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Acidentes de motos causam epidemia de mortes nas pequenas cidades do Brasil

Foram 65 mil na última década, o equivalente ao nº de americanos mortos na Guerra do Vietnã; desde 1996, problema cresceu 1.298%

Por Bruno Ribeiro e JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
Atualização:

O aumento da frota de motos em circulação no Brasil se tornou responsável por uma das piores epidemias que o País já enfrentou. Foram 65 mil mortes em acidentes com motocicleta nos últimos dez anos - número equivalente ao total de americanos mortos na Guerra do Vietnã. E não é nas grandes metrópoles litorâneas ou do Sudeste que as mortes têm maior peso nas estatísticas. São as pequenas cidades do interior, especialmente do Nordeste, Norte e Centro-Oeste do País, que concentram as maiores taxas de mortalidade por quantidade de motos ou motonetas em circulação. Em municípios como São Gonçalo do Piauí (PI), Ribeirãozinho (MT) e Aurora do Tocantins (TO).Em números absolutos, as mortes em cada uma dessas cidades podem não impressionar. São duas, três, dez por ano. Por isso, não provocam tanto barulho. Mas, quando somadas, configuram uma epidemia só comparável à provocada pelos assassinatos. E as vítimas têm o mesmo perfil: jovens de 20 a 29 anos, do sexo masculino e de baixa renda. Nessa faixa etária, nem câncer nem enfarte nem nenhuma outra doença mata mais do que as motos. Só as armas de fogo.Entre as capitais, São Paulo ocupa apenas o 13.º lugar no ranking da mortalidade envolvendo motociclistas. O Rio fica em 15.º. A campeã, com uma taxa três vezes maior, é Boa Vista (RR), seguida de perto por Palmas (TO).No topo do ranking. Desde 2007, as motos já matam mais do que os carros. Mas, de lá para cá, a diferença entre os acidentes fatais de motociclistas e o de condutores ou ocupantes de carros só aumenta. Em 2009, as mortes de motociclistas ultrapassaram as de pedestres e alcançaram o topo do ranking de mortes por acidentes - de qualquer tipo, não só de trânsito. Só no ano passado, foram 10.134 mortes de motoqueiros, ante 9.078 de pedestres e 8.659 de ocupantes de automóveis, conforme estatísticas do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), tabuladas pelo Estado a partir do Datasus. O mais assustador é que, enquanto as mortes por atropelamento caíram 30% quando comparadas às de 1996, as de motociclistas cresceram 1.298% no mesmo período.O Ministério da Saúde se diz preocupado com o crescimento, mas há poucos programas de abrangência nacional em curso para combater a epidemia. O aumento das mortes está diretamente ligado ao avanço da frota sobre duas rodas que, de 2000 a 2010, cresceu quatro vezes de tamanho. É exatamente a mesma taxa de crescimento do número de mortes. "Mesmo no interior, as motos são fáceis de serem compradas. E nessas cidades elas são usadas como mototáxis por motoristas sem habilitação, que aprendem a dirigir com colegas", afirma o diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Dirceu Rodrigues Alves Júnior.Se não bastasse o crescimento do número de motos acompanhar o aumento no número de mortos, há uma fortíssima correlação estatística entre a quantidade de motos em circulação em uma cidade e o número de motociclistas mortos, um coeficiente (a divisão de um total por outro) de 0,9 - o máximo é 1.

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