Alunos reclamam de falta de transparência em curso da USP

Estudantes de Ciências Moleculares afirmam que não há recuperação nem critério para exclusão; coordenação nega as acusações e diz que cada caso é analisado e as avaliações 'não podem ser engessadas'

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Por Barbara Ferreira Santos
Atualização:

SÃO PAULO - Alunos do Curso de Ciências Moleculares (CCM) - o único da Universidade de São Paulo (USP) que começa no segundo semestre e tem processo seletivo após a Fuvest - questionam os métodos para selecionar quem deve sair ou continuar e reclamam que são submetidos a "fortes pressões". O coordenador do curso, Antonio Figueiredo, afirma que cada caso é analisado: "Não queremos massacrar o aluno", diz. O Estado ouviu oito alunos e três ex-alunos do CCM. Levantamento feito por representantes de turmas apontou que 15 alunos ou ex-alunos de quatro turmas (de cerca de 100 estudantes no total) passaram por tratamentos psiquiátricos.O ponto crítico, afirmam, é o encontro da Comissão de Graduação, quando se decide quem vai permanecer no curso. Composta pelo pró-reitor de Graduação da USP, pelo coordenador, por professores e por alunos representantes, a comissão avalia, duas vezes por semestre, o desempenho individual dos alunos - principalmente dos que têm notas vermelhas. Por causa da má fama, a reunião ficou conhecida pelos estudantes como "ceifadora", porque "lá rolam cabeças", dizem eles. O curso está ligado à pró-reitoria de Graduação e cerca de 25 a 30 estudantes são selecionados. "Vi gente muito boa, que acaba tendo notas baixas por diversas razões, desistir no meio do semestre e acabar nem apelando para fazer uma nova prova. Por uma matéria você já pode ser excluído", conta Rafael Ribeiro, de 21 anos, ex-aluno do CCM, que saiu porque não quis seguir carreira científica. Quem é excluído volta para a carreira para a qual foi aprovado. "Não há uma regra, ninguém sabe se uma nota vermelha, duas ou três vão levar à retirada do curso", disse um aluno que não quis se identificar. "Existe o argumento de que a pressão mimetiza o ambiente acadêmico, mas questiona-se se o método didático é saudável, pois o curso tem um alto índice de depressão entre os alunos", diz Marcos Masukawa, de 22 anos, de uma das turmas. Os alunos ainda reclamam que não têm direito a recuperação nem abertura para o diálogo para pensar em possíveis mudanças.Exigências. O coordenador Antonio Figueiredo afirma que as avaliações são feitas para saber se o aluno tem condições de continuar. "As avaliações não podem ser engessadas. Analisamos caso a caso e verificamos se aquela atividade é prazerosa para ele e se vai resultar em um bom pesquisador", diz. Para a professora Lucile Maria Floeter-Winter, a decisão de devolver o estudante para sua unidade de origem se dá quando a equipe percebe que ele não vai acompanhar as exigências. "Com a garantia de que o aluno não será jubilado ao retornar à sua unidade de origem, ele é retirado porque a gente considera que ele não vai conseguir acompanhar o curso na exigência." Segundo Figueiredo, os estudantes solicitaram mudanças em disciplinas e conteúdos. As alterações estão sendo analisadas, e o resultado deve ser discutido na próxima reunião, no dia 18 de julho. Ele também afirmou que o número de alunos com depressão não é alto em comparação com outras unidades - o que é rebatido pelos estudantes. Estrutura. A seleção é feita por perfil: além das habilidades com ciências, o aluno tem de saber trabalhar em grupo e ter interesse em aprender. Um convite para o evento de apresentação do curso é enviado aos 20 primeiros colocados na Fuvest e para estudantes de algumas unidades específicas da USP, como a Faculdade de Medicina. Mas qualquer estudante pode se candidatar. Eles fazem um teste de ciências básicas e depois têm de solucionar, em grupos de 15 pessoas, um problema proposto pelos professores. Os selecionados têm aulas de Biologia, Física, Matemática, Química e Computação nos dois primeiros anos. Nos dois anos finais, fazem uma pesquisa e montam sua grade. O aluno ainda tem privilégios: pode escolher disciplinas em qualquer unidade da USP e, se necessário, tem uma vaga extra em uma disciplina que esteja lotada. Se faz uma disciplina e tira nota abaixo da média, pode excluir a matéria do histórico.

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