Alunos no Carandiru são alvo de ladrões

Só neste ano, estudantes de Etec Parque da Juventude registraram 122 assaltos, mas poucos resolveram levar o caso à polícia da região

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Por Paulo Saldaña
Atualização:

Uma onda de assaltos tem assustado os alunos de duas Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) localizadas no Parque da Juventude, na zona norte de São Paulo. Funcionários e alunos contam que os ataques ocorrem diariamente. Quase todos à luz do dia.Segundo a direção de uma das unidades, a Etec Parque da Juventude, os crimes ocorrem desde 2008, mas a situação se agravou neste ano. Os casos têm sido tão numerosos que os alunos foram incentivados pelos professores a registrarem os episódios. Os alunos produziram relatórios próprios, indicando que 122 estudantes já foram assaltados ou ameaçados desde janeiro. "São muitos casos. Nós já desviamos rotas de saída e também estamos em contato direto com a polícia. Mas é difícil combater", disse a diretora da Etec Parque da Juventude, Márcia Loduca. "O que precisamos é de uma base fixa da polícia aqui."As duas unidades de escolas técnicas - a outra é especializada somente em artes - ficam no mesmo terreno do parque, ao lado da Biblioteca São Paulo. Os ataques ocorrem ali, no vão entre os prédios. A maioria dos agressores são adolescentes armados no máximo com uma faca. Os garotos chegam quase sempre em dois ou três e ameaçam bater nos alunos. O estudante do 2.º ano do ensino médio Daniel Iriarte, de 15 anos, foi assaltado neste mês por dois rapazes. "Estava saindo da aula e dois caras pediram tudo o que eu tinha. Eles ameaçaram me espancar. No fim só levaram R$ 5 e um isotônico que eu tomava", diz ele, que seguia para casa na companhia de dois amigos - como também sugere a escola.A coordenadora pedagógica da Etec, Fernanda Martins Cunha, explica que, por se tratar de uma escola concorrida - há vestibulinho para o ingresso -, os estudantes acabam visados. "Os meninos que assaltam acreditam que nossos alunos são ricos." Não há muitos registros, por exemplo, de ataques a frequentadores da biblioteca ou mesmo do parque. "Às vezes eles mapeiam quem está na escola e os seguem até a rua."Foi o que aconteceu com o aluno do 3.º ano do ensino médio George Lucas Leal, de 17 anos. Três adolescentes o seguiram depois da aula e o abordaram no caminho para casa. "Estava com um amigo e levaram nossos celulares. Não estavam armados, mas nem reagi. Você não sabe de onde eles são. Podiam me marcar." O parque fica bem ao lado do conjunto habitacional da Zachi Narchi e, segundo relatos, depois do roubo, muitos dos assaltantes correm em direção à comunidade.Registros. Leal foi um dos poucos que se dirigiu ao distrito policial para registrar o assalto. Conseguiu-se prender duas pessoas e ainda recuperar um dos aparelhos. Segundo o delegado titular do 9.º DP, Calixto Calil Filho, o número de registros é bem pequeno. "Nós mandamos policiais para lá quando solicitado, estamos em contato com escola e com o parque. Mas chega pouca coisa para a gente", diz o delegado. Neste ano, apenas duas vítimas registraram BO.A não existência dos boletins é um problema. Segundo o 9.º Batalhão da Polícia Militar, que faz o policiamento da área, a falta de registros oficiais dificulta a fundamentação técnica para justificar a colocação de uma base fixa da Polícia Militar, por exemplo. Mas, segundo nota encaminhada à reportagem, o local é ponto de patrulhamento diário.O batalhão informou que encaminhou à escola ofício que sugere algumas ações para melhorar a segurança, incluindo o fechamento com grades do local onde ficam os pavilhões - para controle de entrada. A unidade tem acesso irrestrito durante todo o dia, por causa do funcionamento do Acessa São Paulo - programa de inclusão digital do governo do Estado que ocupa o primeiro andar do prédio.A diretora Márcia Loduca desaprova a medida. "Acho que o caminho é nos tornarmos ainda mais abertos à comunidade, ao entorno. Só assim vamos fazer parte daqui. Esse espaço é muito simbólico", diz ela, referindo-se à Casa de Detenção, que até 2001 ocupava o terreno.

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