12 de agosto de 2016 | 03h00
O problema da demora na investigação e julgamento do crime, gerando impunidade, é o que ajuda a produzir o comportamento de policiais envolvidos com assassinatos. Isso acaba sendo um incentivo ao infrator. Mas, se ele percebe que o promotor está investigando e punindo o colega ao lado dele, certamente haverá uma mudança de postura. Tem de mostrar que a lei vale para todos e oferecer uma resposta rápida e segura.
A atuação de matadores já foi uma realidade muito presente no Estado de São Paulo nas décadas de 1980 e 1990, quando policiais se associavam a interesses locais para cometer assassinatos sob a crença de que seria possível melhorar a segurança pública. Estudos mostraram que, na verdade, a presença de grupos de extermínio gerava uma espiral de violência, com um desequilíbrio na ecologia social, produzindo cadeias de vingança e banalização do homicídio.
Episódios críticos, de antagonismo forte com a sociedade, costumam ajudar a forjar políticas públicas em resposta a comportamentos inadequados. Diante disso, a polícia sofre ao perceber que há rotinas que não resistem a controles. É muito ruim que tenhamos de passar por essas crises, mas elas permitem modificar procedimentos. É o momento de a corporação olhar para dentro e responder ao que está dando errado. O combate deve ser combinado com uma atuação forte de inteligência e uma investigação contínua da Polícia Civil e do Ministério Público.
LEANDRO PIQUET CARNEIRO É CIENTISTA POLÍTICO, PROFESSOR DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA USP E MEMBRO DO NÚCLEO DE SEGURANÇA DO CENTRO DE LIDERANÇA PÚBLICA
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.