ITU - Durante dez meses, em 2014, a dona de casa Sueli Borges, de 58 anos, moradora de Itu, interior de São Paulo, repetiu a rotina de enfileirar tambores plásticos na calçada para que fossem enchidos com água pelo caminhão-tanque. A crise hídrica mergulhou a cidade em um racionamento drástico e no bairro dela, o Cidade Nova, as torneiras só viam água uma vez por mês. Para lavar roupa, cozinhar e tomar banho, ela recorria à água vendida por uma empresa. Ao longo do período, a família de cinco pessoas teve um gasto extra de R$ 3 mil.
Na quarta-feira, 5, Sueli foi flagrada pela reportagem lavando a calçada de casa. Sem jeito, explicou que limpava a sujeira de pássaros, que já causava mau cheiro. Segundo ela, desde o início do ano o abastecimento está normal no bairro. Mesmo assim, não se livrou dos quatro tambores, dois galões e outros recipientes usados para armazenar até mil litros de água no racionamento. "Nunca se sabe quando vai faltar de novo."
O desperdício se reflete no consumo, que está elevado, em razão das altas temperaturas. A concessionária Águas de Itu já pediu à população que evite o uso excessivo para não agravar a escassez comum nesse período. Uma campanha contra o desperdício é veiculada nas rádios locais. "Itu é um município com bacias insuficientes para atender à demanda e o momento é de atenção", informou em nota. A empresa trabalha com a previsão de que o período chuvoso só se inicie na segunda quinzena de setembro, mas ainda não fala em racionamento.
Banho conjunto. Os tambores vazios também permanecem à frente da casa de Valéria Moraes, de 17 anos, que cuida dos sobrinhos Luis, Gabriele, Isabele, Emanuele e Israel, com idades entre 2 e 10 anos, enquanto os pais deles trabalham. Mas a família aprendeu a viver com pouca água. “Agora, os pequenos tomam banho juntos.”