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Acusados de vender arma, quatro viram réus por homicídio no massacre de Suzano

TJ-SP aceitou denúncia contra envolvidos em venda de revólver e munição; eles responderão por dez assassinatos e 11 tentativas de homicídio

Por Felipe Resk
Atualização:

SÃO PAULO - O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) aceitou denúncia por homicídio e venda ilegal de arma de fogo contra quatro homens, acusados de vender o revólver calibre 38 e munições usados no massacre na Escola Raul Brasil, em Suzano, ocorrido no dia 13 de março. Os réus vão responder por dez assassinatos (incluindo os dois atiradores), além de outras 11 tentativas – os feridos no ataque.

A Polícia Civil concluiu o inquérito do massacre na semana passada e indiciou Cristiano Cardias de Souza, de 47 anos, o Cabelo;Geraldo de Oliveira Santos, de 41, o Buiu; Marcio Germano Masson, de 33, o Alemão; além deAdeilton Pereira dos Santos. Na quinta-feira, 30, a denúncia foi oferecidapelo Ministério Público Estadual (MPE-SP) e aceita pela Justiça no dia seguinte.

Justiça aceitou denúncia contra quatro acusados de venderem armas e munições a atiradores Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

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Todos os réus já estão presos preventivamente. Como eles respondem a processo por homicídio, devem ser julgado pelo Tribunal do Júri (composto por sete pessoas comuns) – e não por um juiz togado.

Para a acusação, embora nenhum dos quatro tenha participado diretamente do ataque na Raul Brasil, os assassinatos só aconteceram porque venderam ilegalmente arma e munições para os atiradores. “Os quatro presos auxiliaram os autores na concretização do crime”, afirma o delegado Alexandre Dias, responsável pela investigação. “Sem eles, o ataque não teria ocorrido.” 

Dinâmica do ataque

Os atiradores G. T. M., de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, morreram no ataque. Outro jovem de 17 anos, apontado como “mentor intelectual, apesar de não ter acompanhado a dupla no dia do crime, foi condenado pela Justiça em maio. Os três eram ex-alunos da escola em Suzano.

Para a Polícia Civil, os autores planejaram matar um desafeto de cada, antes de promover a chacina dentro do colégio. Para Luiz Henrique de Castro, o alvo seria um vizinho, com quem tinha brigado. A dupla chegou a procurá-lo em casa no dia do ataque, mas ele não atendeu a porta.

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Por sua vez, a vítima escolhida por G. T. M. seria o próprio tio, Jorge Antônio de Moraes, de 51 anos, que havia demitido o sobrinho por “fazer coisas erradas”, segundo uma testemunha. Ele foi morto com três tiros pelas costas, em uma revendedora de carros, a cerca de 750 metros da Raul Brasil.

Já para o menor apreendido, o alvo seria um estudante que ficou ferido no ataque, andou até o hospital com um machado encravado no ombro, mas sobreviveu. “Eles eram desafetos”, diz o delegado. “Na própria oitiva, a vítima diz que o ataque foi direcionado a ele.”

Conclusão

Segundo a investigação, os atiradores começaram a idealizar o massacre em 2015, motivados pelo atentado em um colégio de Columbine, nos Estados Unidos, que terminou com 15 mortos em 1999. A meta seria superar esse número, diz a Polícia Civil.

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O plano, no entanto, só começou a ser posto em prática em 2018, quando os autores passaram a comprar uma série de itens, entre eles coturnos, máscaras, uma machadinha e uma besta. A estimativa é que tenham investido, ao todo, cerca de R$ 7 mil. Só o revólver custou R$ 2,5 mil e foi adquirido entre outubro e novembro. 

Para conseguir a arma de fogo, os atiradores teriam procurado primeiro o mecânico Cristiano Cardias de Souza, o Cabelo, conhecido na cidade por negociar peças de automóveis, segundo a polícia. “Usaram o pretexto de adquirir um veículo e a conversa foi evoluindo para o pedido da arma”, afirma Dias. “A negociação durou cerca de 3 a 4 meses.”

Então Cabelo teria intermediado a venda do revólver que, por sua vez, fora fornecido por Geraldo de Oliveira Santos,o Buiu. Em seguida, o mecânico também teria feito a ponte entre os atiradores e Marcio Germano Masson, o Alemão, que vendeu 20 munições de calibre 38 a eles. 

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De acordo com o inquérito, mais 30 balas foram compradas por R$ 510 a Adeilton Pereira dos Santos, que usou um perfil falso no Facebook para tratar da negociação. Segundo a investigação, a munição foi entregue na manhã do dia 2 de fevereiro, um sábado, na Estação Paraíso, do Metrô. A reportagem não conseguiu localizar a defesa dos réus.

O Ministério Público e a Polícia Civil ainda investigam se um quarto ex-aluno incentivou o atentado – a participação dele é considerada como “de menor importância”. Outro inquérito também segue aberto para responsabilizar pessoas que comemoraram ou fizeram apologia ao massacre na internet.

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