Alckmin oferece R$ 50 mil por pistas sobre suspeitos de chacina

Valor é o maior já oferecido por informações; dezoito pessoas morreram em Osasco e Barueri após uma série de ataques

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Por Alexandre Hisayasu , Felipe Resk e Luiz Fernando Toledo
Atualização:

Atualizada às 21h21

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GUARULHOS - O governo Geraldo Alckmin (PSDB) vai oferecer uma recompensa de até R$ 50 mil para quem tiver informações que levem à prisão de suspeitos na chacina de Osasco e Barueri, que deixou 18 mortos e seis feridos. Trata-se da maior oferta já feita para tentar solucionar um crime no Estado. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, os ataques foram executados por no mínimo dez pessoas, divididas em ao menos três grupos diferentes.

O esclarecimento do caso é tratado como prioridade pelo governo estadual. O valor corresponde ao teto de recompensas. Para se ter uma ideia, o montante é cinco vezes maior que o oferecido pelas autoridades policiais no caso do médico Roger Abdelmassih, acusado de abusar sexualmente de pacientes. Na época, a recompensapor sua captura foi de R$ 10 mil.

Para receber a recompensa, as denúncias sobre a chacina só poderão ser feitas pela internet, por meio do site webdenuncia.org.br. Nesta segunda-feira, 17, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que 50 policiais estão focados em esclarecer o caso, mas que as colaborações serão bem-vindas. “Quem tiver informações, não é pelo 181, é pelo Web Denúncia. Total sigilo.”

“É um instrumento válido, importante para a sociedade poder colaborar. Nós temos absoluta certeza de que vai haver colaboração”, afirmou o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes. Segundo afirma, o informante não terá nem o nome divulgado e poderá contar com o sistema de proteção a testemunhas. “A identidade será absolutamente reservada.”

Investigações. A polícia acredita que ao menos dez criminosos atuaram na chacina em Osasco e Barueri, divididos em três grupos diferentes. Os investigadores chegaram à conclusão após analisarem laudos periciais, cruzarem os tipos de armas e as munições, além de verificar filmagens e relatos de testemunhas.

Nesta segunda, Alexandre de Moraes se reuniu por mais de duas horas com a cúpula da Polícia Civil, na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O encontro serviu para tratar das investigações e analisar medidas judiciais para o andamento das apurações.

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Mais tarde, Moraes se encontrou com o alto escalação da Polícia Militar. A principal suspeita é de que os crimes tenham acontecido em resposta à morte do cabo da PM Avenilson Pereira de Oliveira, de 42 anos, lotado no 42.° Batalhão, de Osasco. O policial foi morto a tiros por ladrões dentro de um posto de gasolina, no dia 7.

“Nós conseguimos definir a existência de três grupos distintos”, afirmou o secretário. Dois deles, em Osasco: um formado por quatro criminosos, em um Peugeot prata, e outro com dois, em uma motocicleta. Outros quatro assassinos, em um Renault Sandero, teriam atuado em Barueri. Agora, os policiais querem saber se comparsas apoiaram a ação criminosa em outros veículos.”

Como em Barueri os crimes aconteceram após a morte de um guarda civil, também há a suspeita de que GCMs tenham agido na cidade em conjunto com PMs. Moraes, no entanto, afirmou que ainda é preciso provar a correlação entre os casos. “Não temos certeza se esses grupos eram isolados ou se tinham alguma comunicação”, disse.

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A Polícia Civil também já tem nomes de alguns suspeitos. Oficialmente, contudo, o secretario afirma que são apenas “indivíduos indicados” e ainda é preciso reforçar provas da participação deles nos crimes. Questionado se os nomes eram de PMs, Moraes preferiu não comentar. “Qualquer informação a mais pode atrapalhar as investigações”, afirmou.

Outra linha de investigação relacionaria dois dos assassinatos ao tráfico de drogas. O Estado apurou que a polícia investiga se os crimes na Rua Cuiabá e na Avenida Eurico da Cruz, ambas em Osasco, estariam relacionado a conflitos em biqueiras. Nesta segunda, foram ouvidas vítimas, parentes e moradores das regiões em que houve ataques.

Programa de recompensa. O Programa Estadual de Recompensa foi criado em 2014 e é acionado somente em casos específicos, por meio de resolução assinada pelo secretário da Segurança Pública. Até agora, a oferta mais alta que consta no site da SSP é de R$ 30 mil, em quatro casos – todos envolvendo o assassinato de agentes penitenciários ou de policiais.

A importância das informações prestadas pelo denunciante é avaliada pela secretaria, que decide se pagará ou não a remuneração. A regra é que a informação precisa levar à solução do caso ou à prisão de algum envolvido. A reportagem solicitou à secretaria o número de casos esclarecidos por meio desta plataforma, além da quantia já paga aos denunciantes, mas não obteve resposta. Para garantir o pagamento, a informação deve ser dada pela plataforma digital Webdenúncia (www.webdenuncia.org.br) e não por telefone.

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O interessado deve seguir as instruções que constam no site e não há necessidade de realizar cadastro ou identificação pessoal. A SSP garante anonimato por um método de dupla criptografia do site, que dá mais segurança contra hackers.

O denunciante recebe um número de protocolo e uma senha para acompanhar anonimamente o andamento da denúncia.

Se confirmadas, um número de cartão bancário virtual será fornecido nessa área do site para o resgate do valor em qualquer caixa eletrônico ou Banco do Brasil. Os recursos do pagamento são do Fundo de Incentivo à Segurança Pública (Fisp).

'Foi brabo o negócio'. Há dez dias, a empregada doméstica Zilda Maria de Paula assistia televisão sentada no sofá ao lado do filho único, o pintor Fernando Luiz de Paula, em um beco apertado de Osasco, na Grande São Paulo. Na tela, um vídeo mostrava o assassinato do cabo da Polícia Militar Avenilson Pereira de Oliveira, em um posto de combustível na mesma cidade. As imagens impressionaram Zilda, de 62 anos, que comentou com o filho: “Nossa, Fernando, foi brabo o negócio”. “Pois é, mãe, foi feio mesmo”, respondeu.

O crime que surpreendeu mãe e filho faz parte da principal linha de investigação da polícia, que busca respostas para explicar a maior chacina da história de São Paulo. A suspeita é de que colegas do PM assassinado queriam vingar a morte do policial. Uma das 18 vítimas da chacina foi Fernando, de 34 anos, o filho de Zilda. Ele e mais sete foram executados na primeira ação dos bandidos, no bar na Rua Antônio Benedito Ferreira. 

“Foi muita covardia segurar o PM e matá-lo. Mas aí os caras vêm e fazem pior? Matam sem chance de defesa, em um momento de descontração?”, questiona Zilda. Uma testemunha viu quando quatro homens desceram de um Peugeot prata, armados e encapuzados. “Não teve abordagem. Chegaram atirando.” Ao ver o quarteto empunhar as pistolas, ele correu para uma Igreja próxima. Ouviu os tiros e voltou para salvar quem ainda respirava. “Na aparência, estava todo mundo morto.”

Com o apoio do grupo Mães de Maio, Zilda está organizando uma missa de 7.º dia para a próxima quinta-feira, na frente do bar onde oito morreram. “A morte dele, eu estou aceitando. Só não estou aceitando como aconteceu. Disseram que ele se ajoelhou e colocou as mãos na cabeça. Atiraram mesmo assim”, lamenta a mãe. / JULIANA DIÓGENES

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