A ''turma do bairro'' dos anos 70 e 80 volta à esquina

Grupo do Sumarezinho reunia até 80 crianças ao som de Brasília de portas abertas; no sábado, famílias voltaram a reunir-se e pular corda

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Por Marcio Pinho
Atualização:

Passar o dia na calçada da rua, batendo papo, brincando de pular corda ou jogando vôlei e futebol, não é mais comum em muitos bairros de uma cidade movimentada como São Paulo. Mas é uma tradição que ex-moradores do Sumarezinho, na zona oeste, decidiram não deixar morrer.No sábado, um grupo de amigos - que eram crianças e adolescentes nas décadas de 1970 e 1980 - voltou ao quarteirão onde brincavam para ter um dia típico como os daquela época. O ponto onde até 80 adolescentes - a "turma do bairro" - se encontravam era bem conhecido: a esquina das Ruas Ministro Sinésio Rocha e Livreiro Tisi, onde havia uma mercearia, hoje fechada.As conversas sobre os bons momentos tomaram conta da reunião, incluindo a lembrança da Brasília branca de um dos integrantes que servia de "discoteca ambulante", sempre com portas abertas, para o desespero da vizinhança.Alguns amigos que mantiveram maior contato já se reuniam em almoços há cerca de dez anos. Depois, migraram para o Orkut e para o Facebook, na busca de outros colegas. O grupo acredita ter reunido o maior número de integrantes no evento de sábado, que teve cerca de 50 presentes. Entre eles estavam filhos dos ex-moradores, que, enquanto os pais rememoravam o passado, mantiveram a tradição das brincadeiras de rua.Para a psicóloga Maria Helena Tubole Vicente, de 45 anos, a experiência é gratificante, uma forma de manter um tipo de convívio que ficou estranho para os jovens de hoje, mais restritos ao mundo virtual, às redes sociais e às idas a shoppings. "Era muito gostoso estar com os amigos e compartilhar experiências. Tinha a coisa de comprar sorvete e dividir entre todos, de ficar horas conversando, de se encontrar nos eventos como Natal e ano-novo. Posso até estar romantizando, mas alguns dos amigos até choraram."O tempo passou. Mas a reunião não se prendeu ao passado. As brincadeiras do tipo "quem ficou mais careca" foram aceitas com naturalidade. O reencontro de ex-namorados, grande parte de casados, tampouco causou desconfortos. Nas roupas também eram visíveis as mudanças no grupo, que era adepto do new wave e antes se vestia em roxo, amarelo ou verde-limão. Os rachas no entorno da Praça Pan-americana também estão entre as preferências que ficaram para trás. Do grupo de amigos, saíram até um ex-piloto de Stock Car e um empresário de sucesso no Japão.Maria Helena, que deixou a rua em 1996 para viver no Brooklin, na zona sul, conta que foi muito bom retomar contato com amigos como Ana Teresa de Sousa e Castro. de 43 anos, que achou no Orkut. Ana, por sua vez, diz que os encontros preservam amizades e reavivam memórias. A historiadora diz, porém, que essa experiência não deve ser motivo de saudosismo - hoje as crianças se reúnem com amigos em condomínios. Para ela, não é melhor nem pior - trata-se apenas de uma mudança na realidade da "turma do bairro".

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