Sem médico em AMA, mulher com pneumonia fica sem Raio-X

Exame não foi feito por falta de profissionais no local, mesmo após paciente retornar duas vezes; usuários dizem que ausência de médicos já dura meses

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Por Túlio Kruse
Atualização:

Na Assistência Médica Ambulatorial (AMA) do Jardim Joamar, na Zona Norte, uma paciente diagnosticada com pneumonia relata que não teve atendimento em três dias diferentes da semana por falta de clínico-geral e não consegue fazer o exame de Raio-X necessário para saber a extensão de sua doença. A dificuldade para oferecer atendimento médico, segundo pacientes, já dura meses e piorou após o início deste ano. Em nota, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), que administra a unidade, disse que médicos têm falta de interesse no atendimento por causa de "relatos de violência verbal e física por parte da população", mas não especificou se este é o caso no Jardim Joamar.

Na semana passada, reportagem do 'Estado' mostrou a falta de médicos na unidade. A professora de ensino fundamental Cintia de Cássia Silva, 28, entrou em contato por WhatsApp para dizer que não houve mudanças. Você também pode mandar relatos para os números (11) 9-7069-8639 e (11) 9-8960-4397.

Na Unidade Básica de Saúde do Jardim Joamar, o dia de agendamento de consulta gera filas com mais de cem pessoas.Os primeiroschegam às 3h15 e esperaram quase quatro horas para o atendimento começar Foto: Tulio Kruse/Estadão

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Cintia chegou à AMA na segunda-feira, 1, com tosse forte, falta de ar e febre, mas foi informada que não havia clínico-geral na unidade e voltou para casa sem atendimento. No dia seguinte, após novamente ser informada sobre a falta de médicos na unidade do Jardim Joamar, foi diagnosticada com pneumonia no Hospital Luiz Gonzaga. "Só que eu não consigo tirar outro Raio-X para ver se a pneumonia melhorou ou não", reclama Cintia, que diz ter voltado à AMA na quarta e na sexta-feira, e se deparado novamente com a falta de clínico-geral. "Eu sofro de uma insuficiência respiratória, tenho uma doença pulmonar crônica, faço tratamento no HC (Hospital do Coração), então a minha pneumonia evolui muito rápido", ela conta.

Sua irmã, a dona de casa Ana Cláudia Silva, 35, mora a poucos quarteirões do posto de saúde. No entanto, conta que recorre a unidades mais distantes quando sua família precisa de atendimento médico. "Eu vou ser muito sincera, já nem vou mais (no AMA)", diz Ana. "Não vou porque nunca tem médico e não tem remédio."

Ela conta que já teve problemas no local para conseguir atendimento com pediatra e remédio para a inalação de sua filha de 5 anos, que tem bronquite. Na semana passada, seu marido foi à AMA com virose e febre mas também não encontrou clínico-geral para atendê-lo. Segundo a dona de casa, a falta de médicos ficou pior neste ano de 2015. "O problema já vem de antes, mas realmente este ano está pior em relação a falta de médicos, medicação, tudo."

Às 6h de segunda-feira, 1 de junho, cerca de 150 pessoas esperavam para serem atendidas no único de dia de agendamento de consultas e exames da Unidade Básica de Saúde do Jardim Joamar,sob frio e chuva. Foto: Tulio Kruse/Estadão

A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), que administra a AMA Jardim Joamar, se manisfetou por meio da nota reproduzida a seguir:

Todos os usuários que buscaram atendimento na AMA Jardim Joamar na ultima semana foram acolhidos através do Protocolo ACCR (Acolhimento Com Classificação de Risco)que visa instrumentalizar e orientar o processo de trabalho nos serviços de urgência e emergência. O acolhimento é realizado por um enfermeiro baseado em critérios de risco/vulnerabilidade, que orienta, prioriza e decide sobre os encaminhamentos necessários para a resolução da queixa apresentada, podendo, na necessidade, redirecionar o paciente para outra Unidade Assistencial ou Hospital de referência por meio de remoção.

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Em relação às vagas de médicos em aberto, informamos que são realizadas continuamente ações voltadas à captação do profissional médico e mesmo diante de todos os esforços, nem sempre é possível o preenchimento da vaga, dada a oferta de plantões e o déficit dos profissionais médicos no mercado, fator que não atinge apenas uma unidadede saúde no município de São Paulo. 

Vale ressaltar que muitos profissionais tem demonstrado falta de interesse devido relatos de violência verbal e física por parte da população para com o profissionais da Unidade em algumas áreas.

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