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AMAs atendem sem pediatra e com apenas um médico no Itaim Paulista

Ao menos duas Assistências Médicas Ambulatoriais da região estavam sem a especialidade nesta segunda-feira e pacientes ficaram sem atendimento

Por Túlio Kruse
Atualização:
Falta de médicos na AMA Jardim das Oliveiras já se tornou notória entre moradores do bairro; muitos passam no pronto-socorro nas primeiras horas da manhã apenas para confirmar o número de clínicos e pediatras, e preferem não ficar na fila Foto: Tulio Kruse/Estadão

Os pacientes já estão acostumados com a falta de médicos na Assistência Médica Ambulatorial (AMA) do Jardim das Oliveiras, no Itaim Paulista. Nesta segunda-feira, 22, a unidade funcionava sem pediatra e com apenas um clínico-geral, em desacordo com o plano de trabalho da Prefeitura de São Paulo, que exige equipe mínima de cinco médicos por unidade. O resultado: pais que buscavam o pronto-atendimento durante a manhã saíram sem conseguir consulta.

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Na zona leste de São Paulo, a falta de pediatras não atinge apenas a AMA Jardim das Oliveiras. Usuários contam que passaram por outras AMAs e Unidades Básicas de Saúde (UBS) na região à procura de médico, sem sucesso. Se tiver um problema parecido, envie seu relato por Whatsapp para os números (11) 9-7069-8639 e (11) 9-8960-4397.

"Ele desfalece, começa a roxear, tosse muito e eu já fui a três hospitais à noite, não tem pediatra, e agora eu vim para cá", diz a dona de casa Rickely Soares, que trouxe seu filho de um ano à AMA por volta das 6h30 com uma crise de bronquite alérgica. Às 7h, após ser informada sobre a falta de médicos, ela disse que iria até o Hospital São Miguel para um nova tentativa e, se fosse necessário, até Itaquaquecetuba. "A gente fica nesse dilema, vai de um canto para o outro e não consegue atendimento em lugar nenhum."

A maior parte dos pacientes foi orientada a tentar uma consulta no Hospital São Miguel, que segundo a coordenação do AMA, era o único na região com pediatra nesta segunda-feira. Foi o caso de Hugo Lauretino, 32, trouxe seu filho de 11 anos à AMA com febre e crises de vômito. Morador das redondezas e atualmente desempregado, não é a primeira vez que Laurentino se depara com a falta de médico na unidade. "Eu já desconfiava que não ia ter pediatra, porque na segunda-feira nunca tem e, de vez em quando, na terça-feira também não", ele conta. "Agora estou levando ao próximo hospital porque não posso deixar o menino ficar assim."

Alguns moradores enfrentaram um longo percurso à procura de pediatra na zona leste. O administrador Wellington Andrade, 28, já havia passado pela AMA Jardim Nélia e pelo pronto-socorro do Hospital Santa Marcelina quando chegou ao Jardim das Oliveiras, sem encontrar pediatra para seu filho de seis anos. Sua próxima parada era no Hospital Ermelino Matarazzo.

Uma das mães que não conseguiu atendimento no pediatra na AMA Jardim das Oliveiras nesta segunda-feira, 22, caminha em frente ao posto de saúde com sua filha Foto: Tulio Kruse/Estadão

"A criança tem de estar morrendo para ser atendida, porque se você der um remédio para febre em casa e ela chega aqui um pouquinho melhor, eles já não atendem", conta a dona de casa Nagela Agra, 21, que tem dois filhos e hoje foi à UBS para marcar uma consulta com um clínico-geral. "Uma vez me pediram para esperar até 19h, quando o posto fechasse, para ver se iam conseguir uma consulta depois do horário."

Costume. Apesar de a descrição técnica da Prefeitura ser clara em relação à equipe mínima de cinco médicos por unidade, na AMA Jardim das Oliveiras a falta de profissionais às segundas-feiras já se tornou constante. O problema é considerado normal por alguns pacientes. "Todo mundo sabe disso: dia de segunda-feira não tem médico, só um de emergência", diz Antônio Cláudio, 60, que mora no Itaim Paulista há mais de três décadas e tem uma mercearia em frente à AMA há 7 anos. Cláudio diz que recorre à unidade regularmente. "Os médicos que vêm trabalhar aí são muito bons, tem muita força de vontade."

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Após procurar pediatras para seu filho de 6 anos na AMA Jardim Nélia e no pronto-socorro do Hospital Santa Marcelina, Wellington novamente se deparou com a falta de médicos no Jardim das Oliveiras Foto: Tulio Kruse/Estadão

Muitos moradores do bairro, que já conhecem o problema na unidade, evitam o pronto-socorro no começo da semana caso precisem de um pediatra. "Eu trago só na quinta-feira, mas pode ter certeza que vai ter o triplo de gente na fila", diz a lojista Raquel Souza, que tem uma filha de 6 anos.

Nesta segunda-feira, ela precisava de um consulta com o clínico-geral pois tinha dores no peito, falta de ar e muita tosse, além de uma irritação no olho que lhe provocou uma pequena ferida na parte interna da pálpebra. Esperou três horas e meia para ser atendida e quando a médica lhe pediu que fosse consultar um oftalmologista, ela disse que não iria. "Não tenho tempo para ficar o dia inteiro na fila de médico, preciso trabalhar", ela disse à reportagem.

Solução. A Secretaria Municipal de Saúde disse, por meio de nota, que está ciente sobre o número de médicos abaixo do ideal na unidade visitada pelo 'Estado' e trabalha para resolver o problema. Leia a nota abaixo na íntegra:

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Às segundas-feiras, a AMA Jardim das Oliveiras e a AMA Jardim Nélia, ambas gerenciadas pela OSS Santa Marcelina, têm o atendimento realizado respectivamente por 01 médico clínico de plantão e 03 médicos clínicos. Nos demais dias da semana, a AMA Jardim das Oliveiras conta com 02 médicos pediatras e 02 clínicos em sua escala de plantão.

A Secretaria Municipal da Saúde vem trabalhando para a normalização do atendimento com a efetivação de novos contratos de gestão com as OSSs. Novas medidas estão sendo adotadas pela Prefeitura para repor médicos nas unidades administradas pelas OSS, como a exigência de equipe mínima de profissionais durante todo o período de atendimento e pagamentos e descontos por tipo de serviço, ações que não estão no modelo vigente, adotado desde 2009. A falta de médicos é um problema que afeta todo país.

Alguns moradores do bairro que já conhecem o problema da AMA com a falta de médicos, preferem evitar o pronto-socorro em alguns dias da semana Foto: Tulio Kruse/Estadão
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