A memória da Revolução de 32 nas ruas de SP

Palco e testemunha do movimento constitucionalista, a capital paulista guarda lembranças da época em diversos endereços

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Por Edison Veiga
Atualização:

Edifício Ouro pra o Bem de São Paulo - Rua Álvares Penteado, 23

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Inaugurado em 1939, este edifício foi erguido com o dinheiro das joias e alianças que paulistas doaram à causa constitucionalista. “Para sustentar a revolução constitucionalista foi criada pela Associação Comercial de São Paulo a campanha Ouro para o Bem de São Paulo. Por meio dessa campanha as pessoas doavam suas joias e principalmente suas alianças de casamento à causa constitucionalista”, explica o historiador e arquiteto Paulo Rezzutti, da empresa Turismo na História - que oferece um tour temático da Revolução de 32 neste 9 de julho. “Com o fim da revolução, antes da entrada dos vitoriosos em São Paulo, a Associação Comercial, com receio de que o ouro fosse confiscado pelo governo Vargas, o doou para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Que construiu diversos edifícios, entre estes o prédio Ouro para o Bem de São Paulo.”

Em estilo art déco, sua fachada procura representar a bandeira paulista, em que cada um de seus andares corresponde a uma das 13 listas da bandeira paulista. A parte da edificação que lembra um mastro onde a bandeira tremula mostra de maneira estilizada os anéis de casamento doados para a campanha.

Barão de Itapetininga, antigo número 70, esquina com a Praça da República

Foi ali que ocorreu a célebre manifestação de 23 de maio de 1932, que terminaria com quatro mortos - sendo três no local: Euclides Bueno Mirgaia, Antonio Américo de Camargo Andrade e Mário Martins de Almeida. Um jovem de 14 anos, Dráusio Marcondes de Sousa, atingido durante a troca de tiros, morreu 5 dias depois. “Originando aí, pela união das siglas de seus nomes e sobrenomes, a sigla M.M.D.C (Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo)”, contextualiza Rezzutti.

Um decreto do governador Pedro de Toledo, datado de agosto do mesmo ano, oficializou o MMDC como entidade do movimento constitucionalista.

Barão de Itapetininga, onde ocorreu a célebre manifestação de 23 de maio de 1932, que terminaria com quatro mortos Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Pátio Interno da Faculdade de Direito de São Paulo/USP

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Logo que acabou o movimento revolucionário de 1932, a escultora Adriana Janacópulos (1897-1978) recebeu a encomenda de três monumentos para a Universidade de São Paulo, em homenagem aos estudantes mortos. “Um deles ficou numa das famosas arcadas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. O conjunto escultórico conta com um busto de um jovem no momento em que recebe uma bala e morre simbolizando os acadêmicos mortos. Abaixo da escultura, no granito negro pintado em cores vermelhas lemos a mais triste das famosas quadras acadêmicas "Quando se sente bater/no peito heroica pancada/ deixa-se a folha dobrada/ enquanto se vai morrer..."”, diz Rezzutti.

Palácio Campos Elíseos

Na noite de 9 de julho o interventor federal Pedro de Toledo (1860-1935) foi pego de surpresa pelo seu secretariado. Era uma reunião, sem que ele tivesse convocado. Ali, foi informado que estava em andamento uma luta armada contra o governo de Getúlio Vargas. Sob pressão, Toledo aderiu à causa - e, de interventor, passou a conduzir o confronto e o processo de rompimento com o governo federal. No mesmo dia, ele foi aclamado governador de São Paulo. No dia seguinte, uma multidão de paulistas foi até o Palácio dos Campos Elíseos: era um apoio ao novo governador.

Rua MMDC, no Butantã

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Na toponímia paulistana, não são poucas as homenagens à Revolução de 1932. No Butantã, há a Rua M.M.D.C. “Essas iniciais lembram os quatro rapazes que, em 23 de maio de 1932, foram sacrificados no conflito deflagrado nas proximidades da Praça de República: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo”, atesta o Dicionário de Ruas, do Arquivo Histórico Municipal. “Logo após o início da Revolução de 9 de julho, essas iniciais serviram de designativo a uma das mais eficientes organizações de guerra e que os melhores serviços prestou aos combatentes e à população de São Paulo.” Também vale ressaltar a Avenida 23 de Maio, cuja data marcou o início dos combates, e a própria Nove de Julho. Na Vila Clementino, a Rua Pedro de Toledo homenageia o governador do Estado na época. No Mandaqui, há a Praça General Bertholdo Klinger. General Isidoro Dias Lopes emprestou seu nome a uma rua de Santana.

Casa Guilherme de Almeida

No sobrado de 230 metros quadrados onde viveu o poeta, advogado, jornalista, crítico de cinema, ensaísta e tradutor Guilherme de Almeida (1890-1969) há muito a ser visto sobre a Revolução de 1932. Residência de Almeida de 1946 até a sua morte, a casa-museu guarda muitos de seus objetos pessoais - entre eles, alguns que aludem ao movimento constitucionalista, cuja causa foi defendida ardentemente por ele. Estão ali a arma que ele usou, quando se alistou na “guerra paulista”, e o seu capacete.

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Casa Guilherme de Almeida guarda objetos usados no combate Foto: GABRIELA BILÓ/ESTADÃO

Obelisco do Ibirapuera

Oficialmente, se chama Obelisco Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932. O popular Obelisco do Ibirapuera, monumento erguido para celebrar a memória dos que morreram no movimento constitucionalista, foi reaberto ao público em dezembro de 2014, depois de ficar fechado por 12 anos. Do lado externo, algumas esculturas precisaram ser reconstruídas e o monumento passou por uma limpeza geral intensa. No subsolo, o trabalho foi geral. Ali estão os restos mortais dos estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (que deram origem ao famoso acrônimo MMDC), do jornalista Guilherme de Almeida (o Poeta de 32), do jurista Ibrahim de Almeida Nobre (o Tribuno de 32), do agricultor Paulo Virgínio (o Herói de Cunha) e de outros 713 ex-combatentes, cujas cinzas ficam guardadas em columbários. 

Praça do Patriarca

Em 24 de maio de 1932, a Praça do Patriarca foi palco de um grande comício dos revoltosos contra o governo federal. A convocação se espalhou por panfletos pela cidade. “Dos estudantes ao povo de São Paulo. Depois dos acontecimentos de ontem, nenhum paulista pode deixar de atender ao apelo de São Paulo”, dizia a mensagem. “Viva São Paulo livre!”

A surpresa, entretanto, veio no meio do evento. “De um avião voando perigosamente a baixa altura descem cópias do manifesto do coronel Ávila Lins, comandante interino da II Região Militar”, conta Hernâni Donato, no livro História da Revolução de 32. “O pronunciamento é tão evasivo quanto os discursos dos outros chefes militares: as tropas federais ‘não permitem que elementos quaisquer perturbem a ação enérgica e patriótica do Governo Revolucionário em prol da manutenção e organização do Governo Paulista’”.

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