AfroReggae: da favela ao arranha-céu de SP
Diretor da entidade que inaugura hoje escritório paulistano diz que não quer concorrer com ONGs da cidade; quer colaborar
Entrevista com
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11 de abril de 2013 | 02h08
No 18.º andar do Edifício Altino Arantes, no centro de São Paulo, será inaugurado hoje o AfroReggae, grupo que há 20 anos trabalha nas principais favelas do Rio. Com apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Banco Santander, eles chegam à cidade para serem facilitadores, segundo o diretor José Júnior.
Duas ações já começam de cara: o Cultura de Ponta, portal desenvolvido com a programação cultural da periferia e o programa de empregabilidade de ex-detentos. Hoje com 12 funcionários, a entidade deve ter 40 até no fim do ano. Por enquanto, Júnior afirma que o trabalho é prazeroso, mesmo passando noites em claro e com reuniões avançando até as 21h.
O AfroReggae diz querer assumir papel coadjuvante em São Paulo. Por quê?
Há 20 anos nós somos protagonistas no Rio, mas aqui existem grupos que não têm a visibilidade que a gente tem. Subentende-se que esses grupos não têm um bom resultado, mas eles só não têm a mesma visibilidade. Não é maneiro o AfroReggae, com os parceiros que tem, vir para concorrer com os grupos daqui. Nosso foco é pegar projetos e ajudar a potencializá-los.
Como dar essa visibilidade?
Ao contrário do Rio, não vamos montar centros culturais na periferia porque não precisa. Já existem projetos bacanas e consolidados por aqui. Vou dar um exemplo prático do que podemos fazer: a equipe da Beyoncé já entrou em contato para conhecer o AfroReggae no Rio e ela vai fazer show em São Paulo. Como não temos estruturas aqui, podemos ter esse papel coadjuvante e levá-los para conhecer projetos no Capão Redondo ou no Jardim Ângela.
O que mais vocês pretendem desenvolver?
Uma das metas com a Fiesp é fazer um primeiro diretor da Fiesp que venha da periferia. As coisas mudaram. Você teve recentemente um presidente nordestino, houve a Primavera Árabe... As coisas estão mudando e com outra velocidade.
Quais grupos que já atuam em São Paulo você destacaria?
A Casa do Zezinho e o Sou da Paz, que são experiências totalmente diferentes. Há três anos indiquei a Tia Dag (da Casa do Zezinho, que atua na educação e lazer de crianças carentes) a dar consultoria na Secretaria Estadual de Educação do Rio.
Como esse escritório pode influenciar o trabalho no Rio?
São Paulo não será bengala do Rio porque a cidade não permite. O Cultura de Ponta vai ser feito aqui e lá. O programa de empregabilidade daqui será muito maior e vai capacitar os egressos, que era meu sonho no Rio. Também penso em trazer a parte digital do AfroReggae.
E você como vai se dividir?
Pretendo ficar pelo menos quatro dias da semana em São Paulo porque o trabalho aqui dá prazer. No Rio, sou obrigado a ser o Ayrton Senna, a bater recorde toda volta. A minha função em São Paulo não é fazer o gol, é passar a bola. No Rio, sou obrigado a ser artilheiro.
Como vai ser o diálogo entre periferia e a elite em São Paulo?
Na inauguração vai ter presidente de banco e político, os caras do Jardim Ângela, do Capão e ex-traficantes do Rio. Não é uma mistura comum porque falta interlocução e a gente vem para colaborar com isso. Nosso papel é de facilitador.
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