, os frades começaram a discutir o fim da ceia, uma decisão, segundo Salésio, difícil. "É muito mais fácil dar o cobertor do que ajudar a pessoa a se aquecer. É isso que queremos. Solidariedade e compromisso com os pobres, ajudá-los a ter uma vida digna." Quem aparecer na igreja na véspera de Natal será orientado a participar de um dos projetos sociais do convento. Dessa forma, a pessoa poderá receber a ceia do Natal Solidário, evento promovido pelos frades e outras entidades sociais do centro. Neste ano, 1,2 mil moradores de rua participarão do evento. Paulo César Tiengo, de 26 anos, vive na rua e apoia a decisão. "As pessoas se acostumam. Morador de rua tem muita regalia no centro. Só passa fome quem quer." Neste ano, ele vai jantar em Santa Cecília, em um evento de entidades do bairro.

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