
26 de agosto de 2012 | 03h10
"Eu só soube depois", diz Ruth, lembrando do telegrama que recebeu na então Tchecoslováquia. Antes, estava na Saxônia, perto de Dresden, cidade arrasada por bombardeios aliados. Wally estava na Polônia, refugiada com o caçula, Winfried Michael, nascido na Alemanha em 1941, quando Bruno foi convocado para lutar no Exército. Ele acabou encerrando sua participação na guerra como prisioneiro dos canadenses na Bélgica - onde também havia ficado preso na 1.ª Guerra Mundial. Depois da notícia da morte de Hans, Ruth recebeu autorização para se juntar à mãe em território polonês. De lá, elas voltaram a Berlim, onde estavam os soviéticos.
Os Hoppe acabaram no centro do maior conflito bélico da história por alguns acasos. Funcionário do Banco Alemão Transatlântico no Rio, Bruno resolveu, em 1939, aproveitar os três meses de férias aos quais tinha direito, a cada três anos, para visitar parentes em Berlim. No ano anterior, havia morrido o avô de Ruth e Bruno se preocupava com a mãe. O navio Monte Olivia deveria sair em 12 de julho, mas só pôde zarpar em 8 de agosto de 1939, por causa de problemas no Porto de Santos. Ia para Hamburgo. Em 1.º de setembro, quando tropas alemãs invadiram a Polônia, iniciando o conflito, o navio ainda não havia chegado. Diante da notícia, parou em Roterdã, na Holanda. Todos desceram e, após liberada pela polícia, a família seguiu por rio e depois de carro e a pé. Nem cogitaram voltar: Bruno queria seguir e Wally não quis deixar o marido.
"Ia ser blitzkrieg, ia ser rápido", conta Ruth, que tinha 9 anos na época. Em Berlim, a família se estabeleceu no bairro Grünewald, onde comprou uma casa. Bruno foi convocado pelo Exército e dispensado, por supostos problemas de saúde - médicos achavam que, por viver em país tropical, seu coração poderia estar comprometido. Designaram-no para trabalhar na distribuição oficial de trigo, um serviço civil, mas em 1943, quando a guerra "apertou", foi chamado a lutar. Foi para a então União Soviética trabalhar no treinamento de adolescentes de 16 anos. "Ele escreveu para minha mãe: 'Essas crianças de colégio já têm de botar uniforme e começar a combater'." Encerrada a guerra, Wally e Ruth, que tinham voltado com o pequeno Winfried para a casa de Grünewald - então bastante danificada pelos bombardeios -, ficaram meses sem notícia de Bruno. Uma noite, entre o Natal e o Ano-Novo de 1946, um desconhecido de capote pesado bateu à porta. "Aqui mora Frau Hopper?", perguntou, em alemão, no escuro. Embora a casa ficasse no então setor britânico de Berlim, havia o temor de incursões de soldados russos, cuja fama era péssima, pelas acusações de saques e estupros. "Bruno, é você?", perguntou Wally. Era.
Em 1948, a família retornou ao Rio no navio Santarém. Atrás de Ruth, veio um soldado inglês, Alfred Hulme, que a conheceu durante a ocupação e lhe escreveu 193 cartas de amor. Os dois acabaram casados. Na época, o País repatriou 5.885 brasileiros que, como os Hopper, passaram a 2.ª Guerra Mundial na Europa. Essa foi uma das principais iniciativas da Missão Militar Brasileira em Berlim, que funcionou de 1946 a 1950. Cálculos extraoficiais apontam que algumas centenas de brasileiros, sobretudo descendentes de alemães e italianos, lutaram pelas potências do Eixo na 2.ª Guerra. Listas com dezenas de nomes foram compiladas pela missão militar. Estão arquivadas no Itamaraty. / W.T.
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