A jovem arquiteta que transformou lixão em parque em favela de São Paulo

Ester Carro desenvolve desde 2017 o projeto Fazendinhando, que vem mudando as feições do Jardim Colombo, no Complexo de Paraisópolis

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Por Gonçalo Junior
Atualização:

Quando era pequena, Ester Carro não conseguia entender por que as paredes de sua casa, no Complexo de Paraisópolis, não tinham revestimento. De vez em quando, um ou outro rato conseguia entrar pelos buracos na estrutura, visitas nada agradáveis para uma criança. 

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Ela também ficava inconformada a cada vez que o Córrego Itararé transbordava no Jardim Colombo – um trecho de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, onde sobravam problemas e faltavam áreas verdes para brincar. 

A angústia e a indignação foram se transformando em força enquanto ela crescia. Força para alterar sua realidade e, com isso, proporcionar mudanças no entorno. Sonho que ela realiza desde 2017 com o projeto Fazendinhando, que vem garantindo avanços importantes no urbanismo e na comunidade. 

A influência dos pais foi decisiva nessa trajetória que levou uma jovem da periferia a virar arquiteta e ativista urbana. Ex-pedreiro e ex-atleta profissional, Ivanilson de Oliveira sempre foi atuante na União dos Moradores do bairro e levava Ester às reuniões do Conselho Gestor com o poder público. A mãe, Gabriela, trazia das casas onde trabalhava como doméstica revistas de decoração e arquitetura.

Durante pandemia, projeto investiu na capacitação de moradores Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ester entrou nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e não desistiu mesmo quando ficou grávida e precisou trancar a graduação por um semestre, quando o filho nasceu. “Só porque fui mãe aos 19 anos não significa que meu mundo fechou. Sei o quanto é difícil, mas sou prova de que não é impossível”, diz Ester, hoje com 26 anos.

Com o conhecimento adquirido, era hora de ajudar a resolver os problemas do Jardim Colombo. Ester organizou o Fazendinhando, nome que faz referência ao antigo lixão que, décadas atrás, servia para criação de vacas e cavalos. A iniciativa teve uma inspiração: a comunidade Sitiê, no Vidigal, zona sul do Rio, e seu projeto premiado internacionalmente. 

O primeiro passo para a revitalização da área foi a remoção do lixo. Mutirões retiraram quase 40 caminhões de resíduos do terreno de 1.000 metros quadrados. Foram dois anos de trabalho com voluntários até a área virar um parque que hoje recebe eventos e cursos. 

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A arquiteta Ester Carro (no centro) ao lado dos integrantes do movimento: Kamilla Bianca Amaral e Silva (coordenadora e Comunicação, à esquerda), Rafael Augusto e Silva (camisetabranca, Mídia) e Paulo Balbino (mestre de Obras) Foto: Taba Benedicto / Estadão

NOVOS PASSOS

No mês passado, Ester conheceu Medellín, cidade colombiana que deixou o passado ligado ao tráfico de drogas para virar referência em transformação social. Agora, ela quer incorporar ao projeto parte das inovações que viu. “Por que não podemos ter arquitetura de qualidade nas favelas?”

Durante a pandemia, o projeto passou a investir também em ações de capacitação dos moradores, principalmente das mulheres. Oitenta conseguiram certificados após aulas virtuais – vídeos enviados por WhatsApp por profissionais voluntários – em áreas como gastronomia, construção e artesanato. “É possível transformar a nossa realidade. Há esperança.

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