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A uma semana da Copa, metroviários e CET entram em greve

Tribunal Regional do Trabalho (TRT) concedeu liminar à empresa a fim de garantir 100% de operação da rede nos horários de pico e 70% no restante do dia, mas sindicato promete paralisação total; rodízio de veículos foi suspenso

Foto do author Adriana Ferraz
Por Adriana Ferraz , Bruno Ribeiro e Caio do Valle
Atualização:

SÃO PAULO - A uma semana da abertura da Copa do Mundo, na Arena Corinthians, em São Paulo, os metroviários decidiram entrar em greve por tempo indeterminado, a partir da madrugada desta quinta-feira, 5. Em assembleia realizada no noite desta quarta no Sindicato dos Metroviários, 2 mil trabalhadores deliberaram pela paralisação. Agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) também vão parar. O rodízio de veículos foi suspenso. 

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Segundo o Metrô, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) concedeu uma liminar à empresa a fim de garantir 100% de operação da rede nos horários de pico e 70% no restante do dia. A multa por descumprimento da decisão judicial é de R$ 100 mil por dia. Em uma rede social, a estatal criticou a decisão dos metroviários. “O Metrô repudia a greve decretada pelo Sindicato dos Metroviários, que só prejudica os usuários e a população de São Paulo”, disse a empresa aos usuários.

A Delegacia Regional do Trabalho (DRT) marcou audiência de conciliação para as 10 horas com sindicalistas e o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. Outra reunião será realizada às 15h no TRT. 

Categoria decidiu paralisação por unanimidade em assembleia realizada na noite desta quarta. Foto: Caio do Valle/Estadão

O presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino Prazeres Júnior, garantiu que, mesmo com a liminar, os metroviários não vão trabalhar. “Desafio o governo do Estado a fazer isso (exigir 100% da operação), uma vez que nem na operação normal isso acontece.” De acordo com Prazeres Júnior, a assembleia foi realizada antes de o sindicato ser formalmente notificado pelo TRT e, por isso, está mantida nas Linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 5-lilás.

“O transporte não é mercadoria e tem de ser pago pelos grandes empresários, que tratam o povo como escravo. Um rapaz da zona sul não pode namorar com uma menina da zona leste do jeito que está o transporte. O governo do PSDB está envolvido com muita corrupção. Se tem dinheiro para Itaquerão e Copa, por que não tem para o transporte público?”, disse Prazeres Júnior. Ele prometeu “uma greve histórica”.

Vários líderes de movimentos sociais discursaram em apoio aos metroviários, entre eles do PSTU e do Movimento Passe Livre (MPL), que em junho do ano passado deflagrou onda de manifestações contra o aumento das tarifas. Estudantes grevistas da USP também participaram da assembleia.

Proposta. Os funcionários do Metrô rejeitaram e vaiaram a proposta de 8,7% oferecida pela empresa, assim como o vale-refeição de R$ 290 (hoje é de R$ 247). O TRT havia sugerido aumento de 9,5% e R$ 320 de vale-refeição. Os metroviários pedem reajuste de 16,5% e dizem que não voltam a trabalhar se não houver uma oferta de ao menos 10%. O Metrô tem cerca de 9,7 mil funcionários.

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Diante dos impasses na negociação, mediada pela desembargadora Ivani Contini Bramante, Prazeres Júnior desafiou novamente o governador Geraldo Alckmin (PSDB) a permitir a catraca livre durante a greve, para não prejudicar a população. Porém, na semana passada a hipótese já havia sido descartada pela empresa. 

Antes da deflagração da greve, o presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, também descartou a possibilidade de catraca livre. “Não vemos nenhum sentido nisso, porque é um prejuízo para toda a população, até mesmo para os metroviários. O Metrô tem uma única fonte de receita: a venda dos bilhetes. A perda de receita é um contrassenso se estamos negociando melhores condições de salário”, afirmou.

Ele disse também que vê “com muita preocupação” uma greve da categoria às vésperas da Copa. Ele criticou o fato de alguns operadores de trens terem usado a comunicação sonora das composições para alertar a população sobre o risco de greve. “Não é uma atitude correta e, na nossa opinião, fere as condições de paz.

Tivemos também de chamar a polícia, porque a manifestação dos metroviários na Sé foi tumultuada.” Pacheco afirmou que um plano de contingenciamento pode ser adotado em caso de greve, com alguns supervisores tentando operar parte das linhas.

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Prazeres Júnior orientou os metroviários indecisos sobre a paralisação a irem doar sangue. “Não tem chance de ter fura-greve.”

Marronzinhos. Agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) também definiram greve por tempo indeterminado nesta quarta. Em assembleia realizada na Câmara Municipal, cerca de 700 marronzinhos - mais da metade do efetivo - recusaram a proposta de 8% de reajuste feita pela gestão Fernando Haddad (PT) e optaram pela paralisação.

O sindicato que representa a categoria reivindica aumento real de 12,9% e reajuste de 20% nos vales alimentação e refeição ofertados pela CET, entre outros benefícios. A empresa já estava avisada sobre a possibilidade de greve desde sexta-feira. Sem agentes nas ruas, os serviços de orientação do trânsito, aplicação de multas e fiscalização do uso correto de corredores de ônibus, por exemplo, ficam prejudicados. “A população acha que a gente só sabe aplicar multa. Não sabe o que passamos no dia a dia. Somos obrigados a fazer hora extra, acumular funções. Tudo isso sem um plano de carreira, sem concurso público”, reclamou um marronzinho.

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Vice-presidente do sindicato, Luiz Antônio Queiroz afirma que a cidade de São Paulo precisa de ao menos 4 mil agentes por dia nas ruas. “Temos somente 1,2 mil em atividade, e divididos em quatro turnos”, disse. Ele não soube dizer a expectativa de adesão ao movimento, mas considera-se que seja praticamente total. 

Em nota, a Companhia de Engenharia de Tráfego informou que começou a operar um plano de contingência na cidade para minimizar os efeitos da greve de funcionários. "Haverá remanejamento da equipe para reforçar o efetivo em campo conforme a dimensão e consequência do impacto do movimento na operação do trânsito", diz a nota. A últimaparalisação da categoria ocorreu há cerca de dez anos, durante a gestão da prefeita Marta Suplicy (2000-2004).

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