Alckmin: ‘O governo não vai retroagir’

Governador atribui morte de PMs à ação do Estado contra o tráfico e diz que acerto de contas pode ser motivo de crimes

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

SÃO PAULO - O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou ontem que o governo não vai ceder às tentativas de intimidação do crime organizado ao matar policiais e atribuiu as mortes de civis a brigas de quadrilhas e acerto de contas. “O governo não vai retroagir um milímetro. É ir para cima de criminoso. Polícia nas ruas e criminoso na cadeia”, afirmou.

PUBLICIDADE

Alckmin diz acreditar que os ataques contra policiais sejam causados pelo combate ao tráfico de drogas. “Evidente que isso impacta financeiramente o crime organizado, que é hoje muito baseado no tráfico de drogas. Isso leva à retaliação”, disse.

Questionado se as mortes de civis que acontecem geralmente após um PM ser assassinado podem ser causadas por integrantes da corporação para se vingar, ele atribuiu os crimes a outras causas. “Você tem ‘n’ motivos, tem pessoas que aproveitam esses momentos para acertar contas, briga por tráfico. E o governo investiga, tolerância zero.”

A coordenadora do Núcleo de Análise de Dados do Instituto Sou da Paz, Ligia Rechenberg, diz que Alckmin precisa ser mais claro. “Precisamos de uma declaração que diga explicitamente que não é matando que a polícia vai conter essa onda”, disse. “O que vemos nos últimos meses é exatamente o contrário, são declarações alimentando essa onda de violência. Dando carta branca”, afirmou.

Para Theo Dias, professor de Direto Penal da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Estado tem um discurso contraditório. “De um lado, tenta diminuir a importância do PCC (Primeiro Comando da Capital), mas de outro reforça a ideia de que estamos numa guerra”, afirmou.

Alckmin disse uma vez que “há muita lenda” sobre facções criminosas e o secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, afirmou que a facção se resume a “30, 40 pessoas”. Documentos obtidos pelo Ministério Público (MP), porém, afirmam que a organização tem 1.343 criminosos, em 123 cidades.

O especialista em segurança pública Guaracy Mingardi critica a postura do governo. Ele cita que, no caso das máfias italianas e ítalo-americanas, foi fundamental que o problema não fosse minimizado. “Quando o Estado reconhece que existe, pode combater de fato. A melhor tática do diabo sempre foi dizer que não existe”, disse.

Publicidade

Também consultor em segurança, o coronel da reserva da PM José Vicente da Silva concorda com o governador e diz ainda que o PCC “não tem mais a força que tinha”. “O problema é que a imprensa, nos últimos dias, está colocando todos os crimes envolvendo policiais como se fossem ataques diretos”, disse. “Sei de assaltos nos quais o policial estava no estabelecimento, reagiu e morreu, não havia relação entre eles. Houve até uma situação em que um traficante descobriu que a mulher o traía com um policial e o assassinou.”

O coordenador do Centro de Pesquisa em Segurança Pública da PUC-MG, Luís Flávio Sapori, cobra um trabalho de inteligência e mais sintonia entre a polícia e o MP. “Só com uma união de forças, com a presença e supervisão da Polícia Federal, esses ataques vão diminuir.” / ARTUR RODRIGUES, ANDRÉ CABETTE FÁBIO E RENATO VIEIRA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.