Alunos são cada vez mais sinônimo de passageiros

Universalização do ensino e ônibus escolar gratuito consolidam perfil

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Por Adriana Carranca
Atualização:

SÃO PAULO - O pequeno David Nascimento, de 8 anos, costumava ir para a escola com a avó ou a mãe, a pé, até que as duas arrumaram emprego, em tempo integral. Os horários do trabalho não coincidiam com os da escola. E, durante algum tempo, elas pagaram uma pessoa para levar e buscar o menino. Mas, a preocupação com a segurança e o perigo de acidentes - atropelamentos são comuns no Parque do Engenho, na zona sul, onde fica a Escola Municipal de Ensino Fundamental Iracema Marques da Silveira, em que ele estuda - fizeram com que optassem pelo transporte coletivo.

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Bernadete Alves do Nascimento, a avó de David, paga R$ 60 por mês ao perueiro, o que representa quase 10% do seu salário. Antes um luxo para poucos, as peruas escolares se tornaram uma necessidade.

 

Casos como o de David se refletem nos números da pesquisa “Origem e Destino”. O maior aumento no uso de transporte coletivo, entre 1997 e 2007, se deu entre o público em idade escolar. Na faixa etária da pré-escola (4 a 6 anos), o crescimento das viagens por habitante foi de 166,6% e do fundamental (7 a 14 anos), de 151,7%.

 

As mesmas faixas etárias foram as que mais registraram queda no uso do transporte individual, embora em menor escala: 30,7%. Isso significa que o crescimento de viagens em transporte coletivo não resulta apenas da migração do uso do carro para ônibus ou metrô, mas de uma nova demanda.

 

Segundo especialistas, a universalização do ensino fundamental, o crescimento de vagas no ensino médio, na última década, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, contribuíram para catapultar o uso do transporte coletivo. Mais do que colocar um número maior de crianças na sala de aula, a lei obrigou os Estados e as prefeituras a fornecer transporte escolar gratuito para alunos que estudam a mais de dois quilômetros de casa ou são portadores de necessidades especiais.

 

TRANSPORTE ESCOLAR

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Embora não atenda todas as crianças - caso do menino David -, o transporte escolar gratuito, criado pela Prefeitura em 2003, engrossa os números do transporte coletivo com 95 mil alunos atendidos, em média, desde o início do programa, há seis anos. O governo estadual não soube informar quantas crianças usam o serviço na Região Metropolitana de São Paulo - no Estado eram 435 mil em 2008. Outros fatores, segundo especialistas, foram a piora do trânsito, que aumentou o tempo perdido e o stress para levar e buscar os filhos, e o crescimento do emprego e da jornada.

 

“Meu trabalho impede que eu tenha a certeza de poder levá-los ou buscá-los todos os dias”, diz a funcionária pública Maria Cristina Cereguin Reis. Seus dois filhos, Julio Henrique e Beatriz, de 12 e 15 anos, vão para a escola de perua desde que ingressaram no ensino fundamental. Custa R$ 400 por mês para os dois adolescentes.

 

Com o aumento da demanda, o uso do transporte escolar saltou 222,5% entre 1997 e 2007 - o aumento da taxa de matrícula no período foi de 5%, da creche à universidade.

 

Na faixa de 0 a 3 anos, tanto o uso do transporte coletivo como privado cresceram: 45,5% e 15%, respectivamente. Entre os de 18 a 22 anos, idade universitária, a pesquisa mostra migração de um meio para outro, com 24,5% de queda no uso do transporte individual e 18,3% de aumento do coletivo. Clarissa Chagas Donda, de 22 anos, ia para a escola com o pai, de carro. “Tirei carta de motorista, mas o estacionamento na faculdade é caro. Vou de ônibus”, diz. Já na faixa entre 40 e 59 anos, o uso do transporte coletivo caiu.

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