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Águas passadas, mas nem tanto

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Por Redação
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Lendo outro dia sobre a história das águas em São Paulo, fui beber nas fontes do conhecimento de uma especialista, Vanderli Custódio, do Instituto de Estudos Brasileiros da USP. As águas são, há muito tempo, parte relevante do cotidiano paulistano - seja a de beber, seja a da enchente. E a professora conta bem a história desde quando os jesuítas cravaram na colina entre rios os pilares da vila quinhentista.Por séculos, a vila de São Paulo banhou-se nas correntes de Tietê, Anhangabaú e Tamanduateí, lembra o texto "Abastecimento de água, das bicas à Sabesp", de Vanderli Custódio. O Tamanduateí teve até porto. Ela revive o ambiente da água de beber, para além das bicas e chafarizes. A paisagem paulistana mudou bastante desde que a Companhia Cantareira construiu o reservatório da Consolação, em 1875, e os canadenses da Light and Power Co. chegaram, em 1899, para organizar novas represas, permitindo a criação de redes de distribuição de luz elétrica e água. Era negócio tão lucrativo, embalado pela perspectiva de crescimento acelerado da cidade, que a Light amarrou logo uma concessão de exploração por 90 anos.Daqueles dias aos tempos de rodízio de água, novas represas e reservatórios surgiram. Custódio mostra essa evolução até os atuais sofisticados sistemas de purificação. Mas há questões que até pioraram nesse ambiente paulistano. São os efeitos das águas do céu que, uma vez no chão, viram enchentes de trágicas proporções. Para quem acha que há novidades na sujeira acumulada pelas enxurradas no Lago do Ibirapuera, como se viu na semana passada, ou nos bueiros transbordando em outubro, o estudo da professora pode servir de lembrança. No Tamanduateí, "banhistas iam aos domingos mergulhar em suas já turvas águas". Turvas pelo lixo da cidade, argumenta ela. São os velhos hábitos.Da bica insalubre às torneirasA forte expansão da São Paulo oitocentista, com levas e levas de gente por aqui se acomodando e alargando os limites geográficos da cidade, levou à necessidade de abastecimento de água de qualidade nas torneiras a toque de caixa. As bicas, das quais trata a geógrafa Vanderli Custódio, serviram por anos a bebida da população. Mas eram insalubres. As epidemias se alastravam pelos baixios da cidade. Dessa busca pela saúde vem também a ocupação de áreas altas do município, como foi mostrado aqui no último domingo, em referência feita à criação de Higienópolis, bairro descrito em ensaio por Maria Cecília Naclério Homem.

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